A lua foi companheira Na praia do Vidigal Não surgiu, mas mesmo oculta Nos recordou seu luar Teu ventre de maré cheia Vinha em ondas me puxar Eram-me os dedos de areia Eram-te os lábios de sal.
Na sombra que ali se inclina Do rochedo em miramar Eu soube te amar, menina Na praia do Vidigal... Havia tanto silêncio Que para o desencantar Nem meus clamores de vento Nem teus soluços de água. Minhas mãos te confundiam Com a fria areia molhada Vencendo as mãos dos alísios Nas ondas da tua saia. Meus olhos baços de brumas Junto aos teus olhos de alga Viam-te envolta de espumas Como a menina afogada. E que doçura entregar-me Àquela mole de peixes Cegando-te o olhar vazio Com meu cardume de beijos! Muito lutamos, menina Naquele pego selvagem Entre areias assassinas Junto ao rochedo da margem. Três vezes submergiste Três vezes voltaste à flor E te afogaras não fossem As redes do meu amor. Quando voltamos, a noite Parecia em tua face Tinhas vento em teus cabelos Gotas d'água em tua carne. No verde lençol da areia Um marco ficou cravado Moldando a forma de um corpo No meio da cruz de uns braços. Talvez que o marco, criança Já o tenha lavado o mar Mas nunca leva a lembrança Daquela noite de amores Na praia do Vidigal.