À gravadora chilena Graciela Fuenzalida que trocou o mundo por Sabará
A um grito da Ponte Velha Existe a "Pensão das Gordas" (Cantou-as Mário de Andrade!) Em Sabará. Na alpendrada Sobre o rio que escorrega A pensão mira a cidade Ladeira acima. Na Páscoa As quaresmeiras da serra São manchas roxas de mágoa E de manhã bem cedinho A névoa pousa na terra Como uma anágua de linho. A cidade se espreguiça Nas cores do casario Que vive a pular carniça Nas rampas de beira-rio. E é doce vê-la sorrindo Aos anjos do Aleijadinho Que na portada do Carmo Com bochechas inchadas Assopram, de tanto frio. Há paz na velha cidade Uma paz de fazer longe... A não ser na identidade De certa dona chilena Uma de rosto de monja Corpo seco, tez serena E que, na "Pensão das Gordas" Onde há seis anos assiste Desde o momento em que acorda Vive, e nem sabe que existe Entalhando na madeira As horas mais dolorosas Da Paixão de Jesus Cristo. Atende por Graciela Mas não atende a ninguém Que não tenha como ela A grande paixão do bem. Sempre fechada em seu quarto Mesmo à feição de uma freira As suas dores do parto Doem na carne de madeira Onde ela entalha o fervor De tudo o que há de mais casto O rebanho e o bom pastor O burrinho no seu pasto. E às vezes, na nostalgia Quem sabe, do mundo fora Grava com luzes de aurora Com milagres da poesia.
O viajante que passa Itinerante por lá Não se espante se, na aurora Ou à luz crepuscular Vir o vulto iluminado De um belo arcanjo pousado Guardando a casa onde mora A santa de Sabará.