De posse deste amor que é, no entanto, impossível Este amor esperado e antigo como as pedras Eu encouraçarei o meu corpo impassível E à minha volta erguerei um alto muro de pedras.
E enquanto perdurar tua ausência, que é eterna Por isso que és mulher, mesmo sendo só minha Eu viverei trancado em mim como no inferno Queimando minha carne até sua própria cinza.
Mas permanecerei imutável e austero Certo de que, de amor, sei o que ninguém soube Como uma estátua prisioneira de um castelo A mirar sempre além do tempo que lhe coube.
E isento ficarei das antigas amadas Que, pela Lua cheia, em rápidas sortidas Ainda vêm me atirar flechas envenenadas Para depois beber-me o sangue das feridas.
E assim serei intacto, e assim serei tranqüilo E assim não sofrerei da angústia de revê-las Quando, tristes e fiéis como lobas no cio Se puserem a rondar meu castelo de estrelas.
E muito crescerei em alta melancolia Todo o canto meu, como o de Orfeu pregresso Será tão claro, de uma tão simples poesia Que há de pacificar as feras do deserto.
Farto de saber ler, saberei ver nos astros A brilharem no azul da abóbada no Oriente E beijarei a terra, a caminhar de rastros Quando a Lua no céu contar teu rosto ausente.
Eu te protegerei contra o Íncubo Que te espreita por trás da Aurora acorrentada E contra a legião dos monstros do Poente Que te querem matar, ó impossível amada!