Marina Colasanti é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira nascida na então colônia italiana da Eritreia.Viveu sua infância na Líbia e então voltou à Itália onde viveu onze anos.
Na savana da tv a fêmea de leopardo vai à caça. Aumento o som para alcançar o vento granulado que bate o mato ralo. Há uma impala que pasta com sua cria um cheiro que não sinto e que lhe chega afiando as orelhas. A impala é uma cabeça atenta em contraluz. E na luz areia sobre areia avança rastejando o dorso maculado. Zoom para a impala em fuga rasgados verdes guinchos e o torvelinho em bote sobre a carne. Um corte poupa o sangue areia e silêncio amortalham a imagem dois olhos de sol coado brilham vitoriosos. A tela devolve o filhote de impala morto na boca da leoparda.
Pendente vai o pequeno impala entre dentes filho que era agora repasto levado para outros filhos que esperam. Uma manada de elefantes atravessa o caminho com barridos e abanadas orelhas. Altiva a caçadora segue caminho. Que se respeite a fêmea que leva comida para casa.
Por trás dos créditos que sobem enquanto ela se afasta eu me vejo caçadora urbana como ela em busca de comida para os meus quando pela calçada da volta com a presa nos sacos do supermercado passo pelos traficantes da favela ao lado e sigo sem alterar o rumo ou desviar o olhar.