Marina Colasanti é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira nascida na então colônia italiana da Eritreia.Viveu sua infância na Líbia e então voltou à Itália onde viveu onze anos.
Era um banheiro o que eu queria naquela praça aplastrada de sol não uma andorinha morta. Tirar a poeira das sandálias molhar a testa e os pulsos qualquer torneira serviria. Mas sentei à sombra da árvore e da sombra colhi o fruto cego fervente de formigas.
Uma andorinha morta não está entre aquelas que na infância fingíamos buscar na estação em princípios de maio para dizer "a primavera chegou", migrantes vindas da África - como eu portadoras de cheiro de deserto e invisível areia nas asas.
Uma andorinha morta não volta com o sol ao próprio ninho como as que vi no Estoril barreando casa entre telha e calha a mesma casa e telha a mesma calha antes entregue ao outono.
Talvez seja daquelas que em céus romanos já não traçam o ideograma de suas asas porque no campo todos os insetos tombaram a poder de agrotóxico e elas não têm mais o que comer.
Uma andorinha morta é irmã e a mesma que pousou junto à estátua do Príncipe Feliz mensageira traída pelo afeto e pelo frio despojo a ser descartado num dia e incorporado no outro ao imperecível coração de chumbo.
Era água o que eu queria mas entre goles de sol uma andorinha fez seu ninho em mim.