Lasana Lukata

Lasana Lukata

Lasana Lukata é poeta e escritor nascido em São João de Meriti, 14 de março de 1964, Dia Nacional da Poesia, na antiga Estrada de Minas; oriundo de família de pedreiros, foi marinheiro de um navio contratorpedeiro que afundou nas águas de Durban a caminho da Índia ao ser rebocado para desmanche.

1964-03-14 São João do Meriti
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Alguns Poemas

ao leitor

venho de uma família de pedreiros...

meu pai levantava casas para os outros,

de segunda a sábado regendo aquela orquestra

de sons desagradáveis com marretas, ponteiros, talhadeiras

e no domingo serrávamos a melancolia, as tábuas para o nosso barracão,

no serra-serra mostrava meninas me olhando

e, como ostra que copula com o rochedo,

subia-me às narinas uma influência de flor abraçada ao serrote.

meu pai levantava casas para os outros,

levantava por cima de tudo a afirmação pela vida.

por necessidade estivemos em consonância com as pedras,

rodando de verso em verso até perdermos as pontas.

meu pai amava as letras,

mas meu avô não permitiu esses namoros.

venho de uma família de analfabetos,

de tempos apagados,

não sei o que erguemos no passado,

o que derrubamos,

se quebramos estátuas buscando status,

se levantamos paredes ao redor de jardins,

se erguemos o muro da caverna de Platão...

já estivemos a caminho do desmanche, da ruína, como um navio;

sobrevoaram-nos corujas, garças, pousaram, nidificaram.

às vezes é preciso derrubar-se, passar pela loucura, nascer-se outro,

levantar-se dos escombros como Nabucodonosor...

Cristo derrubou-se em três dias,

meu pai levantava casas em dois meses,

meu pai levantava casas para os outros,

podava pedras, metal, ferro para os outros,

para os outros não ficava uma aresta,

a nós a fresta onde entrava o vento frio,

a poesia congelada...

ficou a lição - meu pai levantava casas para os outros-,

eu construo versos com você.

e que Netuno em raiva, com tridente, já não diga: haja pedras.
Lasana Lukata é poeta e escritor nascido em São João de Meriti, 14 de março de 1964, Dia Nacional da Poesia, na antiga Estrada de Minas; oriundo de família de pedreiros, foi marinheiro de um navio contratorpedeiro que afundou nas águas de Durban a caminho da Índia ao ser rebocado para desmanche. (D37 Contratorpedeiro Rio Grande do Norte). Coincidentemente, a vida de Lukata também afundou, de servidor federal caiu para estadual, hoje é servidor público da Prefeitura de São João do Meriti como trabalhador braçal, mas se afundaram o navio e o homem de guerra, emergiu o poeta, participando da Oficina Literária ministrada pelo poeta Ferreira Gullar em 2001, na UERJ, resultando na Antologia Poética “Próximas Palavras”; cursando Literaturas Portuguesa e Africanas de Língua Portuguesa, UFRJ. obras publicadas: Meu Cartão Vermelho (crônicas), Multifoco, 2010, Caçada ao Madrastio (crônicas, 2010), Exercício de Garça, Íthacas, 2011 (Poesia); Separação de Sílabas, 2011 (poesia) Virtualbooks; Urdume (Poesias), editora Multifoco, 2013; Homem ao Mar, (Contos), Livros Ilimitados, 2014, Setênfluo (Poesias), editora Livros Ilimitados, 2014, Garça na janela (poesias), editora livros Ilimitados, 2015; pássaros sem pressa, 2016(poesias), Mergulho, poesias, 2017, editora Livro Rápido; Garça sem voz, poesias, 2018

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