Pedro Paiva

Pedro Paiva

1962-06-29 Altos - Pi
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Alguns Poemas

O SANFONEIRO

              Milton, pé de forró e puxador de fole, percorria toda a vizinhança desde as Mangabeiras até às Barras do Gameleira tocando em festas e matinês. Sujeitinho do tipo franzino, canelas de seriema. 
       Era tal qual um sibito. A voz estrídula e desafinada se contrapunha a habilidade dos dedos finos e magricelas no acordeão de oito baixos que o pai lhe presenteara quando Milton ainda era criança tamanho fosse o talento do capetinha no manejo da sanfona.
      A fama de Milton logo se espalhou por toda a redondeza. Não demorou muito para correr o boato de que o sanfoneiro Milton tocava em duas festas ao mesmo tempo. Tal era a fama do Milton que curiosos de todos os cantos dos Altos de João de Paiva vinham para o São Joaquim só pra ver o Milton tocar o fole. Alarmados com o que viam e ouviam não tinham dúvida: tamanha habilidade no manejo do acordeão só podia mesmo ser coisa do cabrunco com quem o Milton, segundo as más línguas, tinha feito um pacto de sangue. 
       Certo dia, Venancim, caixeiro viajante e tomador de pinga, resolveu tirar essa história a limpo. De passagem pela Canabrava dos Delmiros e do São Pedro dos Fortes, se juntou aos colegas Ciço Badoso e Pedro Fortes e foram ao Jatobá ver o cumpade Milton que naquela noite tocava por lá.  
       Chegando ao local do adjunto, os três resolveram confirmar se era mesmo o 'cumpade' Milton quem estava animando a festa. Os três pés-de-valsa entraram no salão, cumprimentaram o tocador e até pediram pra Milton tocar o forró a ema gemeu no tronco do juremá e só depois disso resolveram descer lá pras bandas das Mangabeiras onde outro arrasta-pé rolava solto.
        Ao se aproximarem do lugarejo, de   longe, viram o terreiro apinhado de gente bebendo, fumando e conversando enquanto, lá dentro do barracão de palha, lotado de dançarinos, o fole gemia num soluço bem parecido com a tocada do 'cumpade' Milton. 
       Porquanto estranhassem bastante aquela batida e como já viviam cismados com a história do 'empautamento', resolveram tirar as provas dos noves. Entraram no salão e, quando viram que o Milton estava tocando, ficaram acabrunhados e os três pés-de-valsa, que costumavam chamar atenção de todos nos arrasta-pés da região e adjacências pela maleabilidade, malemolência, requebros e gingas corporais na arte da dança, naquela noite foram para casa se recomendar a Deus já que tinham visto e conversado com o capeta encarnado num dos tipos do sanfoneiro.
       Por muitos anos ficaram se perguntando qual daqueles entes era o Milton e qual deles era o dito cujo.
 
Comentários do autor:
      Este é um conto verossímil cujo enredo foi-me narrado pelo saudoso amigo Ciço Badoso que o conheci nas minhas andanças pelos rincões altoenses e com quem tive a grata satisfação de compartilhar saudáveis e pujantes laços de amizade. 
     Já o Pedro Fortes, latifundiário e morador da localidade São Pedro, foi um homem benquisto, conhecido, respeitado e admirado por todos os moradores do povoado São Pedro e das localidades vizinhas. Em sua residência costumava receber a todos com distinção, prestimosidade e gentileza. 
       Nascido em Altos- PI. Graduado e Pós-graduado em Letras/Português, Ciências Contábeis, Administração de Empresas, Administração Pública. Pedro Paiva é professor de Portugês,  Literatura, Redação, Direito, Economia, Contabildiade, Estatística, Empreendedorismo,  Administração Financeira e Administração da Produção dos cursos de Administração, Contabilidade, Comércio e Informática. Exerceu os cargos de Gerente de Suporte do Banco do Brasil S.A,  Presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Secretário Municipal de Administração, Secretário Municipal de Educação. Premiado em 1º lugar no I Concurso de Crônicas e Poesias Mário Quintana, promovido pela AABB, de São Paulo. Premiado em 2º lugar no Concurso Mostrando Poesia, promovido pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, campus de Campo Maior PI. Ex-Prefeito. Membro-fundador da Academia de Letras e Línguas Nativas Altoenses - ALLNA, ocupando a cadeira nº 03 que tem como patronesse Josefa de Paiva Macedo. Participação na coletânea CONTOS DE TERROR ALTOENSES. Autor da antologia poética AMOR PRA VIDA INTEIRA (prelo).

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