PRIMEIRA TENTATIVA
PRIMEIRA TENTATIVA
Quando ainda o sol não tocava o horizonte naquela terra árida e desértica, onde os dias pareciam todos iguais por não haver um movimento das grandes metrópoles, estava eu ali sendo despertado pela voz rouca e firme “levanta que já estou saindo”. Havia me esquecido do compromisso feito no dia anterior diante de algumas testemunhas que ao me ver na cama depois das cinco iriam me ridicularizar por não ter cumprido o combinado. Então dei um salto um pouco tonto e pensando, falei demais, mas resoluto no compromisso.
Levantei, escovei os dentes, olhei para o espelho e de supetão veio um pensamento: - será que darei conta dessa empreitada? Dei um sorriso maroto para mim mesmo refletido no espelho como se desse ânimo aquele que estava do outro lado e pensei: - Lógico, sou esperto e inteligente, isso não será nada.
Ao sentar-me à mesa para tomar o café da manhã, peguei o pão e a manteiga, esta produzida ali mesmo, e quando foi cortar o pão caseio um sorriso como de repreensão dizendo: - se fosse você não comeria apenas o pão. Nessas palavras tinham apenas uma sugestão, mas um conselho de quem já esta experiente em busca de cabrito no mato. Fiquei assustado com essa fala porque o sol já estava nos esperando ali na porta para sugar toda nossa energia.
Então segui o conselho, peguei o pão, passei manteiga, coloquei um prato sobre a mesa junto com um garfo e me rendi ao desejum do sertanejo. Coloquei duas colheres de cuscuz que ainda saia uma fumaça que aumentava o desejo de come-lo. Sobre o cuscuz, coloquei uma película de requeijão artesanal, produzido ali mesmo, que derreteu sobre a massa quente de cuscuz formando aquela liga que ao levar à boca fazia uma teia entre a boca e o prato. Ao lado do prato, uma xícara de café meio amargo que harmonizava com aquela refeição.
Já meu companheiro de busca não cedeu ao requeijão, mas junto com o cuscuz colocou uma buchada de bode que em minhas narinas não tinha um cheiro bom, mas a boca cheia e a satisfação daquele homem dava para perceber que era a melhor refeição do mundo.
Depois de nos fartarmos fomos nos preparar para essa busca. Corri no quarto, coloquei minha bermuda de passeio na cidade, uma camiseta bem leve para não sentir muito calor, passei protetor solar para evitar que minha pele sofresse com o sol, calcei meu tênis Nike que me trazia um conforto para a busca. Ao sair do quarto todo preparado dei de cara com meu companheiro que estava de chapéu, calça jeans surrada pelo tanto uso, bota com solado de pneu nos pés, camisa com manga longa amarrada no punho. Olhamos um para o outro e percebi que havia uma inadequação de look entre nós. Não sabia se ele estava exagerando ou eu que estava sendo inocente em desconsiderar o que iríamos fazer naquela manhã.
Sem arrodeia, como todo homem da terra, me disse: - Tira essa roupa. Você não irá aguentar meia hora assim. Se já estava assustado, nesse momento fiquei sem chão. Ele de imediato foi ao guarda-roupa e pegou uma de suas roupas e me disse: -Vista isso.
Voltei para o quarto e me troquei. Coloquei uma calça surrada, uma camisa longa amarrada no punho, um chapéu de couro e nos pés um tênis velho com uma palmilha de couro para aguentar o caminho que faríamos. Estávamos como cano de garrucha, iguaizinhos.
Preparados na vestimenta, pagamos uma corda, um pouco de milho colocado num saco e uma garrafa com água e saímos pela porta da frente da casa. Mas antes de sair, passei a mão num prego que estava fixado na parede pegando a chave do carro para cumprir meu compromisso. Ao me ver ir em direção ao carro meu companheiro disse: - onde você vai? Então disse: -Vou pegar o carro para irmos! Ele sorriu e disse: - Não tem como chegar lá com carro, precisamos ir a pé. Esse “lá” na fala do meu companheiro era onde a cabra se encontrava esse “lá” é um rochedo onde ela se escondia, esse “lá” era cinco quilômetros.
Olhando firme para ele pensei: - me ferrei. Voltei e deixei a chave no mesmo lugar que havia encontrado, só que agora com o semblante diferente do anterior. Nisso o sol, como que um sorriso, olhava para mim e dissesse: - Agora serei seu companheiro!
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