E a nave não vai

Não vou te tocar, te abraçar, nunca!
Jamais irei beijar-te os lábios.

O teu corpo estará sempre distante, inacessível
como um continente após o abismo dos oceanos.

Jamais serei um navegante audacioso
(desses que não acreditam em abismos de mares findos).

Estás lá, para além dos meus horizontes
e nem tomas conhecimento
do teu remoto e pretenso descobridor
que em ti lança âncoras
e te dá nomes de flores, de deusas, de musas.

Descubro-te todos os dias santos e santos dias;
dias que excedem minha vida insuficiente e medíocre
em que me faltam gestos e me sobra sono e expectativas vãs.

Não! Nunca irei te ter por perto;
receber de ti um olhar terno;
despertar em ti qualquer sentimento ou desejo.

Jamais acrescentarei um batimento sequer
aos do teu coração.

Contentar-me-ei em sonhar-te;
postar-me no topo do mastro e amar-te...

...até que o mar te traga ou me trague.
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