Garça descontrolada
diante do mar,
o homem de terno e gravata
põe a pata leonina no cais.
sílabas tangidas, constrangidas
pelo aguilhão da sua caneta,
assim a marcha da linguagem,
ninguém dirige minhas palavras.
seguranças à volta,
persuarde-o o azul,
mira indistinguíveis andorinhas
e abona a violência da gaivota
que explode no ar.
excitam-no as fragatas,
aves-de-guerra, piratas-do-mar,
garças do governo,
com a estrutura cristalina
do hábito de roubar, assediar
até à rendição e as aves perseguidas
regurgitem o peixe.
faz apologia do sangue
no bico do polvo,
no bico das aves de rapina.
diante da fêmea,
plumas da fama,
esplêndidas cores,
altivamente exibidas,
subcorrem horrores
das subcorrentes,
delitescências,
por baixo de outras,
opostas ao povo.
um país em contato
com águas turvas
deliquesce.
diante do mar,
o homem sem paletó e gravata
encolhe a pata como uma garça,
se inspira nas proas cortando a água,
abissais inspirações, faz-se de surdo
para o Poema dos Lázaros
que só ganham retalhos para cobrir as feridas,
feridas corcundas.
olhos de águia-marinha
para além da ponte e horizonte,
no bolso, em prontidão,
a caneta oportunista, generalista,
caçadora, predadora,
capaz de capturar outras canetas-
roubar suas presas-,
uma caneta com bico ensanguentado.
LASANA LUKATA
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