

Filipe Marinheiro
Nasceu em Coimbra, 30 de Julho de 1982. É natural e reside em Aveiro.
Poeta.
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«Noutros Rostos» IV
dever-me-iam ter dito que não existo e que nunca existi
neste mundo
ou antes um fragmento suspenso da escuridão estalasse a voz
ardente espalhando a criação na boca adentro
a boca purificaria as veias silenciosas das mãos a boca esmagaria
a ardência da carne a cantar bem perto no fundo do sangue
as células do sangue mover-se-iam entre o universo e a fala
rasgariam as palavras eternas desta boca tão feliz
jamais me deveriam ter dito coisa alguma
talvez me pudessem ter dito para eu correr absorto
todo nu sem voz submersa no meio da carne pura
a esconder-me dos gemidos da noite calva
os gemidos a esconderem-se de mim distraídos
e os movimentos amplamente puros cheios de luz e pó
passariam a água sobrenatural
como sombras transformadas a arranhar esta doida cabeça
dever-me-iam ter dito que os mortos caçam as manhãs
as tardes as noites – as horas em inércia
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