DEVANEANDO
Desejaste-me sonhos bonitos
Tive-os, sabes?
Estávamos à mesa
o criado falava comigo
e eu olhava-te enfeitiçado
Nem o ouvia
A sua voz estava ao nível
da estática do silêncio
Teus olhos ecoavam harmonias
e teus lábios as melodias
que te harpejavam no peito
- Só um minuto!, disse-lhe
com sorriso contrafeito
Olhámos a lista
Escolheste linguado com mexilhões
e molho "Bechamel"
Eu, filetes com vinho do Porto
Para beber um Pinot Grigio di Pavia
(o jovem tomava nota, diligente,
o mar rebentando no molhe
salpicava o horizonte de espuma
Disse uma laracha e em teus lábios
um sol iluminou a bruma
Para sobremesa escolheste
tarte de maçã com passas
Eu, uma mousse de caipirinha
(imaginei-te assim por debaixo
Paguei a conta e saímos
Bebemos café alhures
Beijávamo-nos quando
- Horrores! -
saídos de nenhures
pulavam três amores
(na cama em que te amo
Luís Soares Eusébio
Tive-os, sabes?
Estávamos à mesa
o criado falava comigo
e eu olhava-te enfeitiçado
Nem o ouvia
A sua voz estava ao nível
da estática do silêncio
Teus olhos ecoavam harmonias
e teus lábios as melodias
que te harpejavam no peito
(pousaste a tua mão na minha
alertando-me para o jovem
de calça preta e casaco branco)
- Só um minuto!, disse-lhe
com sorriso contrafeito
Olhámos a lista
Escolheste linguado com mexilhões
e molho "Bechamel"
Eu, filetes com vinho do Porto
Para beber um Pinot Grigio di Pavia
(o jovem tomava nota, diligente,
com maestria)
Olhando pela janelao mar rebentando no molhe
salpicava o horizonte de espuma
Disse uma laracha e em teus lábios
um sol iluminou a bruma
Para sobremesa escolheste
tarte de maçã com passas
Eu, uma mousse de caipirinha
(imaginei-te assim por debaixo
da calcinha)
Paguei a conta e saímos
Bebemos café alhures
Beijávamo-nos quando
- Horrores! -
saídos de nenhures
pulavam três amores
(na cama em que te amo
noites afora em lume brando)
Luís Soares Eusébio
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