Carl R.S

Carl R.S

Atualmente cursando licenciatura em filosofia, desenvolve trabalho autoral transitando por alguns gêneros textuais, principalmente com foco na escrita experimental, . Suas principais experiências são no campo das artes visuais (artes plásticas, audío visual, exposição, contra regragem, cenografia).

1976-11-23 Aracaju-SE
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Alegoria marítima (da sessão dos fantasmas)



É noite! Espero tranquilizar-me de ti, e do tanto mirar o esteio doido do pensamento a flutuar incerto esse caixote de osso feito. Perturbou-se o meu ser o mal gênio interior, e me veio de assalto o sonho, qual salteadores na obscura ramada se perdem na escuridão. Não! Sobressaltei-me de pavor! A minha frente o imponderável a atormentar, a assombrar a madrugada. Vai o espirito congelado de horror...O grito. Não! E me responde ‒ Eis-me aqui! Nada me tem a alma ‒ digo intranquilo ao meu perplexo interior.

Então de onde vem? Nada mais me tem! ‒ Penso eu ‒ quando súbito a soleira estou novamente a mirar do pórtico as figuras selvagens, a fugirem e a me atravessar. São elas que deitam trincheiras impedindo-me o retorno, perdeu-se Orfeu no meio caminho. Ficai! Ecoava a voz. Ficai nas intensidades nossas, Ficai ao que enlouquece o que antes é lucido. E de demência e delírio a criar mundos neste caixote de osso e carne, estica-se qualquer linha horizontal a compor o azul...

...Nuvens, sois, vento e mar , albatrozes, mar e terra, delfins e outras vidas marinhas a orla do meu pensar estendem-se sob minha alegoria. Vem a mim a reflexão arrolando em pequenas ondas a beira mar. Os pensamentos a minha frente tomam forma nas espumas da praia, desmanchando-se rapidamente. Um delírio, fruto da imaginação, penso eu! Não é nada!

Nesse instante o lapso! A desgraça de Ulisses e a paixão que faz vítreo os olhos dos argonautas cegando-lhe a terra a vista, a rebentar a onda o inconsciente ao rochedo a bravia costa. Me diz a voz. Aos que ensurdecem ao canto uníssono, vai a deriva a porta no meio do mar, vai se afastando aberta melancólica e inalcançável a passagem. Restam-lhe apenas o rochedo e o continuum cântico da sereias.

Antes lutavam contra o açoite das ondas e a canção do mar, agora entregam-se mortificados. Não resistem, cansam-se fatigados e náufrago do corpo e alma, de mar e terra, de terra e mar, e se lançam as trevas abissais das águas, e corroem-se em saber impossível o retorno. Canta sua ode o condenado.

‒Entrega-me o que é de direito. Dá-me pelo menos o cadáver, e deixa-me os ossos para que possa enterrá-lo em terra, pois não vai este ao mundo dos espíritos, das águas ou do onírico. Não tome-me por completo! Devolve-me as águas meu corpo a praia, de volta a melancolia dos trópicos. Afoga-me de uma vez, e deixa que os que me esperam, possam deitar água e sal sobre mim.
 
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