MYKONOS
Ei Elisa, você desceu pelas montanhas sagradas. Viria me visitar nesta terra deflorada, onde os homens estão suscetíveis a toda má sorte. No caminho, animais eretos e mascarados dançavam dando voltas e voltas ao redor da fogueira trepidante. Você se distraiu, pois você é facilmente abalada pela barbárie. Eles alimentavam-se de camundongos, aquilo seria um ritual de purificação? "As fagulhas fumegantes são como a chuva do deserto" - você pensou. Elisa, você continuou caminhando, se desvencilhando dos ganhos das árvores, andando cada vez mais rápido, até finalmente se pegar correndo no meio da mata. Os espectros noturnos lhe causavam surtos de medo momentâneos e, consequentemente, risos desconcertados depois de uma auto avaliação. "Que boba" - você dizia sussurrando. Quando você chegou ao mundo dos vivos, eu estava lá; sentado ao pé de um pinheiro vencido pelo tempo, mexendo com os pinhos carcomidos pelos fungos. Eu falava de mundos que desconhecia, de terras onde jamais poderia pisar, eu queria ser tão sagrado quanto você, contudo os seus dedos cálidos e seu hálito morno, me traziam de volta para a aridez de meus dias. Seu rosto me ignorava, como uma porta que bate ruidosamente. E ai, quando você se distanciou a passos lentos, uma nuvem de poeira cobriu-me. Meus olhos, embotados de poeira, te seguiram pelo caminho vazio, até sua presença se tornar um completo silêncio.
"Saindo da semente de sua mente rasa, toda noite?".