Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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Língua Cortada
ele mora nos fundos e aparece na minha porta
carregando a espingarda numa das mãos.
“escuta”, ele diz, “tinha um cara sentado
no seu sofá na varanda enquanto você estava
fora. agindo estranho. perguntei o que ele
queria, ele disse que queria falar com você.
falei que você não estava. você conhece um
negro alto chamado ‘Dave’?”
“não conheço ninguém assim...”
“vi esse cara na rua depois e
perguntei o que ele estava fazendo na vizi-
nhança.”
“não conheço nenhum negro alto chamado ‘Dave’.”
“andei vigiando sua casa. botei pra correr um par
daqueles alemães. você não quer saber de alemão nenhum,
quer?”
“não, Max, não gosto de alemães, franceses e sobretudo
não gosto de ingleses. os mexicanos e os gregos são
ok mas tem algo que me desagrada na expressão que eles têm no
rosto.”
“tem aparecido mais alemães do que qualquer outro tipo.”
“bota pra correr...”
“tá bom, pode deixar... quando você viaja de novo?”
“amanhã.”
“amanhã...?”
“amanhã, sim, e se você encontrar um filho da puta sentado no
meu sofá da varanda, pode estourar a porra da cabeça dele...”
“tá bom, pode deixar...”
“obrigado, Max...”
“sem problema...”
ele volta para o pátio dele nos fundos com sua
espingarda e
entra.
“meu deus”, diz Linda Lee, “sabe o que você
fez?”
“sim”, eu digo.
“ele acredita em você. quando a gente voltar vai ter
um cadáver na varanda.”
“tudo bem...”
“você não lembra quando eu tirei meu dia de silêncio?
você disse pra ele que tinha cortado minha língua... e ele
levou a sério...”
“Max é o único amigão de verdade que eu
tenho...”
“você é um cúmplice...”
“não gosto de caras não convidados sentados no meu sofá
da varanda esperando por mim...”
“digamos que seja um poeta, um cara que admira a sua
obra?”
“como eu disse, ‘Max é o único amigão de verdade que eu tenho.’
vamos fazer as malas...”
“o que houve com meu vestido verde?”,
ela pergunta.
carregando a espingarda numa das mãos.
“escuta”, ele diz, “tinha um cara sentado
no seu sofá na varanda enquanto você estava
fora. agindo estranho. perguntei o que ele
queria, ele disse que queria falar com você.
falei que você não estava. você conhece um
negro alto chamado ‘Dave’?”
“não conheço ninguém assim...”
“vi esse cara na rua depois e
perguntei o que ele estava fazendo na vizi-
nhança.”
“não conheço nenhum negro alto chamado ‘Dave’.”
“andei vigiando sua casa. botei pra correr um par
daqueles alemães. você não quer saber de alemão nenhum,
quer?”
“não, Max, não gosto de alemães, franceses e sobretudo
não gosto de ingleses. os mexicanos e os gregos são
ok mas tem algo que me desagrada na expressão que eles têm no
rosto.”
“tem aparecido mais alemães do que qualquer outro tipo.”
“bota pra correr...”
“tá bom, pode deixar... quando você viaja de novo?”
“amanhã.”
“amanhã...?”
“amanhã, sim, e se você encontrar um filho da puta sentado no
meu sofá da varanda, pode estourar a porra da cabeça dele...”
“tá bom, pode deixar...”
“obrigado, Max...”
“sem problema...”
ele volta para o pátio dele nos fundos com sua
espingarda e
entra.
“meu deus”, diz Linda Lee, “sabe o que você
fez?”
“sim”, eu digo.
“ele acredita em você. quando a gente voltar vai ter
um cadáver na varanda.”
“tudo bem...”
“você não lembra quando eu tirei meu dia de silêncio?
você disse pra ele que tinha cortado minha língua... e ele
levou a sério...”
“Max é o único amigão de verdade que eu
tenho...”
“você é um cúmplice...”
“não gosto de caras não convidados sentados no meu sofá
da varanda esperando por mim...”
“digamos que seja um poeta, um cara que admira a sua
obra?”
“como eu disse, ‘Max é o único amigão de verdade que eu tenho.’
vamos fazer as malas...”
“o que houve com meu vestido verde?”,
ela pergunta.
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