UMA ALDEIA VIZINHA

Imagino uma aldeia vizinha de Pompeia
e o assombro da erupção: um crepúsculo
forte, rútilo, escarlate, e depois a nuvem
avançando – cinza, lenta, maciça –
sem ninguém desconfiar do que ocorria
no outro lado da cordilheira
e de que a sombra que soprava
era a poeira de uma cidade desfeita.
Eis que os homens dizimados
no ar revolto, tornados fuligem,
logo revestiram a epiderme dos sobreviventes;
fantasma que se tornou nítido na manhã
seguinte, ao despertar:
em cada lençol jazia um vulto de carvão.
Depois, imagino que foi horrível se banhar.
Perceber a sujeira que se desprendia do corpo
descendo em redemoinhos, água
escura, oleosa – enfim, refratária
ao instinto da branca espuma.
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