Artur Eduardo Benevides

Artur Eduardo Benevides

Artur Eduardo Benevides é poeta, ensaísta e contista brasileiro, com mais de quarenta livros publicados. Foi eleito, em 1985, o Príncipe dos Poetas Cearenses, título já detido pelo Padre Antônio Tomás, por Cruz Filho e por Jáder de Carvalho.

1923-07-25 Pacatuba
2014-09-21 Fortaleza
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Prémios e Movimentos

Jabuti 2005

Alguns Poemas

Morreste

1.
Morreste, afinal, ó poeta geral,
ou prossegues, lívido, a cantar
à paz de teu silêncio
e ao verde-azul
do mar?
Se ponho — sim, estás vivendo em mim.
Se digo — não, contemplo-te em canção,
qual fantasma, insone, a vagar
em nossa solidão.
Se morreste, também morreu Ricardo
e Álvaro se foi, partiu Alberto.
Ou todos esses e quantos mais tu foste
— como as máscaras gregas da tragédia —
só viveram no poema, no teu verso,
pendurados na dor dos vilancetes?, no teu verso,
pendurados na dor dos vilancetes?
Pode um poeta perder o seu futuro
ou a morte não passa de interlúdio
no resfolgar fatal de seus ginetes?
E o fingimento? E todo o sal do mar
nascido das guitarras marinheiras
na hora de cantar?
Ai, cantar e chorar
são sempre a mesma cousa!
Ambos rimam conosco e inscrevem-se na lousa
que vai cobrir o que de essência somos.
E tu, irmão do Tejo, do Lima e do Montego,
por que tão perto estás e és cacto com medo
a perecer no meio de um deserto?
Oh, o teu verso tão certo a brilhar
sobre os homens e o mar
português!
Teu verso que se fez
de sono, mito, encantação e olhar.
Mesmo não crendo, creste. E assim criavas
novas formas de fé que alimentavam
a lenta sombra rubra da existência.
E foste na tarde a sobretarde
e no real/irreal a consciência
em fome de verdade.
E cantaste da vida a brevidade
entre o sempre e o jamais, a mágoa
e a História.
E nossa foi
tua vasta visão premonitória.

2.
É certo: em brumas sobrevéns
de Alcácer-Quibir.
Foi-te dado com isso pressentir
o mistério do tempo e da memória,
o lá-dentro das cousas e o lá-fora,
a estrada de Delfos e de Ofir.
Então, se tal se deu, nunca morreste.
Estás nos tombadilhos, a boreste,
com capa e pince-nez, a viajar.
E aqui ficamos a te reinventar
como as nuvens inventam sua sombra
de naves fantásticas no mar.
O mar de Camões. O reino das canções.
A concha dos mistérios e navegações.
E aqui te esperamos.
Virás — quem sabe — de qualquer ilhota
(ao lado de Almada e Sá-Carneiro)
no solitário voar das gaivotas.
Ou te erguerás, triunfal, a qualquer hora,
de algum poema teu, à luz de auroras.
Ou talvez desardomeças num soneto
inglês. E todos de uma vez
gritaremos teu nome que não some
e é camerata, e luz, e dor, e ritmo,
ou sagrado logaritmo
nas álgebras
do poema.

3.
No tempo te saúdo. Não te enxergo
na morte silenciosa. E só estás mudo.
A tua voz se oculta entre as ramagens
da árvore da vida. A tua voz
ferida. A tua voz
tão perto e tão distante.
Voz, como os perfumes, caminhante,
na curva e contracurva de algum fado.
E aqui estou, igual a ti, parado,
a louvar tua face essencial.
Teu sonho delirante e teu naval
olhar.
Ou o teu guitarreio e suspirar.
Ou o maldizer. Ou o teu saber.
Ou o teu grito crescendo em solidão
no reino de Netuno ou de Plutão.

Dos Caminhos e Descaminhos da Solidão

I
A solidão
é um grito selvagem
na infinita viagem
de nossa expectação.
Insulana e tirana
fere-nos com o sílex de sua maldição.
Ou dança às vezes crucial pavana
tornando mais escura a nossa habitação.
Ela vem de repente
com seu olhar parado, de serpente.
E nos põe em seus nichos
a ensinar-nos, com longos cochichos,
seu ofício final de penitente.

II
A solidão
é bailarina imóvel em cima de um tablado.
É o noivo enjeitado
que volta sozinho, em meio à multidão.
E semelha, às vezes, um velho trem parado.
Ou um rosto no espelho, aprisionado,
a ouvir, ao longe, o latido de um cão.

III
Oh, a disciplina dos que vivem sós
e dos que voam às cegas, como os noitibós!
E todos os poemas nascem dessa fonte.
Todos os nossos passos cruzarão sua ponte.
E como não temos para quem gritar
somos veleiros perdidos em seu mar.

IV
Já fui mais sozinho
do que os retratos de velhos casarões
onde se guarda, qual rubro vinho,
a soma imperial das solidões.
A solidão dos avós.
A solidão dos rondós.
A solidão da tia solteirona
adormecendo aos poucos, na poltrona.
Ou a solidão do negro acorrentado
por haver olhado a moça, no rio, desnuda.
A solidão graúda
dos que envelhecem em paz e castidade.
Ou planejam o amor, mas sem maldade,
e são logo feridos e esquecidos.

V
Ó solidão do desamor!
Solidão do Cristo no Tabor!
Solidão
dos que perderam as chuvas e a sazão!
E há um jogo de surpresas
quais passos pelas devesas
cheias de assombração.
Mastigamos, contudo, esse amargo pão
e há no corredor
do mundo interior
inexorável inavegação.

VI
Alma sozinha e perdida,
a solidão corre a toda a brida
para nada.
Mesmo assim, nasce a madrugada
sobre as casas vazias
e as penedias.
E tudo, em nós, verão ou primavera,
é uma vasta espera.

VII
Ai, solidão: a morte no último vagão.
Um longo e irrespondido olhar
ou um entreparar
de vento em nosso vão lamento.
Ela em nós se debruça
e soluça
enquanto uma seresta se afasta
qual canção azul e sempre casta
que jamais esquecemos
e em nós sofremos
igual à lembrança da infância perdida.
Ou da vida.

VIII
Triste é o nosso sorrir.
Às vezes, chegar é o mesmo que partir.
Somos uma longa viagem
em que vamos perdendo rumo e paisagem.
E no silêncio final dos caminhos
estaremos sozinhos.
Por isso, em minha alma indormida
o sonho é como o apito de despedida
de um navio tragado em rodopio.

IX
Ônix da ausência
a solidão é a consciência
do pélago nas almas mais sofridas.
Chuva molhando o rosto dos suicidas
é uma loba uivando sob o frio,
ou o cinzento do estio.
É o canto da araponga ao meio-dia.
O sol da noite. A dor da poesia.
O medo de alguém na multidão.
Um ser a fugir da escuridão.
E vem de Alba-Longa, talvez. Ou de Castela.
Ou do sertão, na Cantiga do Vilela.
Ou das longínquas ilhas
além dos horizontes das Antilhas.
Mas estando tão longe fica em nós tão perto
que sentimos seu abismo abrir-se num deserto.

X
Oh, a solidão dos espelhos
e do mugir dos bois na madrugada!
Ó solidão — batentes de uma escada
em que dormitam sete escaravelhos.
E há uma flauta triste no final de tudo.
Uma súplica em dor num espírito mudo.
Ou o grito inesperado. O final da lida.
O inalcançado amor. A alma já perdida
de um bêbado num bar. Ou de alguém a buscar
as cousas que deveriam estar e nunca estão.
E um punhal invisível se ergue: a solidão.
A solidão de Édipo e Narciso.
A solidão que chega sem aviso
ferindo os seios de luar da Amada.
E treme na balada
que em nós, qual soluço, sossegou.
Ou é um grou
voando ao solstício
sobre a boca fatal de um precipício.
E tudo parece o sono da verdade
qual cavalo cego em meio à tempestade.
Ainda assim, tentamos atravessar os nossos rios
vendo, nas lanternas, o lento apagar-se dos últimos pavios.

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