Divaldo Ferreira Souto Filho

Alguém que foi liberto após o gravidez, mas que tendeu a ficar preso na gravidade e que, pelo amor de duas almas na fecundação e na criação, consegue se libertar do marasmo e da rotina mediante a poesia, arte do dever ser e da libertação...

1989-05-11 Mirassol D'Oeste - MT
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Alguns Poemas

João do barro de Deus

De pés descalços sobre pregos afiar o martelo
Com calos no pensamento construo a oração
A obra não deve parar, pro bem de cessar o cego
O templo é Deus, meu pai; também de meu irmão
A caminhada é a vida toda. Depois, continua
Tijolo por tijolo. O muro, na rocha, vou erguê-lo
Pra deixar lá fora o mal que barganha meu coração
E aqui dentro proteger minha riqueza nua
O arquiteto me orienta nas medidas exatas
Ele é sábio e sabe do meu quase não saber
Ele é bom e bem sabe do meu terrestre viver
Ele é justo e junta as ações com minhas palavras
Sou apenas um pedreiro, matuto feito o valente João
Que pega no barro a inspiração de seus castelos
Eu, como ave, utilizo dos elementos da Natureza, tão belos
O sopro do ar, a água da vida, o fogo ardente e a terra do chão
Meu castelo é minha fortaleza, meu próprio encanto
Sou pedra que nasce santa, que a razão desconhece
Peco tanto que blasfemo por quem a emoção se esquece
Desde a luz, ilumino no coração com minha fé
No meu corpo sinto átomos em cada canto
Desde a aurora, lá fora, aqui dentro, até o manto
Mola propulsora no caminho por onde ando. Então,
Pra ver a verdade, sozinho, ando com meus próprios pés
Sou pedreiro, construtor, eterno aprendiz
Mestre de obras ensinado pela retidão
Todo dia busco com honra meu próprio pão
Se me pedires um pedaço, tens o mais saboroso
Se o pedaço for um conselho, dou o mais honroso
Laboro incessante, com alegria e calos no pensamento
Seja a estação, frio ou calor, vivo intenso o momento
Só tenho brio em dizer à vaidade: - não fui eu quem fiz

A verdade do voo

Desde tenros tempos o homem
Inveja os pássaros ao imaginar o bem
Que deva ser desfrutar o poder
De asas, às costas Deus prover
E, com isso, plainar de costas
Ao ponto de início ou às estrelas
Mas o homem só teve a sorte
De lançar voos a sons a seu norte
Contrariado, o homem, ao ar, mais de vez
Tentou voar e morro abaixo tornou-se freguês
Até que na décima quarta tentativa
Fez-se possível uma máquina altiva
Após estudos pra torná-la leve
Tão leve como do gelo pra neve
À luz, em cesariano, a ciência
Concedeu aeródino. Sua existência
É pular atalhos de tempos e espaços
Em asfalto cujos ventos - únicos buracos
De baixo pra cima, parecem plumas de algodão
aqueles rastros que contaminam até nossa visão
Voando sobre o chão todos são mesma família
Dão-se as mãos, em oração, quando sós na ilha
Na frente, os pilotos. Atrás, os outros
No comando, robôs. Em gentes, os medos
Nas cabines, pilotos e programas
Em primeiras classes, ogros e famas
Vão também, porém mais presos, defuntos e animais
Junto a bagagens. Tem comidas e assuntos sem sais
Lágrimas e sonhos duelam caricaturas em rosto
Truste, cartel e holding às escuras. Bagagens a esmo
Eita coisa boa, com ou sem turbulências
Os banheiros, com casais, tremem mais
Equipe a bordo, nem tudo são maquiagens
Pilotos retocam cansaços nas nuvens
E falam sempre algo seguro em inglês:
- Toda vez, toda vez, toda vez...
Pra subir, esquemas, motores e experiências
Pra cair, problemas, vetores e turbulências
A verdade é que o homem
Se cair, nunca imagina o bem
Logo, toda vez que, pela lei física, levanta
Rei e plebeu dão conta que nada na vida adianta
Não dá marcha a ré, nem pode pular
Lá em cima, só a Fé e o desejo de ficar
Aeronave é bicho que beija a gravidade
Impulso fixo onde rasteja a vaidade
Enfadonho sonífero do homem - ambicionar o céu
Contrapõe o sonho infantil - pilotar aviões de papel
Somos, desde cedo, vulneráveis, sim, à passagem
Sabemos o começo e tememos o fim da viagem

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