Rafael Ruiz Zafalon de Paula

Rafael Ruiz Zafalon de Paula

Rafael Ruiz Zafalon de Paula é Doutor Honoris Causa em Belas Artes pela Emill Brunner University, especialista em Conservação e Restauração de Obras de Arte, formado em Design de Interiores e Bacharelando em Arquitetura e Urbanismo.

1996-11-19 São Carlos, São Paulo
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Alguns Poemas

Memória de Sofia

Era tarde de outono, o vento brincava acariciando os cabelos longos e soltos de Sofia, que despreocupada, admirava as acrobacias das abelhas que ali rodeavam o perfume das flores. Dois olhos negros a fitavam insolentes, a antipatia foi recíproca. Sensação inquietante a percorreu enquanto sentia-se fisgada pelas mãos, queimadas de sol, enlaçando-a. Não imaginava que a euforia envolvendo seus pensamentos seria amor, sentimento que não dá oportunidade de expectativa, tampouco avisa com antecedência sua forma de manifestação, simplesmente acontece de maneiras inesperadas.
Seria inevitável a existência de um contato íntimo, então, a fez sentir-se completa, quando sua pele já correspondia às carícias mais suaves. A felicidade era plena, aconchegada no calor daqueles braços que a imunizavam de qualquer reação de fuga. No mesmo instante, aqueles olhos rubros a admiravam serenos, e um sorriso tranquilo se fez naqueles lábios macios, realçando os traços da face queimada. Todavia, a insegurança e o receio de perdê-lo a fizeram tremer.
O momento de separação estava próximo, os braços se tornaram mais apertados, os beijos sempiternos e úmidos e as mãos mais atrevidas nas carícias. Mais tarde, seria apanhada pela sensação de vazio e de abandono. As palavras da despedida, permaneceriam nos ouvidos de Sofia:
 – “Eu te amo! (...) És minha! (...) Não te aflijas que voltarei!”.
O íntimo de Sofia, em instantes de rebelião pergunta:
– Quando?
Sofia tinha então dezenove anos, o tempo passa e as lembranças permanecem. Sofia guardou tudo o que restou daquele amor; - uma carta, um telegrama, um cartão, as fotografias, que indubitavelmente se deteriorariam com o tempo e as sensações que não envelhecem, são intangíveis, ninguém terá meios de destruir. Poderiam apenas fazê-la revisitar velhas cicatrizes, quiçá descobrir um outro amor, que não de esperas e lembranças.
Foram muitas as vezes que o procurou para confessar o mesmo amor. Cativou a brisa da noite, que lhe consumia as lágrimas de saudades. Tantas foram as vezes que Sofia tentou substituí-lo, entretanto, todas as tentativas foram em vão.
Após tantas buscas, o encontrou junto à outra. A dor de saber que a substituíra e que recebia tudo quanto desejava para si, a fez resolver o futuro. Porém, o arrependimento daquele reencontro superava a angústia em casar-se com outro, amando-o como amava. Falsas as promessas, os carinhos, a espera, ilusões que somente ela alimentou.
Daquela união logo desfeita, Sofia gerou uma filha, e transferiu a ela toda dedicação sufocada no seio. Trabalha, diverte-se, tem amigos, mas não quer envolvimentos emocionais, talvez preserve ainda uma tênue esperança de algum dia redescobrir os mesmos olhos, os mesmos lábios, o mesmo sorriso e tudo mais que o compusera, até mesmo alguns fios de cabelo prateados, provando que para ele também o tempo passou.
Muitas vezes, se entrega às doces lembranças daqueles dias, tantos anos se passaram, talvez trinta ou quarenta, não importa. Brincando e sorrindo, percorre a imensa cidade, milhares são as pessoas que por ela passam, e em cada fisionomia, busca traços daquele mesmo amor, mas não existe identificação, traçado único.
Quem sabe algum dia, Sofia encontrará alguém que consiga em seu peito, reacender a chama da paixão aprisionada, alguém que a faça superar o sentimento pulsante das recordações insensatas.
No silêncio da noite, relembra os olhos profundos medindo-a, pensa na leveza das carícias e nos beijos apaixonados, e a mesma voz se faz ouvir:
– “Te amo! (...) És minha (...)
É o fantasma da saudade, apenas sopro de memória.
A realidade de hoje é diferente. O sorriso infantil de sua filha a libertara das correntes que a prendiam ao passado, dos poucos casos inconsequentes que arriscara nos últimos anos.
A saudade já não é tão amarga.
Com um gesto, afasta os fantasmas do passado e sorri para a filha, seu presente.

Crítica - Ilmo. Sr. José Henrique Fabre Rolim

SENTIMENTO E PROJEÇÃO VIVENCIAL

A poesia permite ao leitor vislumbrar amplos horizontes, desafios existenciais oportunos e sempre estimulantes. Rafael Zafalon, além de artista plástico é um poeta sensível que expressa sutilmente em versos suas vivencia, observador atento, capta em cada comportamento humano a dimensão transcendental dos significados mais pungentes dos relacionamentos em seus devaneios, como nos desencontros da alma.
A complexa realidade do cotidiano é transportada para o campo da poesia como num passe de mágica, um confronto de realidades que se convergem liricamente enaltecendo a transparência de um sentimento nas suas mais envolventes harmonias ou nos conflitos mais íntimos.
A sua poesia abrange o ser humano como um todo, reflete profundamente o nosso interior, as conquistas, as frustrações, os desejos mais ardentes, as paixões mais ocultas, as fantasias passageiras de uma noite de verão e de todas as outras estações do ano.
Escrever é dialogar com a mente humana com todos os prazeres estéticos ampliando a gama de experiências vividas, desde o frescor de uma recordação recente a tantas outras manifestações memorialísticas que fazem da poesia a essência da reflexão.
 
José Henrique Fabre Rolim[1]
(São Paulo - SP, 28 de Setembro de 2019)
[1] Bacharel em Direito pela FADIR-UNISANTOS (1970 a 1974), Crítico de Arte (1977 a 1991) período em que publica nos periódicos nacionais e internacionais: A Tribuna de Santos, Folha de S. Paulo, A Gazeta, Módulo, Nuevas de España, Cadernos de Crítica, Arte em São Paulo e Arte Vetrina da Itália. Presidiu a APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte entre 2013 e 2017. Colunista (2007 até o momento) semanal no jornal Shopping News-DCI e ArteRef que enfoca as Artes Visuais, cobrindo exposições, lançamentos de livros de arte, além de matérias específicas sobre design, arquitetura, fotografia, movimentos artísticos, enfim tudo que abrange o vasto campo artístico.
Biografia do autor

Pintor, desenhista, gravador e escritor, autodidata no ofício da composição, inspirado pelo legado dos modernistas no Brasil. Na infância, sob o zelo da bisavó, nasce nos pincéis e têmperas a paixão pela cor e a euforia encoraja-o à prática. Em 2005, J. Borges e suas criações inspiraram-lhe aos primeiros contatos com Xilogravura. Nos anos seguintes dedicou-se à promoção cultural originando seu espólio profissional em 2014, sua primeira coletânea pictórica - “Reflexões”. Dedica-se desde 2016 aos estudos arquitetônicos e urbanísticos e, a partir de 2018, a maturidade de sua obra torna-se protagonista na pinacoteca de A. dos Santos, distinto colecionador carioca. O artista teve 7 exposições nacionais individuais em um fluxo itinerante. Atualmente, seu trabalho percorre exposições por toda Europa e, no Brasil, mantém cronograma contínuo de mostras e publicações literárias, havendo em sua jornada destacados prêmios literários entre os anos de 2017 e 2018.

Titulação

A Academia Independente de Letras junto à Casa Literária Enoque Cardozo, no uso e atribuições de suas finalidades legais, presente em seus estatutos confere o Título de Imortal ao escritor: 

RAFAEL RUIZ ZAFALON DE PAULA 

Reconhecendo assim o valor por força e mérito daquele que carrega em si o dom e o talento literário, diplomando-o e empossando-o como Membro Vitalício à cadeira de n.31, a Resiliência,outorgando-lhe os direitos e prerrogativas estatutárias regimentais.
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dionesbatista
Belos escritos!
27/dezembro/2019

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