João Edesio (Jhon)

João Edesio (Jhon)

Sou mestre em literatura.

1979-10-30 Goiânia
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Medo...

Medo...

Por. Prof. Me. João Edesio de Oliveira Junior.
 
Escrever parece ser uma tarefa difícil, mas não é. Difícil é ter a percepção sensível da realidade ao ponto de perceber que não é preciso que aconteça um grande evento para que possamos registra-lo. Quando pensamos em grandes acontecimentos, logo vem em nossa mente uma tragédia (não a Grega) ou uma grande realização. Tanto um quanto o outro fica registrado em nossa memória, mas o que não percebemos é o porquê que esses ficam como tatuagem em nossa memória.
Quando acontece uma tragédia conosco o que nos deixam encabulados ao ponto de querer contar para qualquer pessoa, seja do nosso convívio ou não, é a dor, não do acontecimento, mas do sentimento que ficou só no planejamento para virar uma ação. Talvez um abraço que seria dado, mas o tempo, ousado, não deixou, um beijo caliente que seria dado, mas apenas seria, uma palavra de carinho ou afeto que apenas ficou bem elaborada na cabeça, porém sem chegar a boca.  Mas o pior de tudo é pensar que esperávamos um grande evento para que tudo isso fosse realizado e o tínhamos o tempo todo.  E não o aproveitamos.
Agora uma grande realização é algo interessante. Clarice Lispector falou certa vez que “A felicidade é clandestina”, sempre concordei com essa “Mulher”, no sentido talvez pessoal mesmo. A expectativa do antes, o enamorar, o paparicar, penso que nos traz uma satisfação maior do que quando a possui algo ou alguém.
Quando ansiamos por algo que desejamos tanto e o conquistamos, percebemos que a alegria é momentânea e volátil, dura menos que a satisfação do desejo de ter, mas não o ter. Talvez o erro não esteja no ter, mas possuir. Assim como aquele livro que desejamos ler, mas por um período de tempo não temos condições de tê-lo. Então nosso esforço fica voltado para o livro, trabalhamos pensando no livro, comemos pensando no livro, dormimos pensando no livro. Quando o temos, caímos no erro de possui-lo até o ultimo número da página da citação que está no rodapé. Após o que nos resta é coloca-lo na estante e esquecer que ele existe. A alegria foi embora com a última pagina do livro. Ter sem possuir.
Assim também acontece com o primeiro beijo. Este apenas ganha uma posição, mas sua emoção já não existe mais, pois virão os outros que o sufocará e o fará cair no esquecimento.
Quando tudo isso se passa com uma pessoa que é muito desejada, precisamos ter o amor de um amante. Observe que para a palavra amor, usei o artigo definido, pois considero que esse amor é diferente dos outros, e para a palavra amante, usei um artigo indefinido, porque razão? Por que todos os amantes têm ações de amor iguais, logo qualquer um serviria como exemplo.
Caso esperássemos apenas esses eventos para podermos registrar, não existiriam bibliotecas como existem hoje. 
A vida se passa é no entre, na sucessão, na passagem. Os ritos de passagem de fato marcam nossa vida, mas são poucos, logo você teria que fazer muitas coisas por poucos momentos. Sua vida ficaria voltada apenas para algumas coisas que talvez tirasse até as pessoas que amamos do caminho em busca do ritual.
Certo João Guimarães Rosa alertou-nos que a satisfação não está na saída ou na chegada, mas no entre. Estamos numa travessia, se focarmos na saída, não conseguiremos contemplar o presente, caso focarmos na chegada, perderemos o presente. Lógico que Rosa não estava falando de travessias triviais, mas da grande travessia, nascimento e morte, limites da nossa existência. 
Quando aprendermos essas lições, conseguiremos escrever com fluência e eloquência, pois o que estará no papel será o amor pelo instante, à percepção sensível que os segundos estão passando e que precisamos coloca-lo num papel, porque foi mais uma oportunidade que o senhor tempo nos deu mais uns segundos, minutos, horas, dias, anos e décadas.
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