Sosigenes Costa

Sosigenes Costa

Sosígenes Marinho Costa foi um poeta, jornalista e professor brasileiro. Participou da Academia dos Rebeldes, grupo literário modernista liderado pelo jornalista e escritor baiano Pinheiro Viégas (1865-1937).

1901-11-11 Belmonte BA
1968-11-05 Rio de Janeiro
17833
1
3


Prémios e Movimentos

Jabuti 1960

Alguns Poemas

A Cabeleira da Musa

No teu cabelo há tardes outonais
amarelando o rio e os arvoredos.
Há cidades de mármores e rochedos
de açúcar-candi, bronzes e cristais.
No teu cabelo rútilo há milhões
de abelhas roxas fabricando favos
para o mel que roubam dos craveiros bravos
dos jardins levantinos de anões.
No teu cabelo há trêmulos trigais
de espigas fulvas e há gentis vinhedos
que molhas de perfume com teus dedos
com trinta anéis de pérola ovais.
No teu cabelo se abrem dos pavões
as estreladas caudas, dentre as rosas.
E brilham nela as pedras preciosas:
rubis, safiras, sárdios, cabuchões.
Nele há brondões, revérberos, fanais.
Pois isso atrai cornígeros besouros.
Por isso pombas e canários louros,
sempre de noite, feiticeira atrai.
No teu cabelo há reinos de sultões.
Teu cabelo relumbra como uns matos
cheio de olhos fosfóricos de gatos
e de escamas de fogo dos dragões.
Na tua cabeleira há catedrais.
No teu cabelo rola e ferve estranha
cascata de falerno e de champanha
por entre alabastrinos jasminais.
No teu cabelo vive uma serpente
que descasca por hora uma imponente
pele conteúdo bíblica signais.
No teu divino e esplêndido cabelo
rugem tigres de azul-celeste pêlo
e de unhas de ouro, lúcidas, fatais.
No teu cabelo. Musa Helena e saiba,
queimam-se incenso e nardo azul da Arábia
e outras sortes e espécies aromais.
No teu cabelo há um céu com muitas luas
iluminando cem mulheres nuas
que se banham num lago entre juncais.
No teu cabelo há sílfides e bruxos
dançando dentro dos jorros de repuxos
e há templos de âmbar louro e há muito mais:
Há globos de ouro e estames de açucenas
e cem faisões de prateadas penas,
- Filha do sol, princesa dos corais!

Case Comigo, Mariá

Case comigo, Mariá,
que ou te dou, Mariá,
que ou te dou, Meriá,
meu coração.

(Cantiga de roda)

O mar também é casado,
o mar também tem mulher.
É casado com a areia.
Dá-lhe beijos quando quer.

(Quadra popular]

Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?
Se até o peixlnho é casado...
Não sabes que o mar é casado
com uma filha do rei?
Mariá, o mar é casado
com a filha loura do rei.
Mariá, por que não te casas
se o próprio mar é casado?

Ouem é a mulher do mar?
É a sereia?
É a areia, Mariá.
É a princesa dos seios de concha.

Mandei ao mar uma rosa, Mariá,
porque ele vai se casar.
O mar pediu que a sereia, Mariá,
viesse me visitar
e agradecer o presente.
Ouando foi isto? No passado, Mariá.

Sabes que fez a sereia, Mariá?
Deu-me um punhado de areia;
esta cidade de areia,
nossa terra, Mariá.

Aquela moça da praia, Mariá,
é namorada do mar.
Só vive olhando pra as ondas
e o mar vive a suspirar.

Aquela areia da praia
veio do Engenho de Areia, Mariá.
Que bela é a mulher do mar,
em cima daquela coroa!

Areia da Pedra Branca
desceste o rio correndo.
Tu viste a Ilha das Pombas,
ah! tu viste Mariá.

Adeus, Coroa da Palha,
que eu vou aos tombos da sorte,
rolando aos tombos da vida,
caindo e me levantando.
Só me salvo se cair
nos braços de Mariá.

Donde viria esta areia?
Da serra da Pedra Redonda.
Veio de Minas, Mariá,
rolando no Rio das Pedras
e só entrou na Bahia
quando passou dando um pulo
na cachoeira do Salto.

Deu um pulo no Salto Grande
a areia, a mulher do mar.
Em cima do Salto, está Minas.
Embaixo do Salto a Bahia.
Lá em cima a água é mineira,
caindo embaixo é baiana, Mariá.

Ah! como é linda esta roda
às sete horas da noite,
à hora em que a lua cheia
acabou de sair do mar,
iluminando Belmonte
com todas as suas ruas de areia.

A lua nasce chorando
lágrimas de prata na areia.
Apanhem numa redoma este pranto,
guardem bem guardada esta jóia
que um dia será adorada.
É a lágrima azul da saudade.
Que foi? O que teve? Nada.
Apenas uma lágrima salgada
caiu dos meus olhos na areia.

Marlá, por que não te casas?
Me diga; por que não te casas
comigo, se eu quero te dar,
se eu quero te dar, Mariá,
num beijo o meu coração?

Crianças cantando roda
nas ruas brancas da areia,
naquelas ruas tão longas
como as estradas de areia.

Cantando desde a Atalaia
até a Ponta de areia.
Cantando lá na Biela,
na rua do Camba e nas Baixas
e em todas as ruas de areia.

Ah! lá no Pontal da Barra
é que brilha a lua na areia,
nas areias da Barrinha
e na estrada da Barra Velha.
Mariá, por que não te casas?
Se tu casares comigo,
sabes o que te darei, Mariá?
Sabes o que te darei, Mariá?
Quantos beijos tu quiseres,
cem beijos se tu quiseres,
Mariá, meu coração.
Deitado dontigo na areia,
dar-te-ei meu coração.

Não é só o mar que é casado, Mariá.
O peixinho também é casado.
E o passarinho é casado.
Também quero ser casado
mas contigo, Mariá.

Mariá. case comigo,
já que o mar casou com a areia.

Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?

Sosígenes Costa (Belmonte BA, 1901 - Rio de Janeiro RJ, 1968) estreou na imprensa por volta de 1928, em Ilhéus BA, onde foi colaborador do Diário da Tarde. No mesmo ano tornou-se membro da Academia dos Rebeldes, com Pinheiro Viegas, Jorge Amado, Edison Carneiro e Dias da Costa. Na época, trabalhava como professor de instrução primária. No início da década de 1950 foi secretário da Associação Comercial e telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos, em Ilhéus. Em 1959 ocorreu a publicação de seu livro Obra Poética, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1960. Entre 1978 e 1979 foram publicadas a segunda edição, revista e aumentada, de Obra Poética e a póstuma Iararana, por iniciativa de José Paulo Paes. A poesia de Sosígenes Costa vincula-se à segunda geração do Modernismo. Segundo o crítico José Paulo Paes, "a ter como certas as datas de composição das peças enfeixadas na primeira parte da Obra Poética, quando ainda andava acesa a campanha dos modernistas contra o soneto em prol da institucionalização do verso livre, entretinha-se o poeta a escrever seus 'Sonetos Pavônicos', todos rigorosamente rimados e metrificados, nos quais são perceptíveis traços parnasianos e, sobretudo, simbolistas, ainda que tais sonetos nada tenham de passadistas, caracterizando-se antes por uma modernidade que se patenteia, como a de Quintana, na exploração criativa das possibilidades expressionais dessa forma fixa, então esclerosada pela prática mecânica e abusiva.".
Sosígenes Costa foi um poeta brasileiro, nascido em Belmonte, Bahia, a 11 de novembro de 1901. Teve  parte de seu trabalho reunido no volume Obra Poética (1959), mas foram os esforços críticos de José Paulo Paes que trouxeram maior atenção ao trabalho do poeta baiano, quando, em 1978, Paes passa a trabalhar com a obra do poeta. O longo poema Iararana, escrito em 1933, seria editado em 1979, com ilustrações de Aldemir Martins. Em 2001, a sua produção poética foi reunida num volume único, Poesia Completa, publicado pelo Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Sosígenes Costa morreu no Rio de Janeiro, a 5 de novembro de 1968.
 
Foi contemporâneo de poetas brasileiros como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles, trazendo algo muito seu à poesia da geração.
 
 Ainda preciso dedicar maior atenção à sua obra, mas intuo haver em Sosígenes Costa uma poesia singular, em que vários aspectos do Modernismo brasileiro parecem encontrar um luminoso ponto de equilíbrio. De passagem pela Baía de Todos-os-Santos, quis prestar esta homenagem a um poeta brasileiro por quem nutro um interesse que vem desde a leitura de textos críticos de José Paulo Paes sobre o autor e a descoberta de alguns poucos poemas disponíveis na Rede. Parece-me um poeta de um coisismo particular, numa linguagem marcada por sua localidade, como no mineiro Dantas Motta, poetas que, ao lado de outros – como o pernambucano Joaquim Cardozo, o paulista Orlando Parolini, as mineiras Henriqueta Lisboa e Maria Ângela Alvim, ou o paraense Max Martins – precisam ser re/lidos e voltar (ou passar) a circular, permitindo-nos enriquecer nossa visão sobre a poesia brasileira moderna.
 
 
 --- Ricardo Domeneck
 
 
 
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