José de Sottomayor

A água escorre,
pacífica,
pelo rio da alma...

O olhar brilha
nos reflexos...

As razões fluem,
razoáveis...

Os motivos
motivam-se,
desvelam-se...

Os amores...
são mais amados.

A luz,
roça suave nos olhos...

A serenidade,
veste,
ternamente,
a tua alma.

Os meus dedos correm a guitarra
e no teu rosto escrevem a canção,
na tua boca beijo a madrugada
e nos teus braços aperto o coração,

e no teu corpo escrevo uma saudade
com letras da ternura de te amar
palavras que desfolham a verdade
da saudade que de mim te quero dar,

tu foste a minha hora de nascer
tarde que cedo se fez a claridade
e em mim brotáste fonte de emoção,

qual rio imenso que corre p'ra viver
e em ti beijou a foz da realidade
e em ti morreu na voz de uma ilusão.

Esculpo-te,
o coração,
nas minhas mãos,
a respirar.

Esculpo-te,
a seda do teu corpo,
nas minhas mãos,
a navegar.

Esculpo-te
e culpo-te,
que de mim
em ti
me fazes
acreditar.

Esculpo-me,
esculpo-te,

O teu íntimo
me intíma
a intimar-te,

amiga,
amante,
arte.

Na mesma rua
Na mesma cor
Passava alegre
Sorria amor
Amor nos olhos
Cabelo ao vento
Gestos de prata
De flor sem tempo
é dela o mundo
é a certeza de viver

Canta o sol
Que tens na alma
és a flor de ser feliz
Olha o mar
De tarde calma
Ouve o que ele diz

Foi como o vento
Soprou um dia
Passava alegre
Alguém a via
é nossa a vida
é a certeza de te ver

Canta o sol
Que tens na alma
és a flor de ser feliz
Olha o mar
De tarde calma
Ouve o que ele diz

A fonte

escorre

gotas simples,

brancas,

transparentes,

na calma

da alma,



derrama murmúrios,

invisíveis,

surdos,

imperturbáveis.



Desenho-te,

em silêncio,

por entre fábulas

e vinhedos,

plácidas folhagens,

doces segredos,



resguardo-te,

serena e plena,

intimamente

íntima,

em mim.



O Silêncio

ama o amor

em silêncio,

assim.

de ti,
brumas, reparos, inconstância,
o caminhar na noite sem destino.

de ti,
carinho, mas sem total-amor, sem porto,
o caminhar na noite sem a luz mais certa.

de ti,
paixão-compaixão explodida em acertar-acertado,
o caminhar na noite sem bem saber ou querer, mas dado.

de ti,
correr os mares e os céus, o encontrar da luz e dos desígnios,
o caminhar na noite, o acender do Sol ,o esplendor do amor e dos fascínios.

de ti,
de tis ,
nasceram as lembranças
e as alembranças.

As almas
vêm-se nos olhos,
pequenas flores brilhantes
no mar das pupilas,

ondas de lágrimas
nas cores do sofrimento
e montes de sorrisos
nos brilhos da íris
plena de alegrias

A minha alma
tem a marca
dos teus dedos
carinhosos,
pequenas pegadas
de céu sonhado,
pedaços de nós
fremendo,
um tudo nosso
estremecendo.

A minha vida
tem a marca
da tua alma,
da tua voz,
gravada
meu sangue,
pedaços de tempo
parados,
aconchegados,
no pensamento.

As nossas almas
ficaram suspensas
num fino fio de luz,
beijam-se balançando
as ondas de um mar brando,
correm sorridentes as areias
da praia-promessa-prometida-vida.

Os nossos olhos
tocam-se de espelhos ser,
se entrançados os sonhos que não tudo
se por não sonhos os corpos tocados que não nada,
fizemos ruas completas-repletas de ondas de alegria,
fizemos tuas-minhas-nós-plenas-voz a vez de um novo dia.

Black Beauty,
You are my Black Beauty,
Amo-te muito,
my Black Beauty,
Dearest.

Lá longe estás
como teve que ser.
Toquei-te
amei-te...
escondi-te
perdi-te
lembro-te
como a saudade
é saudade.

Lá longe estás
presa no teu tempo
no teu lugar
presa e morta
esquecida de nós.

Toquei-te
amei-te
lembro-te
como a saudade
com saudade.

Quando escrevo
procuro-te.
Fica aqui
esse amor imenso
que me faz frio.

Fica aqui
esta certeza
que não te fiz saber.

Longe,onde estás
como teve que ser
amo-te muito ainda.

Lá onde a saudade
me lembra a saudade.

Amo-te muito.

Tributo a José Gomes Ferreira


De ti,
só sei
que me incendiáste os olhos
para a beleza,
para a realidade.

De ti,
a árvore frondosa,
a vida desventrada,
um olhar aberto e livre,
um abraçar terno
na mulher-vida bem amada.

De ti,
o poema dos dias,
a raiva terna inflamada,
o olhos-nos-olhos,
as reais fantasias,
a ,
sempre nova ,
renovada,
estrada.

Por ti,
guardei
no cofre-forte
de mim,
as palavras sábias,
urgentes,
formosas ,
que o teu olhar
me deu.

Liberto-as
com ternura,
uma a uma...

como que
devolvendo
pássaros livres
ás cores do céu.


José Sottomayor 08/02/2011