

mr_sergius
Sou uma pessoa que fez biologia, que fez direito, que se fez de pintor, que se aventurou a escrever e que alguma gentil alma leu e por empatia ou falta de definição melhor, chamou de poeta. Se não fosse a necessária modéstia quase acreditaria ser um. Escrevo do que vi e do que vivi.
1955-05-18 São Paulo
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Das faces de carvão
Chega a noite com suas faces ocultas de carvão a difundir o negrume
Espalha-se no ar, entre signos de um sonho azul, uma música perdida
Que ecoa pelo concreto da selva urbana, onde agora é tudo apartado
No silêncio do meu quarto, é tanta a solidão que sua sombra faz ruído
Ouço o mover do seus passos ausentes, sinto-lhe o calor da ausência
Por todas as indagações irrespondidas destes caminhos mal traçados
No espelho baço das indesejadas memórias de um adeus que não dei
A ventania dos tempos a bater seus cascos pelos desertos anunciados
Os trens do isolamento carregam as dores da tristeza que viaja em nós
O grito súbito da noite remonta para a faina diária, a lâmina viva do dia
A geometria silenciosa das madrugadas traça a parábola da escuridão
Nas dobras da palavra, o poema frágil e transitório, enfim se recompõe
As linhas que o destino captou para nos confinar em verdades relativas
Qual pássaro com suas asas em chamas a sobrevoar o pó dessas vias
Recolho as tempestades em som e cores na perpétua roda dos tempos
Conquanto a cegueira dos que nos têm julgado, mais um dia renascerá
Com a luz do dia tudo irá renascer no sonho límpido da nova primavera
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