Inês Reis

Inês Reis

inesreisx

1997-01-13 Portugal
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Sem Título.

A verdade é que não éramos inocentes. Naquela noite de meio luar, nossos corpos haviam  tecido a trama que a nossa mente se havia esforçado para evitar. 

Aquele tique-taque estrondoso do relógio que tanto te irritava tinha parado. Assim como as  buzinas histéricas que lá fora gritavam por movimento. E as vizinhas, que nada discretas e  frenéticas se punham à janela, estavam hoje resguardadas num inabalável transe do cheiro  de nossas velas. 

Os últimos raios quentes de sol, atravessavam os vidros e iluminavam teu rosto num  particular tom de laranja que não poderia ser descrito senão pela visão. Foi então que  nossas mãos se apertaram enquanto lado a lado apreciávamos aquele pôr-do-sol no colchão  velho que recusavas trocar. Essa foi uma das coisas que sempre em ti admirei, a  despreocupação com a vida, uma viagem sem volta, apenas uma ida. 

Posso sentir tua respiração embalada em meu ombro. Tão leve quanto uma folha que se  desprende do ramo e segue o vento no seu novo rumo. Teu toque lembra-me a chuva que  resfria uma carne que se sente em chamas e teu cheiro é mais forte que o dos malmequeres  que enfeitam nossa mesa de jantar.  

Talvez nos chamem de loucos ou mundanos sem razão. Irracionais... A verdade é que não  éramos inocentes. Foi naquele final de tarde que dois corpos entrelaçados se fundiram e  mergulharam ao mais fundo oceano da emoção. Foi ali que me embriaguei da tua alma e  provei o teu mais ríspido e sincero tu. Foi ali que crua e simplesmente, te doei meu coração. 


Inês Reis
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