A mula(ta)
- "Casa-te comigo, ó Xica
Serás livre e minha mulher
Tudo o que me pedires, nada te faltará!"
- "Quero, mas não posso, Sinhô
Sou escrava fugida de Alenquer
E logo viro ama-de-leite pra Sinhá."
- "Pois com Sinhá não quero mais ficar
Quero provar desse chocolate de negrinha."
- "Sinhá carrega sementinha que vai brotar
E o Sinhô aqui querendo dar escapadinha?
Aceito contigo me casar, me possua!"
Xica sonhadora pulou nos braços do Sinhô
- "Fala que sou tua!"
O Sinhô sorriu e logo se assanhou
mentiu-lhe ao ouvido e foram à estrebaria
Xica se preparou para, enfim, ser amada.
[A mulata virou mula
ou a mula mirou mulata?]
Mas o amor não veio, ele a violentou.
Sinhô fazia de um jeito que nem ela imaginaria
Xica chorava com tal ultraje, sempre calada.
Ao fim de tudo, ele disse que a amava
E foi-se embora, deixando Xica.
A mulata enganada maldizia sua sina
O pedido de casamento violento todo dia voltava