José João Murtinheira Branco

1954-01-27 Vila Franca de Xira
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MENINO POETA

Menino poeta, de olhos cansados, escutando, os sons roucos das palavras sem nexo nesta escrita de loucos, deste poema corrido, onde a perseverança é nublada  por pensamentos vestidos de negro, decantados na desilusão da espera e trajados em crepúsculos pálidos da incerteza. As frases dos teus poemas jazem vencidas  caídas, varridas, para esse abismo profundo de solidão. E a sorte, essa, amarga e profana até na morte, cai em mergulho profundo, asfixiando-se por entre ais e  lamentos numa mortalha lírica coberta por aromas de cedro e de rosa. Nada mais resta, apenas perpetua o barulho rasgado do silêncio dilacerado por sons  imaginários, que bramindo corre no rio do pensamento, envolvendo lentamente a tua alma numa monotonia latente de escrita, sem fio de versos, sem espaços em  escrita de prosa.

Poema escrito no luto, inspirado num tempo devoluto e sem sabor, de traje negro te venera, declamando estes versos à minha dor.

  É uma tristeza sentida. É uma lágrima que cai.

 É a voz que já não fala. É o corpo dormente.

 É a amargura da vida. É a esperança que vai.

 É a pena que cala. É a fuga para a frente.

 É a agrura sentida. É uma luta sem sorte.

 É a tinta que goteja. É o tinteiro que cai.

 É a sina da vida. É a gadanha da morte.

 É o anjo que beija. É a alma que sai.

 

  É o sono profundo do menino que cedeu.

 É o sonho sem mundo do poeta que morreu.

 

 João Murty

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