MENINO POETA
Menino poeta, de olhos cansados, escutando, os sons roucos das palavras sem nexo nesta escrita de loucos, deste poema corrido, onde a perseverança é nublada por pensamentos vestidos de negro, decantados na desilusão da espera e trajados em crepúsculos pálidos da incerteza. As frases dos teus poemas jazem vencidas caídas, varridas, para esse abismo profundo de solidão. E a sorte, essa, amarga e profana até na morte, cai em mergulho profundo, asfixiando-se por entre ais e lamentos numa mortalha lírica coberta por aromas de cedro e de rosa. Nada mais resta, apenas perpetua o barulho rasgado do silêncio dilacerado por sons imaginários, que bramindo corre no rio do pensamento, envolvendo lentamente a tua alma numa monotonia latente de escrita, sem fio de versos, sem espaços em escrita de prosa.
Poema escrito no luto, inspirado num tempo devoluto e sem sabor, de traje negro te venera, declamando estes versos à minha dor.
É uma tristeza sentida. É uma lágrima que cai.
É a
voz que já não fala. É o corpo dormente.
É a
amargura da vida. É a esperança que vai.
É a
pena que cala. É a fuga para a frente.
É a
agrura sentida. É uma luta sem sorte.
É a
tinta que goteja. É o tinteiro que cai.
É a
sina da vida. É a gadanha da morte.
É o
anjo que beija. É a alma que sai.
É o sono profundo do menino que cedeu.
É o
sonho sem mundo do poeta que morreu.
João
Murty
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