Na noite


Na noite fechada, 
o acordar da chuva não desejada
insiste em tocar nossas vidas, 
no silêncio da noite, 
a praia já ali, 
com saudades à deriva 
nas ondas deslizando pela areia 
em mais uma noite de mar enraivecido
a chuva cai 

Em contraponto com os sons que me chegam do mar 
o assobiar do vento relembra pecados passados, 
o ruído da chuva abafa todos os outros, 
é chuva forte e violenta 
como se quisesse roubar o medo ao mar 
e nos mostrar sua força e grandeza

Estou só, escrevendo, 
com uma réstia de luz que da rua emerge e me aquece
o tempo parou e não quer voltar à vida 
e eu só
eu e o vento
na noite
encostados ao mar
apreciando a chuva
as carícias sentidas nessa chuva a cair

Não sabendo que pensar olho as ruas desertas
abandonadas neste final de dia
os candeeiros de luz amarela
alinhados
não conseguem disfarçar o escuro da noite que se avizinha
e mantêm-se impávidos e erectos
como se a noite não lhes pertencesse

Continuo à espera que alguém apareça 
e me desperte deste desânimo
deste meio dormir
deste meio nada,
alguém que me faça sentir 
que a noite se abriu 
para de novo a lua sorrir 
e cobrir meu corpo de luar

A noite permanece fechada e quieta 
as sombras vão passando em silêncio 
cada vez mais distantes
e eu, de novo só
sem pensar em nada
só,…esperando
olhando o mar
ele também coberto de negro 
nesta noite cerrada e escura
imaginando a lua regalando o seu leito 
no outro lado do horizonte
esperando que a maré nos traga sua luz 
e um olhar de esperança 
que nesta noite não desperta

Viajo através do sonho, 
o corpo coberto de gotas de chuva 
me recordam lágrimas acabadas de cair
lágrimas que se vão perdendo neste dia que não existe
são lágrimas que não se esquecem 
e os corações devolvem

Alguém surge do nada
o encanto da escrita desaparece
é tempo de voltar à realidade
tentar que a maré se recomponha 
largar este lado do sonho 
e regressar ao aconchego da vida
 

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