Alguém que não posso ser

Tentei ser alguém, 
sem que fosse eu mesma.
Tentei afastar-me de mim o máximo possível,
para não tropeçar nos meus próprios pés,
e regressar ao que sou.

Se me trancar dentro de algo, será que tropeço?
E se cortar os pés?... Ainda posso tropeçar?

Tenho medo de voltar a ser quem já sou.
Tento mudar de todas as formas imaginadas,
Mas, cruelmente, mudar-me não cabe só a mim.

Depende de um outro fator:
uma voz exterior, adulta, grave, por vezes maldosa.

É ela quem me diz quem devo ser,
O que devo fazer,
E por vezes, o que posso ver.
Ela molda-me à perfeição.
E quando me perco,
ela reencontra-me.
Quase que como um localizador.

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