

Biancardi
Aqui vão alguns pensamentos e frases que talvez tenham importância.
Potencial do Brasil na farmacobotânica
É uma ideia corrente afirmar que os recursos naturais de um país contribuem de maneira decisiva para o seu sucesso econômico e como um Estado-nação. Na circunstância do Brasil, é comum dizer que tais recursos existem em abundância e em alguns fatores estatísticos – como é o exemplo do volume hídrico disponível de água doce –, pode-se declarar que não há no mundo nenhum outro paralelo de país que o ultrapasse. Mas igualmente não se conhece no globo outra parte em que os dons dos recursos biológicos, ou seja, a fauna e a flora, se desenvolveram a ponto de criar uma terra tão rica em biodiversidade de espécies quanto comparada ao nosso país! Sendo assim, ao se apontar ao acaso no mapa do Brasil, em cada região, em cada clima e em cada solo, o observador se surpreenderá em descobrir que grande parte desses recursos naturais ainda estão inexplorados e, no caso preciso das plantas silvestres, muitos dos seus potenciais terapêuticos não são totalmente conhecidos; por mais que existam pesquisas científicas acontecendo a cada ano. Num país de tamanho continental como é o Brasil, as pesquisas no ramo de farmacobotânica, que é a ciência que estuda as propriedades medicinais provenientes das plantas, ainda são por demais escassas, sendo necessário cada vez mais investir no sentido de desenvolver este campo científico valioso para a saúde comunitária e o bem-estar coletivo no mundo contemporâneo.
Os seis principais biomas brasileiros – Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampas – são verdadeiros herbários vivos e podem oferecer aos seres humanos, através de pesquisas científicas, respostas eficazes para o tratamento de doenças comuns ou mais agressivas que debilitam o nosso organismo. De modo geral, ao se observar a germinação de uma semente, que caiu num lugar próprio para seu nascimento sendo carregada por pássaros ou por forças naturais como o vento e a água, ninguém chegaria facilmente à conclusão de que ali, naquela pobre brotadura vegetal que desponta do solo, daria para se extrair mediante a processos de coleta propriedades terapêuticas para se curar enfermidades. Porém esse pensamento de não enxergar na totalidade das espécies vegetais silvestres possíveis repositórios terapêuticos ou, de outro modo ainda mais restritivo, enxergar que somente as espécies vegetais já usadas na subsistência humana podem ser repositórios terapêuticos, é acima de tudo uma forma infeliz de se aproximar de um objeto de estudo amplo e repleto de subvariedades – como é característico das plantas medicinais. Sabe-se, aliás, que foram os primeiros povos que aqui já existiam antes da chegada dos portugueses, notadamente os povos originários (indígenas), os responsáveis por fazer uma primeira seleção empírica, por intermédio de testes de tentativa e erro, das plantas medicinais encontradas nas terras brasileiras – nesse aspecto sociológico (interação de etnias com as plantas para produção de conhecimento tradicional), a matéria de etnobotânica é a encarregada por traçar a importância dos indígenas como agentes descobridores de propriedades medicinais nas plantas da flora nacional. Para João Fhilype (2020), pela grande biodiversidade da flora do Brasil, que comporta cerca de 20% de todas as espécies vegetais do planeta, o país se apresenta com enorme potencial para a pesquisa de novos fármacos úteis para o desenvolvimento de medicamentos de elevado valor econômico e social para a população. Ainda segundo este mesmo autor, inclusive, apenas 5% dessa rica flora (aproximadamente 55 mil espécies identificadas) foi investigada até o momento sob o ponto de vista fitoquímico e farmacológico; demonstrando que há recursos biológicos inexplorados.
É relevante deixar registrado os exemplos de algumas plantas nativas que têm propriedades terapêuticas. Na Floresta Amazônica, é possível apontar a planta Copaíba (Copaifera langsdorffii) como uma poderosa ferramenta auxiliadora da saúde humana. O óleo extraído dessa planta é usado em tratamentos tópicos, orais e vaginais, por ter propriedades anti-inflamatórias, antissépticas e antimicrobianas. Também é usado para tratar tosses, catarros e dores musculares. Além disso, a casca da Copaíba é usada como cicatrizante de feridas. Já a Aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva), pertencente a Caatinga, tem propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias. O extrato das folhas, raízes e cascas dessa planta é usado em banhos de assento, chás e topicamente para tratar ferimentos, gastrites e doenças hemorroidárias. Por último, a Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), muito comum nos Pampas, ajuda a aliviar sintomas como azia, indigestão, gastrite e úlceras. Além de reduzir também a acidez estomacal e a proteger a mucosa gástrica, mediante ao consumo através de chá. Portanto, estes três casos de plantas medicinais da flora do Brasil representa apenas uma pequena parte do seu real potencial terapêutico nativo. A conclusão óbvia que se pode depreender desses exemplos é que os brasileiros possuem em seu território uma grande oportunidade de extrair propriedades medicinais das plantas, e em alguns casos, como é representativo da Espinheira-santa, podem encontrar soluções curativas para algumas doenças mais agressivas como úlceras, que são feridas abertas na pele ou nas mucosas do organismo, por meio de extratos vegetais de fácil acesso.
Sendo assim, imagine que os três exemplos de plantas medicinais expostos agora há pouco são apenas, para usar uma expressão corriqueira, a ponta de um iceberg. Pois diante dessa metáfora é possível vislumbrar que abaixo da superfície marítima, onde a maior parte dessa grande massa de gelo se encontra submersa e invisível, há ainda lugares a serem investigados e talvez oportunidades à vista. Pode-se, enfim, facilmente citar algumas vantagens do uso da alternativa natural oferecida pelas plantas frente ao uso de medicamentos sintéticos: é uma solução de baixo custo e acessível, quase nunca expressa efeito colateral e integra conhecimentos da medicina tradicional ao cotidiano. Demonstrando de maneira inequívoca o valor das plantas medicinais para aliviar as dores humanas.
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