Margarida de Alma Inquieta

Desconfio que tenha a alma estragada.

Fui levada a crer que o prazo de validade destas coisas seria maior.
70 anos talvez… 90 a correr bem.
Não encontro a data de expiração na embalagem,
mas 30 anos parece-me aquém.

Escrevi uma carta ao fornecedor a pedir reparação. 
Ou quem sabe uma substituição completa,
e fica o problema resolvido.
Uma nova vinha a calhar…
Uma que nunca tivesse sofrido,
que ainda fosse capaz de amar.

É que esta, já a sinto desbotada, sem cor.
Creio até que já tenha ganho bolor.
Fungos nos lugares mais profundos,
onde nem a felicidade momentânea,
daquela instantânea, já pronta a usar,
lhe consiga de tocar.
Tornou-se nesta coisa obsoleta,
de vontade incompleta.
Nem faz, nem deixa fazer.
Nem sente, nem deixa sentir.
E eu é que me lixo.
Que, por ter uma alma defeituosa,
quase já não existo.

Vivo neste estado apático,
num ritmo sistemático.
Sol ou chuva, dia ou noite.
Tudo é indiferente, 
dentro desta concha carente.
Tento acordar, 
tento cantar ou chorar,
mas não consigo,
não passo dum dispositivo,
que sofre de asfixia
e tem a bateria a chegar ao fim.
Não há excessos, excepto o excesso de ataraxia.
E a única emoção que sinto,
é ter pena de mim.

Raios com a alma.
Às vezes ainda penso:
Será que ma roubaram?
Será que lhe vendi parte e não me lembro?
Vou lá em baixo ao submundo
àquele lugar moribundo,
ver se desvendo o mistério.
(Já que o meu criador
não me deu qualquer remédio)

Desejem-me sorte.
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