marloff

marloff

Não sei falar de mim. Só sei tentar ser humano todos os dias.

Tarrafal de Santiago/Ponta Lagoa
2184
1
1

Invenção da seca



Chamávamos uns aos outros de ilha e as vezes de cabo-verdiano.

Pela pedra bruta, arroto ou magma sem estação marcada.

Fomos estigmatizados pelas mãos de um Cristo de fogo

apesar de esse vício de estar sentado nessas coisas de esperança

ou sonhos devastados até que se salva.

 

No nascer dos antigos dias nos mentiram que éramos tal cor verde.

Ainda me lembro que fabricávamos chuvas fora da estação,

tecidos no meio da pedra com linhas gigantes,

uns verdes, outras secas que traduzem pátrias cascalhudas,

fingíamos ser o criador do firmamento. Tentamos trazer só o sorriso, e saiu tudo em

língua da esperança.

 

Éramos ilhas inseparáveis, contra esquecimento.

Já há muitos dias velhos, já há anos esquecidos

tornámo-nos tão assimétrico ainda que pegamos as nossas mãos.

Sou terra sem berço, nação de canetas e terços tesos.

Aleitamos a terra verde no espírito e mãos no céu,

esquecemos a língua de traduzir, tudo em cabo-verdiano as cores verdes.

 

O homem de foice tem cortado as trincheiras

que impediam a caída das lágrimas de agosto

eles que souberam aprender as linguagens que esquecemos de aprender.

Eles de boina furada que trabalham com gosto.

 

A única tradução que fizemos de jeito nesta invenção foi perseguir a neve dos outros.

Mordíamos os risos da neve e aprendemos o valor das lágrimas das azaguas.

Ao vertermos escuridões em chuvas.
230
0

Mais como isto



Quem Gosta

Quem Gosta

Seguidores