Raimbaut de Vaqueiras

Raimbaut de Vaqueiras

Vacqueyras
1207-09-04 Ródope
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Alguns Poemas

Altas ondas que vêm por sobre o mar,

Altas ondas que vêm por sobre o mar,
que o vento faz mover, ir e voltar,
de meu amigo, o que podes contar?
Atravessou? Não o vejo retornar!
.............E ai Deus, este amor!
.........Ora traz-me alegria, ora causa-me dor!
Ai, tu que cá de lá chegas, ar doce,
lá d’onde dorme meu amigo à noite,
traz o cheiro doce do seu sopro hoje!
Abre-me a boca: paixão tal nunca houve.
.............E ai Deus, este amor!
.........Ora traz-me alegria, ora causa-me dor!
Dor de amar alguém de um país estranho,
vê tornar-se choro o riso e seus ganhos.
Do amor nunca esperei golpe tamanho,
pois que seus desejos sempre acompanho.
.............E ai Deus, este amor!
.........Ora traz-me alegria, ora causa-me dor!
Uma das características deste poema, que tentei ao máximo reproduzir na tradução, é a incrível profusão de monossílabos. Desse modo, tanta coisa é dita em tão poucas sílabas que a versão numa língua como o português se enche de problemas. Seu refrão, como se vê, é bastante simples: rima "amor" (amor) com "dor" (dolor). Representa fielmente, portanto, o caráter popular e ligeiro do gênero, traços tão distantes da costumeira riqueza e estranheza rímica das canções provençais e, particularmente, do próprio Raimbaut de Vaqueiras. Aquilo que a distingue (bem como ocorre com as canções galego-portuguesas) é a capacidade surpreendente de síntese realizada por meio da condensação de as suas intenções semânticas e sonoras: mesmo as interjeições, os oy! e ai!, transformam-se, monossílabos puramente vocálicos que são, em símbolos carregados de sentido e sentimento.
Acredito, portanto, que desestabilizar os esquemas genéricos é uma das formas mais eficazes de encontrar-se sozinho, embora preparado, diante de uma composição trovadoresca. Mas que os limites não sejam ignorados: entre "Altas undas que venez suz la mar" e "Ondas do mar de Vigo" ou "Ai ondas que eu vin veer", obras famosas do galego Martim Codax, há uma inevitável ligação. São todas marinhas nas quais o sujeito poético indaga às ondas por notícias do amigo que vai longe. Quanto às distâncias, o leitor atento logo as perceberá: Codax compõe por meio de reiterações e paralelismos impecáveis e constantes enquanto que todos os versos Raimbaut de Vaqueiras são, de certa forma, inéditos no contexto da composição (afora, obviamente, o refrão).
Outra peculiaridade da cantiga de Raimbaut de Vaqueiras é o fato de, na última estrofe, o sujeito poético referir-se ao amado como "vassal" — algo que a cartilha do trovadorismo galego-português não prevê porque estipula que essa personagem feminina nunca é de origem nobre, o que impossibilita as referências a um relacionamento que inspire esse jogo, típico das cantigas de amor, onde há um "vassalo" e uma "senhor". Apenas mais uma fuga de um esquema. Num contato real com os trovadores, portanto, toda atividade será de discernimento e de crítica. Nada mais contrário à estéril e passiva apreciação histórica que se faz de ouvidos inutilizados por circunstância e de olhos fechados por preguiça.
 Raimbaut de Vaqueiras nasceu em Vacqueyras, na região conhecida hoje como Vaucluse, por volta do ano de 1165, com algumas especulações supondo ainda a década anterior. Tem-se notícia mais concreta sobre o trovador em 1180, quando este viaja à Itália, unindo-se  em seguida à corte de Bonifacio I del Monferrato e tornando-se um dos primeiros trovadores occitanos a servir na Itália, considerado um difusor importante da poesia provençal no país que mais tarde geraria poetas como Dante Alighieri e Guido Cavalcanti,  fortemente influenciados pela poesia dos trovadores do sul da França e da Catalunha. Com Bonifácio, Raimbaut seria feito cavaleiro e serviria a seu lado, estando presente à queda de Constantinopla e escrevendo poemas que são considerados, além de grandes trabalhos poéticos, documentos também importantes para a compreensão da sua época, como é o caso de sua "Carta épica".
 
Raimbaut de Vaqueiras utiliza várias línguas, passando do provençal ao italiano, do francês ao galego, mostrando-nos mais uma vez, como também temos visto em nosso ciclo crítico sobre Caio Valério Catulo (84 - 54 a.C.) ou na postagem sobre Arnaut Daniel (1150 - 1210) - contemporâneo exato de Raimbaut de Vaqueiras -, que nosso conceito de vanguarda poderia ser reavaliado, substituindo certa mentalidade de tendência romântica, que busca rupturas dentro de uma fictícia tradição unívoca, em suposta evolução linear, por uma visão da história da poesia como a recorrência de problemas est-É-ticos e suas soluções formais, mostrando sucessivas "modernidades" a exigirem "atualizações",  com as religações simultâneas e paralelas a práticas negligenciadas por uma determinada narrativa crítica hegemônica. O trabalho dos trovadores ainda é uma das fontes mais frutíferas para uma renovação poética e busca de soluções formais novas/necessárias para os dias de hoje. No entanto, muitos preconceitos de literatos ainda cercam certas práticas poéticas, impedindo desde a compreensão ampla da poesia dos trovadores à de poetas ligados aDADA, aqueles agentes revivificadores de certas práticas da poesia medieval, da poesia sonora em performance às fatrasies em texto.
 
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