Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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27
O Mundo Dos Manobristas
depois de ter meu carro arrombado duas vezes
no hipódromo –
você sabe como é: sua porta está
arrombada quando você
chega
e dentro não há nada além de
grandes buracos vazios onde antes
havia o equipamento, nada além dos
fios
enrolados...
então me decidi pelo estacionamento
com manobristas
sentindo que seria mais barato
no longo
prazo...
e a primeira coisa que notei
no meu primeiro dia de estacionamento
com manobristas
foi que pelo preço
extra
eles serviam uma
conversinha
“ei, amigão, como você arranjou
um carro desses? você não tem cara
de muito inteligente... você deve ter
herdado uma grana do seu
pai...”
“você adivinhou”, eu disse ao
manobrista.
no dia seguinte outro manobrista
me disse “escuta, posso te arranjar
uma caixa barata de vinho e tem uma
garota aleijada no motel do outro lado do
hipódromo que faz o melhor boquete desde
Cleópatra...”
o manobrista seguinte disse “ei, cara de cu,
como é que vai?”
eu observava e percebia que os
manobristas tratavam os outros clientes com
civilidade padrão.
então
um dia
não quiseram me dar
recibo para o meu
carro.
“como vou provar que esse
carro é
meu?”
“você vai ter que
nos convencer...”
quando saí naquela
tarde
lá estava o meu carro
estacionado numa
saída junto à
cerca viva, não precisei
esperar como os
outros
e eu sempre escutava
alguma
historinha:
“ei, cara, minha esposa tentou
cometer suicídio...”
“eu acho
compreensível...”
dia após dia
diferentes histórias de
diferentes
manobristas:
“eu amo a minha esposa mas tenho uma
namorada e eu como ela que nem
louco... quer dizer, um dia tudo que eu vou ficar
fazendo é queimar uma fumacinha azul, então que
merda?”
“Frank”, eu disse a ele, “como você estica a sua
jogada é problema seu...”
e
tipo digamos
quarta passada houve uma estranha
ocorrência:
lá está o manobrista-chefe
e ele tem uns fones de ouvido e
microfone
que usava pra passar os carros dos
clientes
para os motoristas das picapes
distantes
e ele colocou os fones de ouvido
na minha cabeça e ali estava
o microfone
e ele me disse
“o Frank quer uma palavra
sua...”
e eu o vi lá adiante
operando a picape
branca
e falei no
microfone:
“Frank, bebê, tudo é
morte!”
e o escutei responder pelos
fones de ouvido:
“isso-aí porra!”
ele acenou e então precisou
pisar fundo no freio
e quase acertou um
Caddy 86 azul
foi nas corridas do Hollywood Park
verão de 1986
e os manobristas que estacionaram o
detonado BMW 1979 do
velho com os faróis de neblina
arrancados
e as pequenas cores da
bandeira alemã
canto esquerdo
janela traseira
entrei nessa máquina e rodei
pra longe de lá, os séculos ainda
avançando rumo ao escuro
para sempre e
para sempre
e rodei para o leste pelo Century
entrei na Harbor Freeway
ao sul
há muito mais coisa envolvida nas apostas
em cavalos do que pagar ou rasgar
recibos.
no hipódromo –
você sabe como é: sua porta está
arrombada quando você
chega
e dentro não há nada além de
grandes buracos vazios onde antes
havia o equipamento, nada além dos
fios
enrolados...
então me decidi pelo estacionamento
com manobristas
sentindo que seria mais barato
no longo
prazo...
e a primeira coisa que notei
no meu primeiro dia de estacionamento
com manobristas
foi que pelo preço
extra
eles serviam uma
conversinha
“ei, amigão, como você arranjou
um carro desses? você não tem cara
de muito inteligente... você deve ter
herdado uma grana do seu
pai...”
“você adivinhou”, eu disse ao
manobrista.
no dia seguinte outro manobrista
me disse “escuta, posso te arranjar
uma caixa barata de vinho e tem uma
garota aleijada no motel do outro lado do
hipódromo que faz o melhor boquete desde
Cleópatra...”
o manobrista seguinte disse “ei, cara de cu,
como é que vai?”
eu observava e percebia que os
manobristas tratavam os outros clientes com
civilidade padrão.
então
um dia
não quiseram me dar
recibo para o meu
carro.
“como vou provar que esse
carro é
meu?”
“você vai ter que
nos convencer...”
quando saí naquela
tarde
lá estava o meu carro
estacionado numa
saída junto à
cerca viva, não precisei
esperar como os
outros
e eu sempre escutava
alguma
historinha:
“ei, cara, minha esposa tentou
cometer suicídio...”
“eu acho
compreensível...”
dia após dia
diferentes histórias de
diferentes
manobristas:
“eu amo a minha esposa mas tenho uma
namorada e eu como ela que nem
louco... quer dizer, um dia tudo que eu vou ficar
fazendo é queimar uma fumacinha azul, então que
merda?”
“Frank”, eu disse a ele, “como você estica a sua
jogada é problema seu...”
e
tipo digamos
quarta passada houve uma estranha
ocorrência:
lá está o manobrista-chefe
e ele tem uns fones de ouvido e
microfone
que usava pra passar os carros dos
clientes
para os motoristas das picapes
distantes
e ele colocou os fones de ouvido
na minha cabeça e ali estava
o microfone
e ele me disse
“o Frank quer uma palavra
sua...”
e eu o vi lá adiante
operando a picape
branca
e falei no
microfone:
“Frank, bebê, tudo é
morte!”
e o escutei responder pelos
fones de ouvido:
“isso-aí porra!”
ele acenou e então precisou
pisar fundo no freio
e quase acertou um
Caddy 86 azul
foi nas corridas do Hollywood Park
verão de 1986
e os manobristas que estacionaram o
detonado BMW 1979 do
velho com os faróis de neblina
arrancados
e as pequenas cores da
bandeira alemã
canto esquerdo
janela traseira
entrei nessa máquina e rodei
pra longe de lá, os séculos ainda
avançando rumo ao escuro
para sempre e
para sempre
e rodei para o leste pelo Century
entrei na Harbor Freeway
ao sul
há muito mais coisa envolvida nas apostas
em cavalos do que pagar ou rasgar
recibos.
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