Charles Bukowski

Charles Bukowski

poeta, contista e romancista estadunidense

1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
313555
9
27

Sandra

é a alta e magra
donzela do quarto
de brincos
coberta por um longo
vestido
está sempre alta
em sapatos de salto
espírito
boletas
trago
Sandra se inclina
em sua cadeira
inclina-se em direção a
Glendale
aguardo que sua cabeça
bata na maçaneta
do guarda-roupa
enquanto ela tenta
acender
um novo cigarro num
outro já quase
consumido
aos 32 ela gosta de
jovens limpos
imaculados
com rostos semelhantes ao fundo
de pires recém-comprados
depois de se vangloriar
a não mais poder
acabou me trazendo seus prêmios
para que eu desse uma olhada:
garotos nulos, loiros e silenciosos
que
a) sentam
b) levantam
c) falam
ao seu comando
às vezes ela traz um
às vezes dois
às vezes três
para que eu os
veja
Sandra fica muito bem em
vestidos longos
Sandra pode partir provavelmente
o coração de um homem
espero que ela encontre
um.

Comecei a receber cartas de uma garota de Nova York. Seu nome era Mindy. Ela havia encontrado alguns dos meus livros por acaso, mas o melhor a respeito de suas cartas era que ela raramente mencionava algo sobre escrita exceto para dizer que ela não era uma escritora. Escrevia sobre as mais variadas coisas e sobre homens e sobre sexo em particular. Mindy tinha 25, escrevia à mão, e sua caligrafia era estável, sensível, com uma pitada de humor. Eu respondia suas cartas e era sempre uma alegria encontrar uma das dela na minha caixa de correio. Muitas pessoas dizem as coisas bem melhor em cartas do que em conversas, e algumas pessoas conseguem escrever cartas criativas, artísticas, mas quando tentam um poema, um conto ou um romance, tornam-se pretensiosas.
Então Mindy mandou algumas fotografias. Caso se pudesse confiar em sua veracidade, ela era bem bonita. Escrevemo-nos por mais algumas semanas e então ela mencionou que em breve tiraria duas semanas de férias.
– Por que você não pega um avião até aqui? – sugeri.
– Tudo bem – ela respondeu.
Começamos a nos telefonar. Por fim ela me deu a data de chegada de seu voo no L.A. International.
– Estarei lá – disse a ela –, nada poderá me impedir.
Sentei-me no aeroporto e esperei. Nunca se pode ter certeza com esse negócio de fotos. Não há garantias. Sentia-me prestes a vomitar. Acendi um cigarro e me veio um engulho. Por que eu fazia essas coisas? Não a queria mais agora. E Mindy voava de Nova York para cá. Eu conhecia um número grande de mulheres. Por que esse negócio de mais e mais mulheres? O que eu estava tentando fazer? Casos novos são excitantes, mas também dão um trabalho dos diabos. O primeiro beijo, a primeira foda sempre são um pouco dramáticos. As pessoas eram interessantes no início. Então mais tarde, devagar mas inevitavelmente, todas as imperfeições e as demências começariam a se manifestar. Eu seria então cada vez menos interessante para elas; e elas se tornariam cada vez menos importantes para mim.
Eu era velho e feio. Talvez por isso fosse tão bom meter nessas jovens garotas. Eu era o King Kong e elas flexíveis e macias. Será que eu estava tentando enganar a morte? Ficando com essas jovens eu tinha esperanças de não envelhecer, não me sentir um caco? Eu só não queria envelhecer sem dignidade, simplesmente desistir, estar morto antes da morte chegar.
O avião de Mindy pousou e começou a taxiar. Senti que estava a perigo. As mulheres me conheciam de antemão, pois haviam lido meus livros. Eu já havia me exposto. Por outro lado, eu não sabia nada delas. Eu era o verdadeiro jogador. Eu podia ser morto, ter minhas bolas cortadas. Chinaski castrado. Poemas de amor de um eunuco.
Fiquei esperando por Mindy. Os passageiros saíram pelo portão.
Oh, tomara que não seja aquela.
Ou aquela.
Especialmente aquela outra.
Bem, aquela ali estaria bem! Veja que pernas, que rabo, e esses olhos...
Uma delas veio em minha direção. Torci para que fosse ela. Era a melhor de todo o grupo. Eu não podia ter tanta sorte. Ela se aproximou e sorriu:
– Eu sou a Mindy.
– Estou feliz que você seja a Mindy.
– Estou feliz que você seja o Chinaski.
– Você precisa pegar alguma bagagem?
– Sim, trouxe o suficiente para uma longa estada!
– Vamos esperar no bar.
Entramos e encontramos uma mesa. Mindy pediu uma vodca com tônica. Pedi uma vodca-7.[14] Ah, quase em perfeita harmonia. Acendi-lhe o cigarro. Ela tinha uma ótima aparência, quase virginal. Era difícil de acreditar. Era baixinha, loira e perfeita de corpo. Era mais natural do que sofisticada. Era fácil olhá-la nos olhos, de um azul-esverdeado. Usava dois brincos pequenos. E usava sapatos de salto. Havia dito a Mindy que saltos altos me excitavam.
– Bem – ela disse –, você está assustado?
– Agora nem tanto. Gosto de você.
– Você é bem melhor pessoalmente do que nas fotos – ela disse. – Não acho você nem um pouco feio.
– Obrigado.
– Oh, não quis dizer que você é bonito, não no sentido que as pessoas dão pro termo. Seu rosto parece comum. Mas seus olhos... eles são lindos. São selvagens, loucos, como os olhos de um animal surgindo de uma floresta em chamas. Deus, alguma coisa desse tipo. Não sou muito boa com as palavras.
– Acho que você é linda – eu disse. – E muito gentil. É bom estar perto de você. Estou feliz de estarmos juntos. Beba. Precisamos de mais bebida. Você é como suas cartas.
Tomamos a segunda rodada e fomos buscar sua bagagem. Orgulhava-me estar ao lado de Mindy. Ela caminhava com estilo. Muitas mulheres com belos corpos apenas se arrastavam, como se fossem criaturas sobrecarregadas de peso. Mindy deslizava.
Eu seguia pensando, isso é bom demais. Isso simplesmente não é possível.
– Mulheres
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