CARTA À FILHA
O mundo é sujo, filha, estende o teu vestido
e então, por dois dias, espera teu marido
se ele não vier, vive tua lenda
respeita a ti mesma e costura tua renda
Que dos maridos o inferno está cheio
o inferno, o Outro da ordem caseira
De muitas mulheres eu mesmo fui vampiro
eu mesmo fui o estrago, o pinto, o trouxa, o pato
Toda palavra pode ser mais doce
e algumas são tão doces quanto a passa
da madura fruta e refletida
Explode as palavras, e o silêncio
insiste em que trabalhe a teu favor
para ouvires o que nasce e pulsa em ti.
(Antonio Aílton. CERZIR, Penalux, 2018)