stellarprince

stellarprince

Professor aposentado, poeta, escritor e consultor pedagógico.

1950-02-24 Campo Belo, MG, Brasil
36593
1
4


Alguns Poemas

UM TIO INESQUECÍVEL


Tio Zezé era um daqueles tios que gostava de conversar sobre tudo principalmente contar histórias,de pessoas, lugares sempre com toque misterioso no ar e nas suas palavras.
Dos irmãos mais velhos ajudou cuidar dos mais novos.
Logo cedo aprendeu a dividir com a irmã mais velha a responsabilidades de cuidados país que tragicamente por motivos diferentes adoeceram e partiram cedo.
Nunca casou-se viveu desde cedo assumindo a responsabilidade com os irmãos e dos negócios da família sendo nomeado tutor dos irmãos menores assim que a mãe morreu.
Passou a maior parte da sua vida no povoado pertencente à sua cidade natal, Porto dos Mendes.
Desde jovem, muito religioso, cuidou dos. Assuntos paroquiais, sendo sacristão e zelador da igreja.
Exerceu vários cargos no povoado, sendo representante do Instituto Butanta, em SP, Juiz de Paz, agente público de saúde, administrador da barca local para travessia do Rio Grande, entre outros.
Mas como tio,foi uma daquelas pessoas que gostava de passar seus conhecimentos, e suas estórias.
Falava das coisas que ouviu, que lhe contaram e de suas memórias.
De fala mansa com um sotaque peculiar tendendo ao lusitano.
Zé Neves sabia de tudo um pouco e no povoado que morava era um tipo de anfitrião.
Um irmão prestativo é carinhoso com os sobrinhos dos quais eu era o que morava mais distante fora do povoado.
Durante os anos que morei no Morro Grande, tive o privilégio de, algumas vezes, receber sua visita em casa e numa delas ele chegou com um Monjolo, em miniatura, media cerca de cinquenta centímetros talhado em madeira manualmente por ele e acompanhava o pilão bem feito da mesma forma.
Ele me disse: - vamos escolher um local para instalar e por para funcionar de verdade.
Depois de observar ao redor da casa ele escolheu um local e pegou algumas ferramentas e começou a preparar o local.
Disse: - aqui está bom, vamos fazer uma cabana, cobrir com sapé e instalar o monjolo debaixo da cobertura. Vamos desviar um pouco de água para cá colocando uma biquinha para encher o bojo do monjolo e fazer ele funcionar direitinho.
É assim em pouco tempo estava tudo funcionando... a cabana era pequenas mas eu cabia nela, sentado no chão observando o trabalho lindo que o tio fez.
Um gesto simples mas cheio de carinho e amor que deixou gratidão e lembranças para a vida toda!

ALMA DE GATO

Vovô  levou-me nos braços para mostrar a fazenda que havia comprado. Foi lá que vovó fora criada e eu logo de início gostei muito. 
Vovô todo orgulhoso disse me:
- filho, tudo isso agora é seu!
Colocou-me no chão e eu comecei a correr e explorar cada canto do casarão. Eu fiquei maravilhado com tudo, com tantos lugares, quartos, salas, varanda, cozinha, fogão a lenha enorme, banheiro com água quente aquecida e havia até uma banheira. As janelas de todos os cômodos mais pareciam portas de tão grandes e todas haviam duas partes a parte com vidros (vidraças) e a outra de madeira maciça.
E lá fora, havia um mundo para explorar, pomar, riacho, cachoeira, curral, mangueiral (onde criavam os porcos soltos), a tulha (armazém de cereais) o paiol (celeiro), nossa havia muita coisa a explorar e eu era praticamente sozinho, pois eu tinha apenas dois aninhos.
O tempo foi passando e eu cada vez mais gostando daquela fazenda, a vida lá era uma festa todos os dias, levantar cedo e observar a lida do meu avô, da minha avó e dos camaradas era muito divertido.
Eu estava sempre no meio dos adultos e gostava de ouvir estórias!
Sempre pedia para um camarada do vovô chamado Osmar para contar as suas estórias, mesmo que fossem repetidas.
Havia um pássaro que todos os dias era visto no alto de uma árvore próximo ao curral chamado Alma de Gato. Eu sempre corria para observar aquele pássaro quando ele aparecia por lá mas logo batia asa e desaparecia.
Meus olhos brilhavam quando avistava uma Alma de Gato só de imaginar o tesouro, as pedras preciosas e os diamantes que escondia em seu ninho, o qual ninguém consegue encontrar.
Osmar e vovó também contava que esta ave é guardiã de um tesouro imenso e que fica muito bem escondido n´alguma serra e que ninguém ainda conseguiu encontrar pois ele é muito esperto e zeloso.
Gostava de acordar bem cedo para apreciar a ordenha das vacas, tomar leite quentinho tirado na hora. Vovô já preparava logo uma caneca de alumínio para que eu bebesse o leito logo cedo.
Após a ordenha, cada qual saia para seus afazeres e eu corria lá para perto da árvore onde logo que o sol começasse a aquecer traria com seus raios a enigmática Alma de Gato e eu ficava a espiar lá de baixo a ave sorrateira no topo da árvore! Sonhava por descobrir seu esconderijo, mas sempre acabava perdendo-a de vista.
Assim passava a maioria dos meus dias de infância enquanto ficava com meus avós.
A Alma de Gato já não mais aparece por lá, pois sua árvore fora há muito cortada e meu sonho de encontrar aquele tesouro se perdeu...
Hoje quase nada mais é como antes, basta um vôo virtual pelo Google Earth para ver que a Fazenda da Mata já não mais existe, ah que tristeza!
A Alma de Gato para longe voou carregando seus tesouros e os sonhos daquela criança.
 

O pequeno polegar


O dia em que quase perdi o polegar
Era uma criança que desde cedo fui acostumado a ajudar meus pais nos afazeres da casa. Havia hora para trabalhar, estudar e brincar.
Nunca fui obrigado a fazer trabalhos pesados, mas sempre tive vontade de ter minhas pequena plantação, queria aprender a cultivar a terra e diante de meu pedido papai deixou uma pequena área para eu plantar. Ah como era gratificante depois de algum tempo ver germinar as sementes, crescer o feijão, o arroz, as ramas de batata, mandioca, as hortaliças.
Papai plantava de tudo para o nosso sustento e sobrava até para vender. Havia um plantio de mandioca que dava para fazer farinha e polvilho. Para facilitar o beneficiamento ele construiu uma engenhoca para ralar a mandioca exigindo-se pouca força devido as rodas e engrenagens da máquina. Até uma criança como eu, de sete, oito anos conseguia mover a manivela do ralador manual.
Certo dia, enquanto meus pais cuidavam de outros afazeres pedi para adiantar o serviço indo ralar mandioca. Não precisava de muita força para mover a roldana, o trabalho ia bem. Com a mão direita movimentava a manivela e com a esquerda empurrava a mandioca que produzia uma massa alva e espessa. A bacia aos poucos enchia daquela massa, tudo estava indo tranqüilo e sem cansaço.
De repente, o branco tornou-se rubro, mal pude perceber o que havia acontecido.
Como de repente aquela massa alva manchava-se de vermelho forte?
Foi tudo tão rápido que só depois de um tempo pude perceber o que havia acontecido.
Segurava firmemente a mandioca com minha mão esquerda quando de repente acabou se a raiz e foi o meu dedo sem que eu percebesse.
Os dentes do cilindro cravaram em meu dedo polegar deixando ranhuras profundas e quase o deslocando.
Deixei o local e segurando meu dedo com a mão direita e sai correndo gritando por meu pai.
- Pai, paieeeeeeee!
- O que foi filho?
Correu comigo para dentro de casa colocando logo um punhado de sal grosso com água lavando bem o ferimento que continuava sangrar.
Tratou de colocar um pano em volta amarrando-o e pegando-me ao colo acalentando-me na tentativa de acalmar-me.
Os dias se sucederam e o machucado estava com mau aspecto e ainda doendo muito.
Falei com meu pai que o meu dedo polegar estava com mau cheiro, e que o ferimento estava piorando.
Foi ai que ele resolveu levar-me ao Porto dos Mendes onde tio Cristiano possuía uma pequena farmácia, a única da região.
Chegando lá tio Cristiano tirou aquele pano que servia de curativo e fez uma assepsia terminando com um bom curativo com gazes e esparadrapo. Receitou-me alguns remédios e orientou papai como cuidar e fazer novos curativos.
Já se passou quase 50 anos e no meu dedo as marcas deste episódio do dia que quase perdi meu polegar.

A Casa onde Nasci !

O nome da rua ... não me lembro mas da rua, da casa, da vista que eu tinha da janela do quarto, da varanda...ah ainda está muito nítida em minha memória!
A casa ainda existe, aparentemente continua da mesma forma...
A rua é uma rua de subida, fica na saída da cidade, do lado sul, antiga saída para Aguanil, Porto dos Mendes, Boa Esperança.
Lembro-me dos caminhões que subiam a rua com seus motores cansados exalando aquela fumaça preta do diesel. Gostava de sentir aquele cheiro no ar, era algo diferente do campo... Além dos poucos caminhões que subiam a rua, durante o dia, passava além dos leiteiros em seus cavalos carregados de leite que era vendido de casa em casa... gostava do apito das carroças, da corneta anunciando a venda de picolés, ou de pães...
Ah quanta saudade vem na lembrança daquela primeira casa que me acolheu!
Lembro-me dos meus primeiros banhos que eram disputados pelas primas da minha mãe, (o nome delas não me recordo, apenas de como eram) e por minhas tias.
Não era nenhuma banheira dessas coloridas... era uma bacia de zinco colocada em cima de um suporte, não sei, mas acho que era um banquinho de madeira... mas era um banho delicioso, isso lembro muito bem!
A casa, por dentro, não era muito alegre não, achava um tanto escura, o quintal nos fundos da cozinha, era um misto de mato e canteiros com alguma verdura. Meus avós moravam na fazenda, a casa da cidade era apenas para os finais de semana quando todos vinham da roça, da fazenda.
Além das lembranças vivas já citadas, lembro-me de uma vez ao entrar no quarto ver meu pai chorando, não lembro ao certo se era devido a situação que passava nos primeiros anos de casamento, o meu nascimento que trouxe meus pais a casa de meus avós ou se meu pai estava doente, não sei ao certo. Sei que logo depois desse dia, soube que ele e minha mãe iriam para o Rio em visita ao meu tio Antonio, padre que morava no Rio de Janeiro. Lembro que fiquei sem nenhum problema com meus avós e com minha tia Gabriela que eu não me separava nunca!
Mas logo meus pais estavam de volta. Vieram com muitas estórias que eu ouvia atento!
Falavam da visita a um Navio de grande porte que meu tio levou-os para visitar... minha mãe falava como era grande por dentro, do mar imenso... narravam os passeios feitos ao Pão de Açúcar, a Quinta da Boa Vista, às praias e ao Palácio do Catete. Eram muitas estórias que me encantavam e sempre que as repetia para outras pessoas eu ficava atento para ouvir de novo!
Uma outra imagem forte que guardo foi a saída de um cortejo funerário saído de uma casa que ficava do outro lado de casa, um pouco mais abaixo. Lembro que acompanhei minha mãe e minha avó até a mureta do jardim e ficamos vendo a saída do cortejo, sei que era um caixão roxo com alças douradas. Fiquei a olhar aquela cena até sair rua acima e desaparecer rumo ao cemitério paroquial.
Pouco tempo depois, antes que eu completasse dois aninhos, a casa foi vendida e meu avô mudou para a Fazenda da Mata, só comprando outra casa na cidade anos mais tarde.
Neste período a nossa ida para a cidade ficava na casa da minha bisavó, a mãe vó, casa do tio Juarez e algumas vezes na casa da tia Dolores.
Eu não gostava muito, pois mesmo na minha inocência, eu já não me sentia em casa, era meio estranho, incômodo apesar de ser muito bem tratado e querido pelos tios e primos !
Essas são algumas das minhas memórias de infância, da mais tenra infância! Da casa onde nasci! Até da parteira, a "Sinh'ana" na época freqüentava mais amiúde esta casa!
São doces memórias!

MEU CÃO INESQUECÍVEL

Sou um apaixonado por cães grandes, já tive vários pastores alemães e um belga e muitas estórias para contar.
Mas na infância o meu primeiro cão ( aliás era o cão dos meus avós ) chamava-se Norte. Era um cachorro grande para um menino de dois ou três anos de idade. Eu podia até andar em cima dele, coitadinho, agüentava sem reclamar!
Era muito dócil vivia perambulando pelo casarão, pela cozinha, sala, varanda e ajudava meu avô na lida com o gado. Cachorro muito esperto, ia em busca da vaca mais arredia e trazia ao cural.
Uma coisa que me lembro muito bem era o seu sumiço diário, a certa hora do dia ele desaparecia. Depois de algum tempo descobri o que ele fazia todos os dias!
Ele ia até a fazenda do tio Orozimbo todos os dias ficava lá um pouco em busca de agrado e depois antes do final da tarde retornava para a fazenda da Mata. Era um percurso de cerca de dez quilômetros ida e volta.
Isto já era natural, todos sabiam, só eu que demorei um pouco para descobrir sua façanha.
Certo dia meu avô, a noitinha, chegou na cozinha onde estava minha vó e perguntou:
- Anita, você não viu o Norte ?
- Não, por quê, ele não voltou lá do Orozimbo?
- Não, costuma estar sempre aqui a esta hora, deitado lá na porta da sala, na varanda.
Ficamos todos ansiosos e ficamos a espera que no dia seguinte encontrássemos na porta abanando seu rabo.
A noite passou e logo pela manhã, com a chegada do retireiro veio a notícia.
- Madrinha Anita, o Zé encontrou o Norte morto lá na porteira, debaixo o velho Ipê.
A tristeza foi geral. Mas como morreu, o que lhe acontecera?
Meu avô logo veio com a resposta.
_ Anita, o Norte foi mordido por um cascavel, vi as marcas no pescoço dele.
Certamente ao passar lá pelas bandas do Morro da Onça deparou-se com um Cascavel, apesar de ter lutado mal deu para chegar até aqui.
Estava ele lá ao lado do Ipê, na porteira estirado no chão - morto. Inchado e no pescoço estava a marca indelével das presas da serpente.
Ele se foi, mas a sua lembrança paira até hoje em minha memória!
Sou um viajante do tempo, em busca de meus sonhos; na minha caminhada costumo ser alegre... rio, choro, me emociono com o olhar de uma criança, com o brilho do sol, da lua; o cantar dos pássaros. Sou um simples mortal que acredita na imortalidade da essência do Ser, do espírito . . As coisas que eu gosto? ... são as mais simples que existem. Gosto de ver o sol nascer, se por... ver a lua bailar no infinito espaço, e as estrelas enfeitando o manto negro e majestoso da noite... (e só de pensar que viemos e iremos ainda para alguma delas, chega a dar saudade ... !) Ver o rio correr tranqüilo seguindo seu curso sem reclamar, ouvir o sussurro do vento, o som dos pardais ao entardecer, o sorriso de uma criança, a sensualidade feminina, e tantas outras coisas mais que nos rodeiam!Como eu vejo as pessoas? ... Vejo as todas companheiras de viagem, indo em busca de algo; são viajantes das mais diferentes origens, oriundas de algum lugar do Universo e na maioria das vezes perdidas sem saber para onde irão e o que buscam ! Isto é triste! Sonhos ? ... sou um eterno sonhador ! " Sei, que n'algum lugar, muito além dos horizontes... nossos sonhos realmente acontecem! " Vou-me embora para PASARGADA , sonho de todo poeta, ir se embora para Pasárgada,..... Sinto-me privilegiado possuidor das chaves deste lugar, entretanto, sei que nada vale a pena se não for fruto de nosso próprio esforço... Do que adianta ser amigo do rei, ter tudo que se imagina e não ser feliz ? Prefiro seguir meu caminho, colhendo todas as pedras que encontro na estrada e utiliza-las para meu caminhar. Quem quiser ... acompanhe-me e caminhemos juntos!
Diones
Esse escrito me fez lembrar a minha amada! Gostei muito. Parabéns...
05/novembro/2018

Quem Gosta

Seguidores