

Deborah Gomides Ramos Malta
Sou estudante do curso de pedagogia, professora de música e gosto de escrever.
1990-10-02 Itapecerica - MG
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O Chiado Malvado - Deborah Gomides Ramos Malta (literatura infantil)
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O Chiado Malvado
por: Deborah Gomides Ramos Malta
Era uma vez, um menino chamado Augusto, e sua irmã. A menina Ágata e seu
irmão gostavam muito de assistir televisão. Gostavam tanto, mas tanto, que quando a
energia acabava, a brincadeira deles era fazer uma televisão de caixa de papelão.
Revezadamente, uma das crianças fazia a programação, enquanto a outra assistia.
Brincavam de novelinha, brincavam de telejornal, brincavam de programa de auditório, de
filme, de entrevista, de programa educativo e até de desenho animado.
Certa vez, eles foram passar um fim de semana na casa de seu avô Zaqueu. O avô
dessas duas crianças curiosas, era muito, mais muito inteligente. Ele possuía uma
enorme biblioteca em sua casa, e seu desejo era que seus netinhos começassem a se
interessar por ler e por estudar. E que eles estudassem bastante e pudessem aprender
muitas coisas novas, e que aprendendo essas muitas coisas novas, eles fossem mais
preparados para lidar com as diferentes situações da vida.
Acontece que esses dois irmãozinhos não gostavam muito de estudar, deixando as
expectativas de seu vovô um tanto frustradas. Mas ainda assim, o vovô Zaqueu insistia e
insistia para que seus amados netos adquirissem o gosto pelo estudo.
Nesse fim de semana, em que Augusto e Ágata foram para casa do vovô Zaqueu,
o vovô veio logo com um livro de matemática em direção a eles, dizendo que estava muito
triste porque soube que a professora deles estava triste, reclamando para os seus pais
que os dois irmãos não estavam conseguindo aprender nada do que ela tentava ensinar
sobre matemática.
E embora o livro fosse cheio de figuras coloridas, embora tivesse um monte de
jogos divertidos para treinar e embora eles até soubessem que aquele livro poderia fazêlos
bem, Ágata e Augusto se recusavam terminantemente a se quer olhar para aquele
livro tão proveitoso.
Desta vez, as crianças conseguiram deixar seu vovô mesmo irado. Ele ficou tão
bravo, mas tão bravo que deu-lhes um castigo:
_ Porque vocês não querem estudar e porque não podem nem pelo menos tentar
pelo seu avô, não vou deixar que vocês assistam televisão, e nem vou ligar para seus
pais buscarem vocês. Vocês terão que arrumar outra coisa para se distraírem. Eu vou
para a minha oficina consertar meu velho carro. Estou precisando muito dele.
_ Ah, vovô! Mas isso não é justo! - reivindicaram Augusto e Ágata.
Sem mais nenhuma palavra, vovô Zaqueu se virou e seguiu para sua oficina.
Ágata e Augusto já ficaram entediados só de pensar como seria ficar sem poder
assistir televisão. Estavam tão aborrecidos, que dessa vez nem quiseram brincar de sua
brincadeira favorita, pois parece que havia acabado toda a graça naquele momento.
E no sofá, jogados, o irmão e a irmã, um reclamava daqui, outro bufava dali, um
resmungava, e o outro dizia: "_ Blá!". Suspiravam fundo e gemiam com desânimo:
"_ Aaah!".
Como era difícil para eles ficar sem aquele aparelhinho cheio de novidades
instantâneas e fascinantes!
Até que de repente, começaram a ouvir um barulho esquisito. Que começou com
um pequeno:
"_Chhh..." Augusto e Ágata olharam para um lado, olharam para o outro, e não
conseguiam entender o que estava acontecendo.
"_ Chhhhh..." - aumentava mais um pouco o barulho. E Ágata e Augusto
começaram a ficar arrepiados, com medo...
"_ Chhhhhhh..." - e cada vez mais aumentava aquele barulho estranho, e os olhos
deles ficavam arregalados, e arregalavam-se mais, cada vez que aquele som se
prolongava ainda mais, até que seus olhos já estavam esbugalhados, e no meio daquele
imenso chiado aparecia uma voz que dizia:
"_ Alguém? _ Ei, tem alguém aí? Ágata abraçou seu irmão mais velho e perguntou:
_ Você ouviu o mesmo que eu?
_ Ouvi sim, - respondeu Augusto.
_ Será que devemos responder? - retrucou Ágata.
_ Eu não sei... - hesitou Augusto.
_ Crianças! Venham aqui! Eu sei que vocês estão aí! Não se preocupem! Não farei
mal a vocês!
Augusto e Ágata respiraram fundo. E decidiram que precisavam saber o que estava
acontecendo. Bem devegar, começaram a andar com passos bem levinhos, bem
cuidadosinhos, em direção à voz, com o cuidado de não fazer nenhum barulho. Eles
andavam em câmera lenta, como se estivessem pisando em ovos. Cada vez que
avançavam no caminho, colocavam a mão em formato de concha sobre a orelha, a fim de
apurarem os seus ouvidos, para seguirem a voz na direção certa.
A voz que continuava insistindo:
_ Venham aqui! Quero conversar com vocês! Eles foram seguindo, seguindo,
seguindo aquela voz, quando se deram conta de que estavam na porta do porão. Augusto
abria a porta bem devagar quando Ágata, que estava morrendo de medo, terminou de
abrir a porta bruscamente e acendeu a luz correndo. E a pobrezinha, que ofegava já sem
ar de tanto desespero, ainda achou forças para gritar:
_ Tem alguém aí? Nosso vô é um coronel aposentado e vai vir aqui prender você!
Realmente, o vovô Zaqueu teria servido ao exército e foi um excelente coronel. E
Ágata quis deixar bem claro que eles tinham alguém para os defender.
_ Eu já estou preso!
_ Ahn? Como assim? - perguntaram as crianças sem entender nadica de nada.
_ Estou preso na televisão!
_ Não acredito! - disse Augusto com as duas mãos na cabeça, quando avistou de
longe, de cima da escada, no chão lá em baixo, uma televisão antiga, jogada, no meio do
porão. E o mais intrigante! A tomada não estava ligada! Desceram devagar, e foram
descendo as escadas, até que chegaram na TV antiga que não emitia sinal nenhum além
de uns pequeninos grânulos coloridos de todas as cores, que se misturavam dentro da
tela insistentemente, juntamente ao barulho infinito que fazia:
"_ Chhhhhhhhh" - sem parar um minuto se quer.
_ Quem está escondido aí? - perguntou Ágata.
_ Não estou escondido. Vocês não estão me vendo?
_ Não... - disse Augusto com muito receio. _ Afinal, quem é você? - interrogou o
menino à voz, a fim de que talvez, a resposta daquela preocupante voz os fizessem
perceber algo diferente do que eles estavam vendo.
_ Ah, perdão, desculpe. Vou me apresentar a vocês. Prazer, o meu nome é Chiado.
_ Não acredito! É mesmo esse chiado da TV que está falando com a gente?! -
indagou Ágata de forma exclamativa. _ E chiados falam?
_ Falam sim. - respondeu o Chiado. É que só falamos quando queremos. E eu
percebi que vocês estavam tristes, por isso resolvi lhes contar um surpreendente segredo!
_ Puxa, que legal! O que você tem para nos contar? - perguntou Augusto
alegremente.
_ Esta antiga televisão de seu avô que ele jogou aqui como se faz com qualquer
velharia, é uma televisão mágica!
_ Uma televisão mágica? - surpreendeu-se Ágata. - _ Mágica como naquele filme
em que os personagens entram dentro da televisão e descobrem o mundo da TV?
_ Não. - respondeu o Chiado com sua voz de telefone. - _ É uma mágica nunca
antes imaginada. É muito legal e tenho certeza de que vocês vão gostar muito. Ainda
mais hoje, passando por esse terrível castigo de não poder assistir televisão.
Augusto e Ágata olharam um para o outro com os olhos baixos. No fundo, eles
sentiram que o Chiado não era tão legal assim, pois queria fazer com que as duas
crianças desobedecessem seu avô. Mas eles olhavam para o chiado, tornavam a olhar
um para o outro. E logo suas carinhas iam se animando até que Augusto disse:
_ Pois então, seu Chiado, nos conte logo o que você é capaz de fazer!
_ Coloquem um livro na minha frente e vocês verão!
Rapidamente, e animadamente, Ágata e Augusto pegaram o livro da história "O
Patinho Feio" do escritor dinamarquês "Hans Christian Andersen", na sessão de livros
infantis, na biblioteca de seu vovô.
Eles colocaram o livro com sua capa virada para a televisão, quando de repente,
no lugar de Chiado, aparecia a imagem da capa do livro, e uma voz doce de mulher, que
parecia até com a voz da mãe daquelas crianças, lia o título do livro, e o nome do autor.
Incrivelmente, o cisne do desenho da capa levantava e chacoalhava suas asas, enquanto
o balançar do rio fazia os pontos de brilho na água. E o melhor de tudo! Uma linda música
de fundo tocada por um piano embalava aquela linda figura animada.
_ Ooooohhh! - espantaram-se as crianças deslumbradas com o que viam.
A imagem da capa do livro sumiu e Chiado voltou dizendo que se eles quisessem
poderiam assistir a história inteira do livro. Ágata não pensou duas vezes. Puxou o livro
das mãos de seu irmão e o abriu na primeira página, ainda com as figuras em direção à
TV mágica.
_ "A mamãe pata tinha escolhido um lugar ideal para fazer seu ninho...." - contava
a narradora enquanto tudo o que ela dizia ia acontecendo dentro daquela maravilhosa
televisãozinha antiga.
E continuava a contar:
_“..., um cantinho bem protegido no meio da folhagem, perto do rio que contornava
o antigo castelo. Mais adiante, estendiam-se o bosque, e um lindo jardim florido. Naquele
lugar sossegado, a pata agora, aquecia pacientemente seus ovos."
As crianças assistiam aquele lindo filminho atônitas, e iam passando e passando as
páginas para que a história continuasse. Depois quiseram assistir mais, e mais, e fizeram
o mesmo com o livro da "Chapéuzinho Vermelho", fizeram novamente o mesmo com o
livro dos "Três Porquinhos", o mesmo com o livro da "Caixinhos Dourados", com o livro do
"Pequeno Polegar", o livro do "Pequeno Príncipe", de "Joãozinho e Maria", "O Gato de
Botas" e tantos outros que eles encontraram na imensa biblioteca do vovô Zaqueu.
Estavam tão impressionados com aquilo tudo, que só quando não havia mais livro
para ler, foi que eles se deram conta de que todas as imagens dos livros haviam sumido.
_ Ai! Não acredito! - disse Augusto espantado.
_ O vovô vai acabar com a gente! - se queixou Ágata desesperada.
_ Chiado! Chiado! O que você fez? Devolva-nos os desenhos do livro! - corriam em
direção à estranha TV acreditando que o malvado Chiado resolveria para eles aquela
terrível situação.
_ Hahaha! - Chiado ria assustadoramente. - _ Como vocês são bobinhos! Não
sabiam que se vocês não gravassem a programação da televisão em um vídeo cassete,
não teria como assistir novamente os filmes nela passados?
_ Não nos enrole! - advertiu Augusto. - Não estamos falando disso! Acontece que
você apagou todas as figuras nos livros!
_ Pois é, e vocês só se deram conta no final, de tanto que vocês gostam de livros!
_ Acontece, seu Chiado Malvado, que esses livros são a paixão do vovô! E
estamos muito encrencados. A culpa de tudo isso é sua, e você tem que nos tirar dessa!
_ Tudo bem! Só que tem um probleminha. Isso é impossível! Hahahaha! -
continuava rindo apavorantemente.
_ Não é justo! - reivindicou Augusto. - Diga-nos! O que faremos agora?
E ironizando com a situação Chiado sugeriu:
_ Pintem todas as figuras nos livros novamente! Se vocês forem capazes!
Hahahaha! - continuava debochando deles o malvado Chiado.
_ Ei! Faça alguma coisa por nós! Faça alguma coisa! - gritava Ágata segurando a
televisãozinha e a chacolhando, até que o Chiado simplesmente sumiu, e a televisão se
apagou.
Os irmaõs começaram a chorar, e a chorar, e choraram tão alto que o vovô Zaqueu
ouviu lá de sua oficina e saiu correndo para ver o que havia acontecido.
_ Ei! Crianças! Crianças! Por que vocês estão chorando desse jeito?
Augusto e Ágata engoliram seco quando perceberam que seu avô havia chegado e
tremeram de medo. Eles se deram as mãos e caminhavam para trás, de costas, olhando
para o avô, que percebeu que algo estava muito errado ali.
_ Eu sei que vocês aprontaram pelas suas caras e tratem logo de ir dizendo o que
aconteceu, porque não vou tolerar ter que descobrir sozinho!
_ Vô, vô! - Dizia Ágata chorando, com voz de como quem emplora o perdão. - Nos
perdoe! mas sem querer fizemos algo horrível para seus livros!
_ Meus livros! - gritou o avô furioso, sem conseguir imaginar o que poderia ter
acontecido, já inclusive pensando que todos haviam sido rasgados.
Augusto pegou rapidamente um dos livros e levou para o vô que não entendia o
que havia acontecido.
_ Mas o que é isso? Suas crianças atrevidas! O que vocês fizeram?
_ Na verdade não fomos nós, vovô! - tentava explicar, Ágata. - Foi um tal de Chiado
que apareceu nessa televisãozinha antiga, que nos chamou quando ainda estávamos lá
na sala e disse que sabia fazer uma mágica.
O avô ouviu toda história, pois, mesmo não conseguindo acreditar, percebeu que
as crianças não conseguiriam fazer tudo aquilo sozinhas, e que aquele chiado parecia
mais ter sido impresso ali, do que pintado.
Quando Augusto e Ágata terminaram de relatar o que havia ocorrido, vovô Zaqueu
se apressou em ligar a pequena TV, mas nada aconteceu porque a mesma nem se quer
ligava, mesmo na tomada.
_ Eu ainda não entendo como vocês podem ter visto um chiado aqui, se esta TV
está quebrada a anos! - argumentou o vovô.
_ Acontece vovô, que esse tal de Chiado, apareceu mesmo com a TV desligada da
tomada, e como dissemos para o senhor, ele disse que a tv era mágica. E no final de tudo
ainda se riu de nós, e disse pro Augusto que poderíamos pintar todos os livros
novamente. - denunciou, Ágata, a façanha de Chiado.
_ Vovô! Consiga para nós as tintas, e prometemos que iremos pintar todos os livros
para você novamente! - implorou Augusto.
_ Sim, vovô! E também que vamos estudar, e ler mais livros do que assistir
televisão! - completou Ágata.
_ Tá certo, vou deixar vocês se retratarem. Vou comprar as tintas. Consertei meu
carro.
_ Podemos ir com você, vovô? - Perguntaram seus netos.
_ Não, não senhores! - respondeu o vovô ainda chateado. Vocês vão ficar aí
pensando no que fizeram. A vovó está chegando, e vou deixá-los com ela. Assim vocês
não precisarão temer esse tal de Chiado. - dizia o vovô ainda intrigado com aqueles
relatos.
A vovó Esmeralda chegou e preparou um bolo delicioso e quentinho para seus
netinhos, e serviu com um chá bem quentinho. Ela soube de tudo que aconteceu e deu
vários conselhos para Ágata e Augusto. Eles ficaram esperando nas cadeiras da varanda,
assistindo o pôr-do-sol, enquanto a vovó Esmeralda contava sobre um molusco chamado
"Mantis Shrimp", que enxerga treze cores a mais, que os nossos olhos humanos não são
capazes de ver. E ainda contava também, que os cachorros não são capazes de ver
tantas cores como nós.
Os netinhos refletiam, e suspiravam enquanto ouviam os saberes da vovó. Quando
o vovô chegou, os três saltaram de alegria e correram até ele. Abrindo a sacola de tintas,
ainda na mão do vovô, Augusto se desmotivou um tanto, quando viu que vovô Zaqueu
trazia consigo apenas cinco cores de tinta: o vermelho, o amarelo, o azul, o branco e o
preto.
Ele o questionava sobre as outras cores. Sentia falta do laranja e perguntava como
ele pintaria os bicos dos patinhos da história do "Patinho Feio". Perguntava como pintaria
de roxo, as uvas de "A Raposa e as Uvas", como pintaria, sem o verde, tantas florestas
existentes em tantos daqueles livros, como pintaria os catelos sem ter marrom, e até
mesmo questionou como pintaria de cinza os ratos das fábulas de Esopo, como "O Rato e
a Ratoeira", ou ainda "O Leão e o Rato".
_ Bem, estes cinco frascos de tinta, é o que concedo a vocês. E tratem de dar a
cada figura, a cor que elas merecem! - concluiu o avô.
Imediatamente, toda aquela alegria escapou dos olhos de Ágata e Augusto. A vovó
por trás deles, segurava um sorrisinho que quase deixava escapar, e que ela prendeu
rapidamente quando eles se viraram e olharam para ela.
_ Vovó! - exclamou Ágata. - A senhora que é tão sábia, tão inteligente e tão
amorosa, será que poderia nos ajudar de alguma forma?
_ Ora, ora, ora... - dizia a vovó, vocês têm cinco cores de tinta na mão. Aconselho
vocês a começarem o trabalho logo. Pintem somente o que possui a cor certa e depois
pensaremos em algo. Isso não animou muito as crianças, porém elas trataram de
começar rapidinho, mesmo com medo de que os desenhos ficassem pela metade no final.
_ Vovô? O que você está fazendo aqui? - perguntou Augusto ao chegar na oficina.
_ Estou lixando levemente e com muito cuidado essas partes com chiado dos
livros, para que chegue na parte branca do papel, para que a pintura de vocês seja
possível.
Ágata e Augusto ficaram um pouco mais aliviados em saber que o vovô estava
ajudando, mas ainda estavam um pouco preocupados. Vovô Zaqueu já tinha lixado alguns
livros e seus netinhos começaram os desenhos por estes livros que já estavam
preparados para receber as tintas.
Eles logo estavam pintando e até mesmo se distraindo com aquela tarefa. Até que
de repente, sem querer, Augusto mergulhou a ponta de seu pincel, que estava ainda com
tinta vermelha, antes de lavá-lo, na vasilhinha com um pouco de tinta azul, e quando
percebeu tirou o pincel dali, assustado, pois mesmo não sabendo por quê, ele queria
obedecer a vovó que disse que eles deveriam retirar toda a tinda do pincel num copinho
com água antes de trocar de cor.
Porém, quando ele olhou para a ponta do pincel, percebeu que a tinta estava se
transformando na cor roxa! E ele começou a mostrar para todos, feliz com o que ele
acabava de descobrir! Então a vovó que já sabia que era possível tal façanha, disse para
as crianças:
_ Parabéns pelo empenho de vocês! E a vovó sabia que encontrariam a solução
para os problemas! O que vocês têm que fazer agora, é misturar todas as cores
possíveis. - disse a vovó, já indo providenciar mais vasilhinhas para que eles pudessem
fazer todas as experiências possíveis com aquelas tintas.
Misturando o azul com o branco, conseguiram o azul do céu para pintar todos os
livros do vovô, de histórias que mostravam o imenso azul por entre as nuvens
branquinhas. E assim foram eles, misturando, salvando novas cores, e cumprindo a tarefa
para deixar o vovô novamente feliz.
E, como recompensa, o vovô Zaqueu fez uma linda televisão de madeira com
abertura em baixo, para que seus netinhos pudessem brincar de sua brincadeira favorita
sempre. Com aquela nova e linda televisão, eles sempre se lembrariam daquele dia e a
televisãozinha sempre estaria pronta para a diversão. E vovô Zaqueu e vovó Esmeralda,
só lhes impuseram uma condição:
_ Quem começa somos nós!
E assim, os quatro puderam brincar juntos e as crianças se divertiram muito com o
vovô e a vovó encenando aqueles filmes antigos de que os avós gostavam. Mais tarde, o
pai e a mãe das crianças, chegaram para buscá-los e também tiveram que participar da
brincadeira. E a partir desse dia, Ágata e Augusto estudaram mais, e só assistiam
televisão depois que obedeciam seus pais e seus avós, em tudo.
O Chiado Malvado
por: Deborah Gomides Ramos Malta
Era uma vez, um menino chamado Augusto, e sua irmã. A menina Ágata e seu
irmão gostavam muito de assistir televisão. Gostavam tanto, mas tanto, que quando a
energia acabava, a brincadeira deles era fazer uma televisão de caixa de papelão.
Revezadamente, uma das crianças fazia a programação, enquanto a outra assistia.
Brincavam de novelinha, brincavam de telejornal, brincavam de programa de auditório, de
filme, de entrevista, de programa educativo e até de desenho animado.
Certa vez, eles foram passar um fim de semana na casa de seu avô Zaqueu. O avô
dessas duas crianças curiosas, era muito, mais muito inteligente. Ele possuía uma
enorme biblioteca em sua casa, e seu desejo era que seus netinhos começassem a se
interessar por ler e por estudar. E que eles estudassem bastante e pudessem aprender
muitas coisas novas, e que aprendendo essas muitas coisas novas, eles fossem mais
preparados para lidar com as diferentes situações da vida.
Acontece que esses dois irmãozinhos não gostavam muito de estudar, deixando as
expectativas de seu vovô um tanto frustradas. Mas ainda assim, o vovô Zaqueu insistia e
insistia para que seus amados netos adquirissem o gosto pelo estudo.
Nesse fim de semana, em que Augusto e Ágata foram para casa do vovô Zaqueu,
o vovô veio logo com um livro de matemática em direção a eles, dizendo que estava muito
triste porque soube que a professora deles estava triste, reclamando para os seus pais
que os dois irmãos não estavam conseguindo aprender nada do que ela tentava ensinar
sobre matemática.
E embora o livro fosse cheio de figuras coloridas, embora tivesse um monte de
jogos divertidos para treinar e embora eles até soubessem que aquele livro poderia fazêlos
bem, Ágata e Augusto se recusavam terminantemente a se quer olhar para aquele
livro tão proveitoso.
Desta vez, as crianças conseguiram deixar seu vovô mesmo irado. Ele ficou tão
bravo, mas tão bravo que deu-lhes um castigo:
_ Porque vocês não querem estudar e porque não podem nem pelo menos tentar
pelo seu avô, não vou deixar que vocês assistam televisão, e nem vou ligar para seus
pais buscarem vocês. Vocês terão que arrumar outra coisa para se distraírem. Eu vou
para a minha oficina consertar meu velho carro. Estou precisando muito dele.
_ Ah, vovô! Mas isso não é justo! - reivindicaram Augusto e Ágata.
Sem mais nenhuma palavra, vovô Zaqueu se virou e seguiu para sua oficina.
Ágata e Augusto já ficaram entediados só de pensar como seria ficar sem poder
assistir televisão. Estavam tão aborrecidos, que dessa vez nem quiseram brincar de sua
brincadeira favorita, pois parece que havia acabado toda a graça naquele momento.
E no sofá, jogados, o irmão e a irmã, um reclamava daqui, outro bufava dali, um
resmungava, e o outro dizia: "_ Blá!". Suspiravam fundo e gemiam com desânimo:
"_ Aaah!".
Como era difícil para eles ficar sem aquele aparelhinho cheio de novidades
instantâneas e fascinantes!
Até que de repente, começaram a ouvir um barulho esquisito. Que começou com
um pequeno:
"_Chhh..." Augusto e Ágata olharam para um lado, olharam para o outro, e não
conseguiam entender o que estava acontecendo.
"_ Chhhhh..." - aumentava mais um pouco o barulho. E Ágata e Augusto
começaram a ficar arrepiados, com medo...
"_ Chhhhhhh..." - e cada vez mais aumentava aquele barulho estranho, e os olhos
deles ficavam arregalados, e arregalavam-se mais, cada vez que aquele som se
prolongava ainda mais, até que seus olhos já estavam esbugalhados, e no meio daquele
imenso chiado aparecia uma voz que dizia:
"_ Alguém? _ Ei, tem alguém aí? Ágata abraçou seu irmão mais velho e perguntou:
_ Você ouviu o mesmo que eu?
_ Ouvi sim, - respondeu Augusto.
_ Será que devemos responder? - retrucou Ágata.
_ Eu não sei... - hesitou Augusto.
_ Crianças! Venham aqui! Eu sei que vocês estão aí! Não se preocupem! Não farei
mal a vocês!
Augusto e Ágata respiraram fundo. E decidiram que precisavam saber o que estava
acontecendo. Bem devegar, começaram a andar com passos bem levinhos, bem
cuidadosinhos, em direção à voz, com o cuidado de não fazer nenhum barulho. Eles
andavam em câmera lenta, como se estivessem pisando em ovos. Cada vez que
avançavam no caminho, colocavam a mão em formato de concha sobre a orelha, a fim de
apurarem os seus ouvidos, para seguirem a voz na direção certa.
A voz que continuava insistindo:
_ Venham aqui! Quero conversar com vocês! Eles foram seguindo, seguindo,
seguindo aquela voz, quando se deram conta de que estavam na porta do porão. Augusto
abria a porta bem devagar quando Ágata, que estava morrendo de medo, terminou de
abrir a porta bruscamente e acendeu a luz correndo. E a pobrezinha, que ofegava já sem
ar de tanto desespero, ainda achou forças para gritar:
_ Tem alguém aí? Nosso vô é um coronel aposentado e vai vir aqui prender você!
Realmente, o vovô Zaqueu teria servido ao exército e foi um excelente coronel. E
Ágata quis deixar bem claro que eles tinham alguém para os defender.
_ Eu já estou preso!
_ Ahn? Como assim? - perguntaram as crianças sem entender nadica de nada.
_ Estou preso na televisão!
_ Não acredito! - disse Augusto com as duas mãos na cabeça, quando avistou de
longe, de cima da escada, no chão lá em baixo, uma televisão antiga, jogada, no meio do
porão. E o mais intrigante! A tomada não estava ligada! Desceram devagar, e foram
descendo as escadas, até que chegaram na TV antiga que não emitia sinal nenhum além
de uns pequeninos grânulos coloridos de todas as cores, que se misturavam dentro da
tela insistentemente, juntamente ao barulho infinito que fazia:
"_ Chhhhhhhhh" - sem parar um minuto se quer.
_ Quem está escondido aí? - perguntou Ágata.
_ Não estou escondido. Vocês não estão me vendo?
_ Não... - disse Augusto com muito receio. _ Afinal, quem é você? - interrogou o
menino à voz, a fim de que talvez, a resposta daquela preocupante voz os fizessem
perceber algo diferente do que eles estavam vendo.
_ Ah, perdão, desculpe. Vou me apresentar a vocês. Prazer, o meu nome é Chiado.
_ Não acredito! É mesmo esse chiado da TV que está falando com a gente?! -
indagou Ágata de forma exclamativa. _ E chiados falam?
_ Falam sim. - respondeu o Chiado. É que só falamos quando queremos. E eu
percebi que vocês estavam tristes, por isso resolvi lhes contar um surpreendente segredo!
_ Puxa, que legal! O que você tem para nos contar? - perguntou Augusto
alegremente.
_ Esta antiga televisão de seu avô que ele jogou aqui como se faz com qualquer
velharia, é uma televisão mágica!
_ Uma televisão mágica? - surpreendeu-se Ágata. - _ Mágica como naquele filme
em que os personagens entram dentro da televisão e descobrem o mundo da TV?
_ Não. - respondeu o Chiado com sua voz de telefone. - _ É uma mágica nunca
antes imaginada. É muito legal e tenho certeza de que vocês vão gostar muito. Ainda
mais hoje, passando por esse terrível castigo de não poder assistir televisão.
Augusto e Ágata olharam um para o outro com os olhos baixos. No fundo, eles
sentiram que o Chiado não era tão legal assim, pois queria fazer com que as duas
crianças desobedecessem seu avô. Mas eles olhavam para o chiado, tornavam a olhar
um para o outro. E logo suas carinhas iam se animando até que Augusto disse:
_ Pois então, seu Chiado, nos conte logo o que você é capaz de fazer!
_ Coloquem um livro na minha frente e vocês verão!
Rapidamente, e animadamente, Ágata e Augusto pegaram o livro da história "O
Patinho Feio" do escritor dinamarquês "Hans Christian Andersen", na sessão de livros
infantis, na biblioteca de seu vovô.
Eles colocaram o livro com sua capa virada para a televisão, quando de repente,
no lugar de Chiado, aparecia a imagem da capa do livro, e uma voz doce de mulher, que
parecia até com a voz da mãe daquelas crianças, lia o título do livro, e o nome do autor.
Incrivelmente, o cisne do desenho da capa levantava e chacoalhava suas asas, enquanto
o balançar do rio fazia os pontos de brilho na água. E o melhor de tudo! Uma linda música
de fundo tocada por um piano embalava aquela linda figura animada.
_ Ooooohhh! - espantaram-se as crianças deslumbradas com o que viam.
A imagem da capa do livro sumiu e Chiado voltou dizendo que se eles quisessem
poderiam assistir a história inteira do livro. Ágata não pensou duas vezes. Puxou o livro
das mãos de seu irmão e o abriu na primeira página, ainda com as figuras em direção à
TV mágica.
_ "A mamãe pata tinha escolhido um lugar ideal para fazer seu ninho...." - contava
a narradora enquanto tudo o que ela dizia ia acontecendo dentro daquela maravilhosa
televisãozinha antiga.
E continuava a contar:
_“..., um cantinho bem protegido no meio da folhagem, perto do rio que contornava
o antigo castelo. Mais adiante, estendiam-se o bosque, e um lindo jardim florido. Naquele
lugar sossegado, a pata agora, aquecia pacientemente seus ovos."
As crianças assistiam aquele lindo filminho atônitas, e iam passando e passando as
páginas para que a história continuasse. Depois quiseram assistir mais, e mais, e fizeram
o mesmo com o livro da "Chapéuzinho Vermelho", fizeram novamente o mesmo com o
livro dos "Três Porquinhos", o mesmo com o livro da "Caixinhos Dourados", com o livro do
"Pequeno Polegar", o livro do "Pequeno Príncipe", de "Joãozinho e Maria", "O Gato de
Botas" e tantos outros que eles encontraram na imensa biblioteca do vovô Zaqueu.
Estavam tão impressionados com aquilo tudo, que só quando não havia mais livro
para ler, foi que eles se deram conta de que todas as imagens dos livros haviam sumido.
_ Ai! Não acredito! - disse Augusto espantado.
_ O vovô vai acabar com a gente! - se queixou Ágata desesperada.
_ Chiado! Chiado! O que você fez? Devolva-nos os desenhos do livro! - corriam em
direção à estranha TV acreditando que o malvado Chiado resolveria para eles aquela
terrível situação.
_ Hahaha! - Chiado ria assustadoramente. - _ Como vocês são bobinhos! Não
sabiam que se vocês não gravassem a programação da televisão em um vídeo cassete,
não teria como assistir novamente os filmes nela passados?
_ Não nos enrole! - advertiu Augusto. - Não estamos falando disso! Acontece que
você apagou todas as figuras nos livros!
_ Pois é, e vocês só se deram conta no final, de tanto que vocês gostam de livros!
_ Acontece, seu Chiado Malvado, que esses livros são a paixão do vovô! E
estamos muito encrencados. A culpa de tudo isso é sua, e você tem que nos tirar dessa!
_ Tudo bem! Só que tem um probleminha. Isso é impossível! Hahahaha! -
continuava rindo apavorantemente.
_ Não é justo! - reivindicou Augusto. - Diga-nos! O que faremos agora?
E ironizando com a situação Chiado sugeriu:
_ Pintem todas as figuras nos livros novamente! Se vocês forem capazes!
Hahahaha! - continuava debochando deles o malvado Chiado.
_ Ei! Faça alguma coisa por nós! Faça alguma coisa! - gritava Ágata segurando a
televisãozinha e a chacolhando, até que o Chiado simplesmente sumiu, e a televisão se
apagou.
Os irmaõs começaram a chorar, e a chorar, e choraram tão alto que o vovô Zaqueu
ouviu lá de sua oficina e saiu correndo para ver o que havia acontecido.
_ Ei! Crianças! Crianças! Por que vocês estão chorando desse jeito?
Augusto e Ágata engoliram seco quando perceberam que seu avô havia chegado e
tremeram de medo. Eles se deram as mãos e caminhavam para trás, de costas, olhando
para o avô, que percebeu que algo estava muito errado ali.
_ Eu sei que vocês aprontaram pelas suas caras e tratem logo de ir dizendo o que
aconteceu, porque não vou tolerar ter que descobrir sozinho!
_ Vô, vô! - Dizia Ágata chorando, com voz de como quem emplora o perdão. - Nos
perdoe! mas sem querer fizemos algo horrível para seus livros!
_ Meus livros! - gritou o avô furioso, sem conseguir imaginar o que poderia ter
acontecido, já inclusive pensando que todos haviam sido rasgados.
Augusto pegou rapidamente um dos livros e levou para o vô que não entendia o
que havia acontecido.
_ Mas o que é isso? Suas crianças atrevidas! O que vocês fizeram?
_ Na verdade não fomos nós, vovô! - tentava explicar, Ágata. - Foi um tal de Chiado
que apareceu nessa televisãozinha antiga, que nos chamou quando ainda estávamos lá
na sala e disse que sabia fazer uma mágica.
O avô ouviu toda história, pois, mesmo não conseguindo acreditar, percebeu que
as crianças não conseguiriam fazer tudo aquilo sozinhas, e que aquele chiado parecia
mais ter sido impresso ali, do que pintado.
Quando Augusto e Ágata terminaram de relatar o que havia ocorrido, vovô Zaqueu
se apressou em ligar a pequena TV, mas nada aconteceu porque a mesma nem se quer
ligava, mesmo na tomada.
_ Eu ainda não entendo como vocês podem ter visto um chiado aqui, se esta TV
está quebrada a anos! - argumentou o vovô.
_ Acontece vovô, que esse tal de Chiado, apareceu mesmo com a TV desligada da
tomada, e como dissemos para o senhor, ele disse que a tv era mágica. E no final de tudo
ainda se riu de nós, e disse pro Augusto que poderíamos pintar todos os livros
novamente. - denunciou, Ágata, a façanha de Chiado.
_ Vovô! Consiga para nós as tintas, e prometemos que iremos pintar todos os livros
para você novamente! - implorou Augusto.
_ Sim, vovô! E também que vamos estudar, e ler mais livros do que assistir
televisão! - completou Ágata.
_ Tá certo, vou deixar vocês se retratarem. Vou comprar as tintas. Consertei meu
carro.
_ Podemos ir com você, vovô? - Perguntaram seus netos.
_ Não, não senhores! - respondeu o vovô ainda chateado. Vocês vão ficar aí
pensando no que fizeram. A vovó está chegando, e vou deixá-los com ela. Assim vocês
não precisarão temer esse tal de Chiado. - dizia o vovô ainda intrigado com aqueles
relatos.
A vovó Esmeralda chegou e preparou um bolo delicioso e quentinho para seus
netinhos, e serviu com um chá bem quentinho. Ela soube de tudo que aconteceu e deu
vários conselhos para Ágata e Augusto. Eles ficaram esperando nas cadeiras da varanda,
assistindo o pôr-do-sol, enquanto a vovó Esmeralda contava sobre um molusco chamado
"Mantis Shrimp", que enxerga treze cores a mais, que os nossos olhos humanos não são
capazes de ver. E ainda contava também, que os cachorros não são capazes de ver
tantas cores como nós.
Os netinhos refletiam, e suspiravam enquanto ouviam os saberes da vovó. Quando
o vovô chegou, os três saltaram de alegria e correram até ele. Abrindo a sacola de tintas,
ainda na mão do vovô, Augusto se desmotivou um tanto, quando viu que vovô Zaqueu
trazia consigo apenas cinco cores de tinta: o vermelho, o amarelo, o azul, o branco e o
preto.
Ele o questionava sobre as outras cores. Sentia falta do laranja e perguntava como
ele pintaria os bicos dos patinhos da história do "Patinho Feio". Perguntava como pintaria
de roxo, as uvas de "A Raposa e as Uvas", como pintaria, sem o verde, tantas florestas
existentes em tantos daqueles livros, como pintaria os catelos sem ter marrom, e até
mesmo questionou como pintaria de cinza os ratos das fábulas de Esopo, como "O Rato e
a Ratoeira", ou ainda "O Leão e o Rato".
_ Bem, estes cinco frascos de tinta, é o que concedo a vocês. E tratem de dar a
cada figura, a cor que elas merecem! - concluiu o avô.
Imediatamente, toda aquela alegria escapou dos olhos de Ágata e Augusto. A vovó
por trás deles, segurava um sorrisinho que quase deixava escapar, e que ela prendeu
rapidamente quando eles se viraram e olharam para ela.
_ Vovó! - exclamou Ágata. - A senhora que é tão sábia, tão inteligente e tão
amorosa, será que poderia nos ajudar de alguma forma?
_ Ora, ora, ora... - dizia a vovó, vocês têm cinco cores de tinta na mão. Aconselho
vocês a começarem o trabalho logo. Pintem somente o que possui a cor certa e depois
pensaremos em algo. Isso não animou muito as crianças, porém elas trataram de
começar rapidinho, mesmo com medo de que os desenhos ficassem pela metade no final.
_ Vovô? O que você está fazendo aqui? - perguntou Augusto ao chegar na oficina.
_ Estou lixando levemente e com muito cuidado essas partes com chiado dos
livros, para que chegue na parte branca do papel, para que a pintura de vocês seja
possível.
Ágata e Augusto ficaram um pouco mais aliviados em saber que o vovô estava
ajudando, mas ainda estavam um pouco preocupados. Vovô Zaqueu já tinha lixado alguns
livros e seus netinhos começaram os desenhos por estes livros que já estavam
preparados para receber as tintas.
Eles logo estavam pintando e até mesmo se distraindo com aquela tarefa. Até que
de repente, sem querer, Augusto mergulhou a ponta de seu pincel, que estava ainda com
tinta vermelha, antes de lavá-lo, na vasilhinha com um pouco de tinta azul, e quando
percebeu tirou o pincel dali, assustado, pois mesmo não sabendo por quê, ele queria
obedecer a vovó que disse que eles deveriam retirar toda a tinda do pincel num copinho
com água antes de trocar de cor.
Porém, quando ele olhou para a ponta do pincel, percebeu que a tinta estava se
transformando na cor roxa! E ele começou a mostrar para todos, feliz com o que ele
acabava de descobrir! Então a vovó que já sabia que era possível tal façanha, disse para
as crianças:
_ Parabéns pelo empenho de vocês! E a vovó sabia que encontrariam a solução
para os problemas! O que vocês têm que fazer agora, é misturar todas as cores
possíveis. - disse a vovó, já indo providenciar mais vasilhinhas para que eles pudessem
fazer todas as experiências possíveis com aquelas tintas.
Misturando o azul com o branco, conseguiram o azul do céu para pintar todos os
livros do vovô, de histórias que mostravam o imenso azul por entre as nuvens
branquinhas. E assim foram eles, misturando, salvando novas cores, e cumprindo a tarefa
para deixar o vovô novamente feliz.
E, como recompensa, o vovô Zaqueu fez uma linda televisão de madeira com
abertura em baixo, para que seus netinhos pudessem brincar de sua brincadeira favorita
sempre. Com aquela nova e linda televisão, eles sempre se lembrariam daquele dia e a
televisãozinha sempre estaria pronta para a diversão. E vovô Zaqueu e vovó Esmeralda,
só lhes impuseram uma condição:
_ Quem começa somos nós!
E assim, os quatro puderam brincar juntos e as crianças se divertiram muito com o
vovô e a vovó encenando aqueles filmes antigos de que os avós gostavam. Mais tarde, o
pai e a mãe das crianças, chegaram para buscá-los e também tiveram que participar da
brincadeira. E a partir desse dia, Ágata e Augusto estudaram mais, e só assistiam
televisão depois que obedeciam seus pais e seus avós, em tudo.
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