João Edesio (Jhon)

João Edesio (Jhon)

Sou mestre em literatura.

1979-10-30 Goiânia
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HOMEM DO SERTÃO OU SERTÃO DO HOMEM

HOMEM DO SERTÃO OU SERTÃO DO HOMEM


Por Prof. Me. João Edesio de Oliveira Junior.
 
            No lugar onde o vento nasce e dissemina para todo Brasil, aonde a produção da riqueza baiana vem dos elementos natural, vento, estou eu aqui no meio. Olho para um lado vejo apenas uma vegetação seca e aparentemente sem vida, olho para outro lado, vejo meninos correndo no meio da rua do vilarejo que mais parece com um rosário com vinte e oito casas, porém com apenas dezesseis família morando.
            Para qualquer pessoa da cidade grande ao olhar esse vilarejo, pensa que ele é igual a uma vegetação nordestina, e de fato o é. Suas ruas cheias de cabeça-de-touro, que obriga usar não uma sandália da moda, mas uma resistente usada no sertão, poeira que dá o charme quando o vento que vem do norte se encontra com o que vem do sul bem no meio desse rosário, formando assim um grande redemoinho, tormento das mulheres, mas alegria para as crianças.
            O sol, companheiro inseparável do sertanejo, vasculha cada parte dessa terra parecendo que está à procura de um tesouro escondido, algo que está abaixo da terra ao ponto de abrir fendas sobre o solo a procura dessa preciosidade. Tão egoísta que não deixa chuva penetrar no solo para gerar a vida necessária para o povo. Chuva que quando aparece, os moradores fazem sala e se alegram com a sua chegada, outros a tenta imitar, deixando cair águas pelos olhos. Mas nessa luta, o sol sempre ganha maior tempo entre seus habitantes, tentando sugar até a própria vida do sertanejo, roubando-lhe dia a dia um pouco mais de sua cor, suor o e ânimo.  Nessa luta entre os companheiros não sei quem é o mais resistente se o sol ou o sertanejo.
            Na luta entre gigantes, vence quem for mais resistente e quem tem raiz fincada de maneira mais profunda. O sol como conhecemos, é covarde e traiçoeiro, não aguenta um dia de luta com o sertanejo, ao ponto de se esconder por medo desse homem. Tenta aparecer antes de o sertanejo acordar, mas se engana, pois esse homem já está em pé com o facão na mão e botinas nos pés para encará-lo. Mas precisamos concordar, ele tem resiliência, todos os dias tem hora marcada para se encontrar com seu guerreiro. Já o homem bruto do sertão, acorda antes do sol nascer para se preparar para a luta. Assim que acorda, coloca sua calça surrada pelo uso diário, a camisa, com a as marcas da luta contra o sol, a botina descangotada pelo uso incessante nos caminhos de ida e volta de pastar as cabras. Coloca um prato de cuscuz na mesa, frita dois ovos, não ovos brancos de granja, mas das galinhas que vivem soltas em seu quintal, coloca uma golada de café quente, uma manteiga ao lado, feita ali mesmo com a nata que saiu do leite que toma diariamente da única vaca que resiste com ele nessa luta.
            Após todo preparativo para a luta diária, tanto do sol quanto do sertanejo, eles se encontram no meio da caatinga para travar essa luta. Luta que não duram apenas dias, meses e anos, mas décadas. O sol tenta expulsar o homem desse lugar com interesse desconhecido, mas o homem desconfia que nessa terra tenha algo de muito bom para o sol ser tão intenso. E o sol é ardiloso  tira tudo do homem, a água e por consequência a boa produção. Quando se pensa que o sertanejo perdeu a lavoura de milha por não ter chuva, ele retira as espigas murchas e seus grãos para dar a galinha e a palha para servir de ração para os animais. A cada dia há a vitória do sertanejo, pois o sol depois de um dia de luta, se esconde para recuperar força. Porém o sertanejo fica ali até ele desaparecer no horizonte, vendo seu rasto pelo chão. Mas de tanto lutar o sertanejo não desiste de sua terra, algo que parece feitiço. Não tem como tirar o sertanejo do sertão, pois o sertão é ele. Mas o sol luta, luta até chegar o dia em que ao nascer não encontra na caatinga o seu guerreiro diário, então sai a procura-lo e o acha num caixão feito de mandacaru, pronto para sair do ringue de luta. Logo o sol pensa que venceu a batalha, “menos um na terra do sertão”, mas no fim do dia, ele se revolta, pois o sertanejo perdeu a vida, mas não sairá de sua terra, agora sua luta transformou em descanso, agora ele viverá embrulhado pela terra que tanto ama.
            E é com esse tipo de gente que me envolvi nesse período de isolamento social, homem bruto, não no sentido de violência, mas de resistência. Homem dos avessos que não tem medo da vida, homem cabra-macho que não tem frescura nem vontade moderna, pois a vida lhe ensinou o que é mais importante para a sobrevivência. Homem que é tão forte que cria sua própria língua para se comunicarem. Língua que é forjada na percepção da realidade local, sem se importar com o resto dos falantes da língua materna, que o desamparou. Língua padrão inexistente, pois esse percebe que o próprio homem não segue um padrão, mas é todo torto e dos avessos. Por isso cria sua própria maneira de falar não apenas com os homens, mas também com os animais através de grunhidos parecidos com as dos pássaros nativos. São tão nativos que querem assemelhar com a fauna e flora de seu habitat natural.
            Passo a partir de agora, caro leitor, a narrar nossa busca pela cabra. Seria desonesto de minha parte narrar direto nossas expedições antes de mostrar quem eram meus companheiros de busca. Agora creio que você compreenderá melhor essa narrativa.
            Algo me impede de narrar à busca, acho que falta falar um pouco mais do homem do sertão, mas minha vontade é grande em querer expor logo minha experiência nessa busca. Vamos fazer um trato, no meio da narrativa, posso parar e falar um pouco do sertanejo, mas depois retomarei a narrativa. Tá certo?
            Não quero usar os nomes dos sertanejos que me levaram nessa busca pela cabra, eles são pessoas muito discretas e quero também agir assim para com eles, mas para que você não se perca nos diálogos, lhes darei um nome bem característico de sua própria região.
Agora sim, a primeira busca.
 
 

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thales_pietro
Muito bom, entendi que mesmo lutando tanto e perdendo o homem não desistia na luta contra o sol, que então vai descansar
22/fevereiro/2021
magno
muito bom, eu entendi que o homem estava lutando contra o sol como se fosse com outro homem , mas na verdade estava lutando contra a fome, contra as secas e contra a sede
18/fevereiro/2021

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