Espelho e Esponja
O espelho me olha em silêncio.
Ele reflete meu cansaço
com a frieza exata
de quem entende sem tocar.
Não julga, não consola —
apenas devolve o que sou,
como se dissesse:
“Eu também já fui rachado.”
A esponja, ao lado, chora comigo.
Sente o sal das lágrimas
e se encharca de tudo o que escorre.
Carrega o peso da água,
mas nunca o brilho da cura.
Ela me ama no exagero
de quem se desfaz para aliviar o outro.
Entre eles, eu existo:
refletida e absorvida,
entre o frio e o afeto,
entre o que devolve e o que guarda.
Talvez por isso eu escreva —
para que o espelho me veja inteira
e a esponja aprenda
que amor também é não se afogar.
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