SEREMOS UM ? (PARTE 3)

O que é que estou fazendo aqui?

Imediatamente uma sensação de clareza, pareceu abocanhar aquela pergunta.
Clareza... Sem limites.
Tão imensa quanto a liberdade.
O inicio de pânico, dissolveu por completo a resposta, como... Tudo. Clareza é luz sem padrão.
A lógica, ganhava consistência. A lógica, conformava as crenças. Sentiu uma espécie de elasticidade em recolhimento. Sensação de apreensão e encolhimento. Sentia ela no momento. Agora!

Em seu próprio universo... Algo nascido... Morreria. Findaria em um átmo de tempo...Uma reação... Um movimento.

O tal Agora! Se escapulindo dela, seguindo rumo a uma conclusão... Algo passado, concluído como ponto final.

Há final quando há, repouso. Quem movimenta o fazer? Ela sentia que sabia!

Uma possibilidade causativa, repousava!

Dentro dela, sentia que tinha que escolher fazer algo. Fazer o quê?Mesmo que ainda incerta... Mal Informada.

O agora, findo... passara a bola da vez, para ela!

Que fazer?
Sim, era apenas um sonho, diferente - Teve consciência disso.
A tranquilidade pareceu querer reinar... Vinha do arraigado conceituar, in memoria dos passados como apenas lembranças.
Então, um novo pensamento lhe ocorreu. Não é um sonho, qualquer. É... Sonho real! Sei. Sei... Que estou aqui e viva!
- Mas se estou sonhando...
Encontrou sem esforço, no bau de suas memórias, uma resposta explicativa para a situação presente.

Sabia... Que já lera em livros, aquele tipo de experiência...

Estava em plena viagem astral.
Muitas vezes ao deitar-se, depois de rezar e meditar algum tempo, ficava imaginando... Querendo. Que ao dormir, acordasse da noite. E ela, sairia em uma viagem astral.

Como ela sabia... Sabia que... Que isso era bem possível, de estar acontecendo agora.
Lena, assistira inúmeras vezes o filme da atriz Shirley MacLaine. Que descrevia seu adentrar no mundo espiritual, e sua busca de grandes respostas. Numa das cenas, Shirley sai de seu corpo físico e conhece o universo, tal qual astronauta sem nave a guiar-se pelos pensares e perguntares.
Lembrou-se da cena em que Shirley, vagava sozinha.
E sentiu, mais um friozinho de medo.
Entrou num pequeno conflito... E tentando acalmar-se, criava suas próprias respostas. Justificando com sua razão os motivos e a confusão. Tinha motivos de sobra, para estar e sentir-se com medo e com insegurança. Justificava-se divagando, murmurando seu dialogo... Monologado.

Chico Xavier tinha um anjo sempre com ele. Um tal de Emanuel...

Antes que o desconforto tomasse vulto...

Onde estaria o meu?

Sempre sonhara com a tal viagem do tipo Shirley, mas nem de longe pediu em oração, para sair em viagem, sozinha. E justificava, tentando explicar e convencer-se de que havia uma falha. Buscava ela, a resposta para o fato muito vívido e... Inexplicável. Ela não desistia.
Chico e Emanuel, estavam sempre juntos. Dormindo ou acordado, Chico Xavier, estava sempre escudado por seu fiel anjo!
Certo é que, o filme provocou lhe uma certa gotinha de compreensão...
E com sua habilidade e capacidade imaginativa, buscava melhorar e esclarecer o que de fato... Pedira. Alguém entendera mal, os seus pedidos orados.
Relembrava-se. Puxava pela memória as palavras usadas, tal como pedira em muitas das noites, aquele tipo de aventura. Conversa dela, com ela.
Deus... Que o meu anjo da guarda, venha esta noite me buscar, para um fantástico passeio com meu corpo astral.

E quando essa noite chegasse e ele aparecesse, pensava ela em pedir-lhe, que a levasse a voar pelos céus da, Índia.

Sentia que queria muito entrar no castelo Taj Mahal e meditar ali.

Queria ir também ao Ashram do Osho. E se possível, fazer-lhe uma única perguntinha. Ao escutá-lo respondendo-lhe a pequenina pergunta, ela se iluminaria.

Via-se agradecendo, mãos unidas em sinal de Namastê. Dois iluminados... Entre si ligados, a sorrir com o coração. Se separavam, como duas unidades com aparências, distintas.

Mas...
Ela se dava conta agora, que esta experiência quase palpável, não vinha do mundo dos sonhos planejados com tanto esmero e desejo.

Estava realmente acontecendo com ela algo. E ela sabia... Que não sabia... Nada sobre isso, fora quisá descrito! Não. Não era um simples sonho.

Via que, não havia cordão de prata coisa alguma...

E nem coisa alguma, visível.
Era um sonho nunca sequer imaginado por ela. Era algo bem vivo, bem real!
Lena estava pela primeira vez, consciente de sua “Expansão”. Como chama de uma vela que envolve todo o pavio.

Lena, saíra do centro, sem abandona-lo a deriva. Do pavio se fez pavio. E uma luz ascendeu, expandiu-se e envolveu o que antes era apenas breu.
Saíra de seu corpo, de sua mente lógica e não conseguia ver sem o uso dos olhos carnais.

Já... A mente, pouco a pouco ela sentia, ir ganhando um crescente, porém tímido controle.
Olhou no entorno, tentando se situar e nada viu. Nem sabia onde era o entorno. Percebeu que mesmo não vendo o entorno...

Sabia que lembrava... A sensação de olhar em torno. O corpo parecia buscar o que ver... O que sentir. O corpo tinha... Ela sentia, mas não conseguia descrever.

O corpo erriçava uma espécie de bilhões de olhos. Era sabia ela dentro dela... Era uma questão de dominar o Zoom.

Olhe em torno, Lena.

Pensava-se ela. Mesmo sabendo que não sabia onde começava ou terminava.

Perguntou-se então...


Onde sinto que sou mais eu?

Nada...

Onde sinto que sou... Sendo eu, eu mesma? Não era coisa fácil de se compreender, muito menos fazer ou controlar.

Mas, Lena sabia que! Tinha que fazer algo! Intuía que esse era o caminho para ver. Querer... Querer muito ver.

Ver-se vendo-se a ver.

Seja o que fosse esse querer ver...
Viu seu corpo deitado na cama.
Nossa! Estou ali, dormindo.
Isto é... Meu corpo está dormindo.
Não teve medo... Sentiu-se instigada a querer ver mais um pouco.
Olha ele ali. Eu me lembro disso...
E viu seu livro. Estava ali ao lado da cama. Viu a cama, o livro e até a toalhinha sob o livro. Viu a pequena mesinha, muito antiga, que ela mesma havia restaurado. Viu. Viu tudo... Ou quase tudo.

Então, já mais centrada, sentindo certo auto controle. Lembra-se...

Está faltando o tal anjo da Guarda.
Perguntou-se a si mesma ainda que timidamente, pois sussurrava em em seus pensamentos.
- Ei... Anjo da guarda! Onde você está?

Nada aconteceu.
- Ei...Senhor anjo, me escuta. Se a noite da minha viagem astral, é hoje, onde o Senhor, Senhor Anjo, está?

E nada...

- Eu acho que fui muito clara nas orações. Queria ir... Mas com meu anjo! Será que... Será que eu cheguei primeiro? E arrematou pensando...

-Nunca vi um anjo,se atrasar!

Ouviu então uma resposta. De um jeito diferente, assim como uma intuição que se escuta

- Nem nunca viste um anjo, ora pois!

Sentiu um estremecimento. Muito diferente de um simples friozinho na barriga. Era algo imenso, do tipo que arrepia os pelos, mas... Lena, não se intimidou. Estava disposta a enfrentar esse tremendo, momento desconhecido, pensou...
- Então... Isso significa que, Anjo não tem forma?
- E nem mesmo atrasa, repito-lhe. Ora pois!
- Como assim?
- Prestes bem atenção, anjo da guarda não se atrasa, porque está sempre presente! Compreendeste agora?
- Ah! E faz sentido... Mas anjo tem forma ou adquire uma? Pergunto porque não compreendo totalmente. Pensa comigo...

Vos, do além...

Parou sua fala pensada bruscamente.

Sentia-se confusa, pois estava em duvida se seria compreendida.
Continuou então.

Vos, do além, que tem voz. E que a tua voz, eu escuto bem...
Já ia entrar no mais confuso, quando a voz, interrompeu-a
- Senhora Lena, perdoe-me interrompe-la, mas eu, tenho a forma que sempre tive... Desde sempre sou assim.

Sempre fostes desta maneira... ?

Valha-me Deus!!! Havia ironia no pensamento. Seu pensar tinha um leve sotaque português.

Quero ver sua cara de anjo. Me entendes, ou cousa que o valha?

- Fique calma... Serena. Estou aqui, junto a ti minha Senhora.
-Aqui onde?– Vós, que é só uma voz. Pensas que não sei que tens um sotaque de português! Mas onde, de onde sai este sotaque?Essa voz tem ao menos uma boca? Onde... Onde?

Não vejo nada de você, além de... Algumas outras partes.
-Se me permites, Senhora Lena. Que partes de algumas partes a Senhora vê? Explico-lhe minha pergunta. Estamos certamente com nossas linhas de comunicação atrapalhadas. Diga-me lá, Senhora Lena, explique-me melhor. Se vês algumas partes, então me vês em partes. Pois estou, em toda e qualquer parte.

Com uma ligeira irritação, que revelava o seu pavio curto, completou, sem hesitação e sendo muito incisiva.
- Escolha uma parte desse todo lugar... Uma entre todas. Uma e a particularize! Quero ver você, voz do além.

Materialize-se... Ou pouse na minha frente.
- Senhora és de fato, muito inteligente, saabes?
- Sei! Mas apesar disso não consigo vê-lo. Então, de que me adianta ser inteligente? Preciso saltar para o nível de vidente. E isto é bem evidente. Não acha?
- Tu és muito perspicaz! Tem muita lógica, o que me pedes. Estás a ouvir-me, mas não podes me ver.
- Que bom que me compreendeu. Gosto de clareza nas conversa. Apareça vós do além, pois gosto como disse de transparência.
- Já estou transparente, Senhora. Mais do que isso, impossível.

Lena... pensa até 10, sem pressa.
- Transparente é transparente, claro... Entendi. Estamos com problemas de comunicação mesmo, concordo voz portuguesa. Melhor dizendo... Seja então, menos transparente e mais aparente. Compreendeu?
- Pois é claro que sim, Senhora Lena. Compreendi-a desde o princípio. Mas confesso que, ficou muito melhor o enunciado. Não achas?

- Sim, concordo.

- Pois então. Pudeste notar que a escolhas das palavras, são deverás importantes. Transparente e aparente...
Lena não esperou a voz,completar a frase.
- Onde você está? Quero imediatamente vê-lo. Não gosto de falar sozinha...
- Não falas só. Pois, estás a falar comigo, Senhora Lena.
- Estás pois sim, oh voz, de portuga e duma figa, a torturar-me as ideias, isso sim.

Mesmo um anjo tem que ter uma forma... No meu entendimento, é claro.

Assisti semana passada, o filme do Anjo Micael, com o Travolta. Anjo tem forma e asa, se não...
- Estás a assistir muitos filmes, Senhora Lena. Estás, fascinada eu diria. E é com todo respeito, que vos digo isso.
- Por favor, me entenda bem, vos que sois, voz do além. Tem que ter uma forma. Que seja a forma de um santinho. Do tipo Santo Expedito.

Senão... Senão, não é anjo, guru e muito menos Santo. Falo com quem? Pois, ora pois, isso está começando a não me cheirar muito bem.

- Permita-me interrompe-la. Já viste então Senhora Lena, o seu nariz? Pois diz-me que algo começa a lhe cheirar não muito bem... Sente-se resfriada, Senhora? Ou seria apenas um chiste, de nossa comunicação em língua portuguesa?

Lhe parecendo coisa do... Do, Tinhoso! A indescritível cena. Lena era só uma coisa... Duvida! Um grande ponto de interrogação.

-Eu, tenho certeza. Eu, não tô louca, não!

Enorme silêncio...

- Ou estou? Alguém por favor, me da um beliscão! Deus, meu !!!


- Ah, achaste o corpo então? Onde queres Senhora, levar o tal belisco? No braço ou no rosto?

teka barreto (2008)

(fim da parte 3)

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