Darlan de Matos Cunha

Darlan de Matos Cunha
Darlan M Cunha publicou os livros Umma (romance, Editora Virtual Books - Pará de Minas, MG), Esboços e Reveses: o silêncio (poesia, Editora CBJE - RJ), O ar em seu estado natural - Textos sobre letras do Clube da Esquina (Editora CBJE - RJ). Entende-se com um instrumento musical, tenta aprender entradas e bandeiras, preparando-se para encontros e despedidas, apreende algo mais da sociologia e da psicologia dos fatos cotidianos.
Nasceu a 22 Novembro 1951 (Medina, MG)
Comentários
Gostos

Estufas



@1.

Sem delonga, aviso ou pedido, entrou aqui um tipo estranho: retilíneo, pálido e magro, notei sua mão esquerda paralisada devido talvez a tendões seccionados, algo assim, suas feições diziam que passara por situações adversas. Entrou, de pé ficou, abriu os papéis sebentos que carregava consigo e, algo tenso, começou a ler, pareceu-me que de modo aleatório: "y pues no ha criado el cielo ni visto el infierno ninguno que me espante ni acobarde..."*

@2.

É mesmo assim a juventude em seu fervor em Buenos Aires, em seus protestos nos EUA, na Índia, na Palestina, nas profundas dos infernos, ela é mesmo assim, ciente de sua apostasia, ciente também de sua impotência, devassando os ouvidos dos senhorios, abre portas e janelas de ruas, becos, avenidas e alamedas, enfim, a decepção traz o furor, e não há nada mais paralisante, triste, do que uma infância já mostrando o que será/terá/fará na juventude.

@3.

Uma canção cubana diz "vivo en un país libre / cual solamente puede ser libre*


*****

*: Miguel de Cervantes. Don Quijote, cap. XLVI, p. 414 (ano 1605)
*: Alusão a Jorge Luis Borges. Fervor de Buenos Aires (ano 1923)
* Sílvio Rodríguez. Pequeña Serenata Diurna