@1.
Sem delonga, aviso ou pedido, entrou aqui um tipo estranho: retilíneo, pálido e magro, notei sua mão esquerda paralisada devido talvez a tendões seccionados, algo assim, suas feições diziam que passara por situações adversas. Entrou, de pé ficou, abriu os papéis sebentos que carregava consigo e, algo tenso, começou a ler, pareceu-me que de modo aleatório: "y pues no ha criado el cielo ni visto el infierno ninguno que me espante ni acobarde..."*
@2.
É mesmo assim a juventude em seu fervor em Buenos Aires, em seus protestos nos EUA, na Índia, na Palestina, nas profundas dos infernos, ela é mesmo assim, ciente de sua apostasia, ciente também de sua impotência, devassando os ouvidos dos senhorios, abre portas e janelas de ruas, becos, avenidas e alamedas, enfim, a decepção traz o furor, e não há nada mais paralisante, triste, do que uma infância já mostrando o que será/terá/fará na juventude.
@3.
Uma canção cubana diz "vivo en un país libre / cual solamente puede ser libre*
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*: Miguel de Cervantes. Don Quijote, cap. XLVI, p. 414 (ano 1605)
*: Alusão a Jorge Luis Borges. Fervor de Buenos Aires (ano 1923)
* Sílvio Rodríguez. Pequeña Serenata Diurna