Nathanael

Nathanael

Apenas mais um amante caloroso da dúvida.

1996-10-26
3181
2
16


Alguns Poemas

O Conto de Madalene

Dentro da casinha de madeira vê-se claramente as plantas entrando pelas frestas subindo até o telhado, enquanto as florzinhas de girassol desabrocham no pequeno e velho sofá. No pé da mesa era possível ver as flores enroladas em seu encalço. E os antigos armários envoltos de gardênias. O cheiro do café exala como o perfume de uma querida avó, e os orvalhos ao lado acompanham o envelhecimento da casinha de madeira. É rotineiro olhar-se diante do espelho pela manhã e perceber seu rosto envelhecendo acompanhado de uma solidão da qual não envelhece e muito menos faz parte de uma juventude. Após a caminhada matinal costumeira em busca de lenha, o velhinho aproxima-se de sua pequena casa no campo e encontra uma jovem mulher. Ele, pondo em ordem seu surrado suspensório e seu chapéu metricamente calculado em sua cabeça após dar uma olhadinha para cima, pergunta a jovem mulher:
- O que fazes por aqui? Não quero visitas de ninguém, pode se retirar, agora!
- Desculpe. - Ela respondeu assustada - Sou fotógrafa e estou de viagem para fazer alguns registros... Achei muito bonita a sua casa, percebe-se as plantas e flores tomando conta...
- Não me interessa nem um pouco! Muito menos o que tu fazes da vida! VAI EMBORA DAQUI, DEIXE-ME PAZ!
A garota assustada, decidiu ir embora. Mas a verdade é que ela se sentira extremamente atraída pela simples casa com suas flores e plantas dominando-a, criando formas e vida sobre as velhas madeiras que compunham a casinha. A garota que fora mandada embora, interessada sobre porque o velhinho morava lá sozinho e também interessada em tirar fotos da casa pela qual ficou maravilhada, decidiu voltar até lá todos os dias no mesmo horário e sempre, era mandada embora com o mesmo tom grosseiro do velhinho. Contudo, ela não desistiu até que o velhinho cedeu e a convidou para entrar para oferecer-lhe um café.
Ao entrar na casa, a moça ficou em um grande deslumbre, em um estado de embevecimento em como aquela simples casinha era linda por dentro, pequena e rústica com flores e plantas enrolando-se pela pequena casa. Ela extasiada, sentou-se lentamente no sofá cercada por pequenos girassóis, e inspirava e expirava com prazer o cheiro daquelas flores. O velhinho preparou o café e após servi-la fez um sincero pedido de desculpas:
- Peço-te desculpas, minha jovem. Vivo aqui sozinho há trinta anos e tu és a primeira pessoa em que entro em contato durante todo esse tempo. - Ele deu uma coçadinha na grande e grisalha barba - Digo com toda a certeza, eu perdi a sensibilidade em como falar com as pessoas e admito que senti medo, medo até mesmo de aproximar-me mais de ti.
Após beber um pouco do café a moça levantou-se e começou a reparar nos mínimos detalhes da rústica casinha, virou-se e disse:
- Estou acampando aqui perto e estava explorando a área... O senhor se importaria se caso eu fotografasse sua casa? Ela é linda...
Em uma imediata resposta:
- Acredito que Madalene não se importaria...perguntarei a ela antes.
Em voz alta, o velhinho perguntou olhando para o teto se Madalene se importaria com as fotos que iriam ser tiradas pela jovem.
- Madalene não vai se importar. - Disse o velhinho  
Após uma expressão facial de estranhamento da jovem, ela capturou algumas fotos com grande maestria.
Todas as manhãs, a jovem voltava para conversar com o velhinho em sua rústica casinha, sempre admirada com as flores que habitavam por toda a casa. Até que uma certa manhã, a jovem perguntou curiosa:
- Gostaria de lhe perguntar algo...
O senhor parou o que estava fazendo e olhou-a de costas por cima do ombro
- Quem é Madalene? Venho aqui todos os dias e não encontro mais ninguém além do senhor.
O velhinho respirou fundo e disse:
- Madalene era minha esposa.
- O que aconteceu? - A jovem perguntou. 
- Madalene morreu em um acidente de carro, há trinta anos. Desde então, eu vivo aqui. Madalene amava as flores, as plantas, a natureza. Amava a simplicidade.
O velhinho gritou em voz alta, olhando para o teto:
- Madalene, aceita uma xícara de café? - E o velhinho sorriu com fulgor. 
- Todos os dias nesse horário, eu sirvo uma xícara de café para Madelene, deixando-a aqui em cima, na mesa. - Disse o velhinho.
Escorrendo lágrimas do rosto da moça ela caminha até a porta da casa. O velhinho se aproxima da moça e toca em seu ombro:
- Se importaria em tirar uma foto minha ao lado da minha esposa? Pode ser aqui mesmo, encostado na casa, ao lado dos orvalhos.
A jovem entregou a foto de sua Polaroid ao velhinho, e deu-lhe um abraço caloroso em uma calorosa despedida. E lá se foi o velhinho, em mais uma caminhada matinal, em busca de lenhas, para manter o coração de Madelene aquecido.
Sílvia
Está muito bom o teu conto, Nathanael! Siga no caminho, pois tens sensibilidade para isso. Beijo
17/agosto/2019
-
ocoiel
lindíssimos e profundos versos brancos. dahora demais!
13/janeiro/2019

Quem Gosta

Seguidores