Cruz e Sousa

Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa foi um poeta brasileiro. Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi um dos precursores do simbolismo no Brasil.

1861-11-24 Desterro, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
1898-03-19 Sítio, Brasil
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Prémios e Movimentos

Simbolismo

Alguns Poemas

Monja Negra

É teu esse espaço, é teu todo o Infinito,
transcendente Visão das lágrimas nascida,
bendito o teu sentir, para sempre bendito
todo o teu divagar na Esfera indefinida!

Através de teu luto as estrelas meditam
maravilhosamente e vaporosamente;
como olhos celestiais dos Arcanjos nos fitam
lá do fundo negror do teu luto plangente.

Almas sem rumo já, corações sem destino
vão em busca de ti, por vastidões incertas...
E no teu sonho astral, mago e luciferino,
encontram para o amor grandes portas abertas.

(...)

Ó Monja soluçante! Ó Monja soluçante,
Ó Monja do Perdão, da paz e da clemência,
leva para bem longe este Desejo errante,
desta febre letal toda secreta essência.

(...)

Ah! Noite original, noite desconsolada,
Monja da solidão, espiritual e augusta,
onde fica o teu reino, a região vedada,
a região secreta, a região vetusta?!

Almas dos que não têm o Refúgio supremo
de altas contemplações, dos mais altos mistérios,
vinde sentir da Noite o Isolamento extremo,
os fluidos imortais, angelicais, etéreos.

Vinde ver como são mais castos e mais belos,
mais puros que os do dia os noturnos vapores:
por toda a parte no ar levantam-se castelos
e nos parques do céu há quermesses de amores.

(...)

Ó grande Monja negra e transfiguradora,
magia sem igual do páramos eternos,
quem assim te criou, selvagem Sonhadora,
da carícia de céus e do negror d'infernos?

Quem auréolas te deu assim miraculosas
e todo o estranho assombro e todo o estranho medo,
quem pôs na tua treva ondulações nervosas,
e mudez e silêncio e sombras e segredo?

Mas ah! quanto consolo andar errando, errando,
perdido no teu Bem, perdido nos teus braços,
nos noivados da Morte andar além sonhando,
na unção sacramental dos teus negros Espaços!

(...)

Faz descer sobre mim os brandos véus da calma,
sinfonia da Dor, ó Sinfonia muda,
voz de todo o meu Sonho, ó noiva da minh'alma,
fantasma inspirador das Religiões de Buda.

Ó negra Monja triste, ó grande Soberana,
tentadora Visão que me seduzes tanto,
abençoa meu ser no teu doce Nirvana,
no teu Sepulcro ideal de desolado encanto!

Hóstia negra e feral da comunhão dos mortos,
noite criadora, mãe dos gnomos, dos vampiros,
passageira senil dos encantados portos,
ó cego sem bordão da torre dos suspiros...

Abençoa meu ser, unge-o dos óleos castos,
enche-o de turbilhões de sonâmbulas aves,
para eu me difundir nos teus Sacrários vastos,
para me consolar com os teus Silêncios graves.

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Publicado no livro Faróis (1900).

In: SOUSA, Cruz e. Poesia completa. Introd. Maria Helena Camargo Régis. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 198

Pressago

Nas águas daquele lago
Dormita a sombra de Iago...

Um véu de luar funéreo
Cobre tudo de mistério...

Há um lívido abandono
Do luar no estranho sono.

Transfiguração enorme
Encobre o luar que dorme...

Dá meia-noite na ermida,
Como o último ai de uma vida.

São badaladas nevoentas,
Sonolentas, sonolentas...

Do céu no estrelado luxo
Passa o fantasma de um bruxo.

No mar tenebroso e tetro
Vaga de um náufrago o espectro.

Como fantásticos signos,
Erram demônios malignos.

Na brancura das ossadas
Gemem as almas penadas.

Lobisomens, feiticeiras
Gargalham no luar das eiras.

Os vultos dos enforcados
Uivam nos ventos irados.

Os sinos das torres frias
Soluçam hipocondrias.

Luxúrias de virgens mortas
Das tumbas rasgam as portas.

Andam torvos pesadelos
Arrepiando os cabelos.

Coalha nos lodos abjetos
O sangue roxo dos fetos.

Há rios maus, amarelos
De presságio de flagelos.

Das vesgas concupiscências
Saem vis fosforescências.

Os remorsos contorcidos
Mordem os ares pungidos.

A alma cobarde de Judas
Recebe expressões cornudas.

Negras aves de rapina
Mostram a garra assassina.

Sob o céu que nos oprime
Languescem formas de crime.

Com os mais sinistros furores,
Saem gemidos das flores.

Caveiras! Que horror medonho!
Parecem visões de um sonho!

A morte com Sancho Pança,
Grotesca e trágica dança.

E como um símbolo eterno,
Ritmos dos Ritmos do inferno.

No lago morto, ondulando,
Dentre o luar noctivagando,

O corvo hediondo crocita
Da sombra d’Iago maldita!


Publicado no livro Faróis (1900).

In: SOUSA, Cruz e. Poesia completa. Introd. Maria Helena Camargo Régis. Florianópolis: Fundação Catarinenses de Cultura, 1985. p.73-75
Cruz e Sousa (Desterro [Florianópolis] SC 1861 - Sítio MG 1898) era filho de escravos alforriados e foi criado pelo Marechal-de-Campo Guilherme Xavier de Sousa, que cedeu-lhe o sobrenome e tutelou sua educação até a adolescência. Em 1881, o poeta fundou o Colombo, periódico crítico e literário, em Florianópolis. Nos anos seguintes, foi colaborador do jornal Tribuna Popular (republicano e abolicionista) e redator do jornal O Moleque. Publicou, em co-autoria com Virgílio Várzea, o livro Tropos e Fantasias. Em 1890 formou, no Rio de Janeiro, o primeiro grupo simbolista brasileiro, com B. Lopes e Oscar Rosas. Trabalhou como redator do jornal Cidade do Rio e colaborou nos periódicos Folha Popular, Novidades e Revista Ilustrada. Seu livro Missal e Broquéis, marco inicial do movimento simbolista no Brasil, saiu em 1893. Seguiram-se Evocações (1898) e os póstumos Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905). Sua Obra Completa foi publicada em 1961. Cruz e Souza é considerado verdadeiro fundador e principal nome da poesia simbolista no Brasil. Para Manuel Bandeira, “dos sofrimentos físicos e morais de sua vida, do seu penoso esforço de ascensão na escala social, do seu sonho místico de uma arte que seria uma 'eucarística espiritualização', do fundo indômito do seu ser de 'Emparedado' dentro da raça desprezada, tirou Cruz e Sousa os acentos patéticos que lhe garantem a perpetuidade de sua obra na literatura brasileira”.
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Para quem n entendeu, ele ta falando de, atenção - tire as crianças da sala - sexo.
16/abril/2024
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Meu poeta preferido. A musicalidade e o ambiente de sonhos de seus versos me fascinam e inspiram.
15/setembro/2021
eu
help nao entendi nada
05/abril/2021
G. Dias
Nossa, muito bom, adorei.. NOTA 2
17/novembro/2020
Maria:)
Que pena que ele morreu era muito bom em poesia
12/agosto/2020
kauan
Vim apenas estudar e acabei gostando muito..
19/maio/2020
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leyawalken
Perfeiçao!!!
15/maio/2020
niro
cala a boca cuié vai lavar a louça
28/junho/2023
Gumma
Olá amigos! Estou musicando alguns poemas do Cruz e Sousa. Para aqueles que dele gostam segue o link https://soundcloud.com/gumma87/sets/sounds-of-cruz-e-sousa
06/abril/2020
alguem
clbc mano
06/março/2020
biridin
very gu naici beibi..entendi nada tbm :)
06/março/2020
poenirbix
uauu muito legal, nao entendi nada
02/dezembro/2019

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