Lêdo Ivo

Lêdo Ivo

Lêdo Ivo foi um jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta brasileiro. Seu primeiro livro foi As Imaginações. Fez jornalismo e tradução.

1924-02-18 Maceió AL
2012-12-23 Sevilha
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Alguns Poemas

Poor Folk at the Bus Station

Poor folk travel. At the bus station
they crane their necks like geese to see
the place-names on the buses. The look on their faces
betrays their fear of losing something:
the suitcase that holds a transitor radio and a coat
of chilling drabness on a day without dreams,
the mortadella sandwich at the bottom of their bag,
and the suburban sunshine and dust beyond the viaducts.
Amid the uproar of loud-speakers and the wheezing of buses
they are seared of missing their connection
hidden in a haze of time-tables.
Some dozing on benches awaken with a start
though nightmares are the privilege of those
who fuel the hearing of bored psycho-analysts
in rooms as antiseptic as the cotton-wool that
plugs the nostrils of corpses.
Standing in queues poor folk adopt a serious expression
combining fear, impatience and submission.
How grotesque poor folk are! And how their stench
offends us even at a distance!
They have no concept of social graces and no idea
how to behave in public.
A nicotine-stained finger rubs an itching eye
that has nothing but matter to show for its dream.
From a sagging swollen breast a trickle of milk
drips into a tiny mouth familiar with tears.
On the platform poor folk come and go, leaping and clutching
baggage and parcels,
they ask silly questions at the ticket offices,
whisper mysterious words
and gaze at magazine covers with the starfled look
of someone who does not know the way to the threshold of life.
Why all this coming and going? And those gaudy clothes,
those yeflows reminiscent of palm oü that injure the delicate sight
of passengers forced to endure so many unpleasant odours
and those glaring reds one associares with a fun-fair or circus?
Poor folk do not know how to travel or dress.
Not even how to live: they have no concept of comfort
although some even possess a television set.
In truth, poor folk do not know how to die.
(They invariably have a sordid, vulgar death)
Throughout the world they are a nuisance,
unwanted travellers who occupy our seats
even when we are seated and they travel on foot.

Os Pobres na Estação Rodoviária Poema em Português

The Gate

The gate is open all day long
but at night, I myself go to close it.
I expect no nocturnal visitor
except the thief who jumps over the wall of dreams.
The night is so quiet that it makes me hear
the birth of fountains in the forests.
My bed, white as the Milky Way,
is too smau for me in the black night.
I occupy all the space in the world. My distracted hand
knocks down a star and frightens a bat.
The beating of my heart fascinares the owls
in the branches of the cedars, pondering the mystery
of day and night, born of tbe waters.
In my stonelike sleep I stay stifl and travel.
I am the wind that caresses artichokes
and rusts the harness hanging in the stable.
I am the ant that, guided by the constellations,
breathes the perfume of land and sea.
A man who dreams is everything that he isnt:
the sea that ships have damaged,
the black whistle of the train passing through trestles,
the soot that darkens the kerosene drum.
If I shut my gate before I sleep,
in dreams it opens itself.
And he who didnt come during the day,
stepping on dry, eucalyptus leaves,
comes at night and knows the way, like the dead,
who havent yet come, but know where I am,
covered by a winding sheet, like all who dream
and stir in the darkness, and shout the words
that escaped the dictionary and went to smell
the night air scented with jasmine and sweet, fermenting manure.
The undesirable visitors cross through the locked doors
and the Venetian blinds that filter the passage of the breeze,
and encircle me.
Oh, mystery of the world! No lock shuts the gate of night.
In vain at nightfall I thought to sleep
alone protected by the barbed wire that circles my fields
and by my dogs that dream with open eyes.
At night, a simple breeze destroys the walls of men.
Although my gate will be locked in the moming,
I know that someone opened it in the silence of night,
and, in the darkness, watched over my restless sleep.

O Portão Poema em Portugês

Os Pobres na Estação Rodoviária

Os pobres viajam,
Na estação rodoviária
eles alteiam os pescoços como gansos para olhar
os letreiros dos ônibus. E seus olhares
são de quem teme perder alguma coisa:
a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco
que tem a cor do frio num dia sem sonhos,
o sanduíche de mortadela no fundo da sacola,
e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos.
Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus
eles temem perder a própria viagem
escondida no névoa dos horários.
Os que dormitam nos bancos acordam assustados,
embora os pesadelos sejam um privilégio
dos que abastecem os ouvidos e o tédio dos psicanalistas
em consultórios assépticos como o algodão
que tapa o nariz dos mortos.
Nas filas os pobres assumem um ar grave
que une temor, impaciência e submissão.
Como os pobres são grotescos! E como os seus odores
nos incomodam mesmo à distância!
E não têm a noção das conveniências,
não sabem portar-se em público.
O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado
que do sonho reteve apenas a remela.
Do seio caído e túrgido um filete de leite escorre
para a pequena boca habituada ao choro.

Na plataforma eles vão o vêm, saltam e seguram
malas e embrulhos,
fazem perguntas descabidos nos guichês,
sussurram palavras misteriosas
e contemplam os capas das revistas com o ar espantado
de quem não sabe o caminho do salão da vida
Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas,
esses amarelos de azeite de dendê
que doem na vista delicada
do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos,
e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá?
Os pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se.
Tampouco sabem morar: não têm noção do conforto
embora alguns deles possuam até televisão.
Na verdade os pobres não sabem nem morrer.
(Têm quase sempre uma morte feia e deselegante.)
E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,
viajantes importunos que ocupam os nossos lugares
mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.
Lêdo Ivo (Maceió AL 1924) publicou seu primeiro livro de poesia, As Imaginações, em 1944. Na época, cursava Direito na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro RJ. Nas décadas seguintes publicou 5 romances, 14 livros de ensaios sobre literatura e traduziu poemas das obras de Guy de Maupassant, Rimbaud e Dostoiévski. Em 1957 ocorreu a publicação de seu livro de crônicas A Cidade e os Dias. Escreveu também uma novela, O Sobrinho do General, lançada em 1964. Seu livro de poesia Finisterra (1972) recebeu vários prêmios, entre os quais o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1973. Em 1982 recebeu o Prêmio Mário de Andrade, pelo conjunto de obra, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1986. Recebeu, em 1991, o Troféu Juca Pato - Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira dos Escritores. Entre suas obras poéticas estão Cântico (1949), Magias (1960), O Sinal Semafórico (1974), Crepúsculo Viril (1990) e O Rumor da Noite (2000). A poesia de Lêdo Ivo filia-se à terceira geração do Modernismo. Para o crítico Carlos Montemayor, "como todos os poetas da sua geração, Lêdo Ivo tem uma alta consciência da linguagem; porém a sua consciência é muito mais ampla, uma consciência amazônica que implica não só o seu envolvimento, mas também a sua libertação, sua erupção, suas explosões flamejantes”.
Conferência "Os Poetas" - Lêdo Ivo
Leituras - Lêdo Ivo - Bloco 1
Histórias de Acadêmicos - Lêdo Ivo - Bloco 1
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Ledo Ivo
Imagem peninsular de Lêdo Ivo » DOCTV I
Escritor Lêdo Ivo
Lêdo Ivo - Entrevista com José Luís Jobim
Mesa-redonda: Homenagem ao Acadêmico Lêdo Ivo
Entrevista - Lêdo Ivo - 05.10.2012
Lêdo Ivo: lectura de poemas a cargo del poeta brasileño
O imortal da Academia Brasileira de Letras Lêdo Ivo, teve um infarto aos 88 anos.
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NA FREQUÊNCIA 2023 - LÊDO IVO
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LÊDO IVO Última Entrevista
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Os pobres na estação rodoviária Lêdo Ivo Poetas Mayores de Iberoamérica
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Lêdo Ivo - Poema Duração | POETAS BRASILEIROS | POESIA DECLAMADA | Escritores Negros | @Euiancoski
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O Caminho Branco | Lêdo Ivo
Lêdo Ivo - A Passagem (por Chico de Assis)
GIRO CULTURAL - A TERRA DO LÊDO IVO
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30/outubro/2017

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