Era um castelo lindo e imenso (triste, mas belo), feito de areia;
À beira-mar, com vista para o pôr do sol, que encantava qualquer sereia.
Nele, o respeito dava-se pelo poder, e não pela idade;
Tanto que era normal policiais jovens falarem com civis idosos com um tom de superioridade.
Era belo, mas um ninho de maldade;
Éramos todos gigantes, mas 90% vaidade.
Vendíamos as estrelas para, com o dinheiro, comprar pilhas para as lanternas, para a nossa iluminação.
Sobrevivência individual, elogio e sucesso eram as três leis que norteavam a população.
Mas a onda o destruiu, afetando tudo o que amávamos (poder, fama, glória, riqueza),
E tudo o que usávamos (homens, animais e outras coisas da natureza).
A onda nos deu uma tareia!
— Destruiu o nosso indestrutível castelo de areia!
Lá tinha tudo o que precisávamos, embora apenas 1% das pessoas o tivessem em sua posse,
E isso era visto como desenvolvimento. — Quem dera assim fosse! (Risos)
Rio, embora não saiba se deveria, pois a onda do mar destruiu um oceano de prosperidade.
Atacou-o no amor, que era o que o castelo tinha de fragilidade.
Um só defeito (no amor), mas era 90% dos problemas que havia no castelo;
Pelo lado mais fraco (no amor), a onda destruiu o nosso indestrutível castelo.
Nada o deteve — nenhum governo, nenhuma religião, nenhuma ciência.
Uma simples onda do mar, em apenas um ano, venceu tantos anos de experiência.
Uma simples onda nos deu uma tareia!
Pois, apesar da beleza e grandeza, o castelo que parecia indestrutível não passava de um castelo de areia.
África, Angola - Luanda, 2020.