Poemas Novos

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Entre o possível e o desejável

Dou comigo sempre às voltas com o mesmo pensamento: tenho saudades tuas.
Rio do meu próprio paradoxo. Como posso sentir saudades de algo que nunca saiu do plano das ideias?
Talvez porque a ausência nem sempre se mede pelo que existiu, mas pelo que se pressentiu. 
Há encontros que se dão fora do tempo, na antecâmara do real, onde o possível se mistura com o desejado.
Nada sei sobre intuição: silenciei essa voz há muitos anos.
O meu norte é a razão.
Sinto conforto no familiar, no lógico, na confissão que facilmente posso explicar.
Na geometria das certezas, na linguagem do que é seguro.
Disse-te: algo me diz que me vais tirar da zona de conforto.
Um comentário banal, talvez um flirt sem propósito.
Mas no meu íntimo, senti o poder dessas palavras.
Não foram ditas para impressionar, muito menos para seduzir: saíram certeiras, quase impulsivas, como uma verdade que me escapou, sem controlo ou reflexão. 
Quando me pediste uma justificação, como te podia dizer que eram fruto da minha intuição? Não era sobre ti mas sobre mim: como podia justificar um comentário que desafia a minha própria razão? 
Mas quando as coisas são genuínas, carregam outra magia. É o poder categórico do sentir: a emoção que se impõe sem pedir licença, como se fosse um dever da alma para consigo mesma.
A verdade é que não te conheço. Não sei quem és: se és real ou imaginário.
Mas quando falo contigo, o mundo não é tão solitário.
Quase não consigo conter as palavras que estou a escrever, parecem automáticas.
Ganham forma intuitivamente: fluem através da minha mão como se já tivessem sido escritas algures, num tempo ou espaço que desconheço.
Não existe reflexão, é pura emoção.
Expressa sem qualquer intenção.
Nada disto faz sentido.
Desafia o meu intelecto, a minha razão,
o conforto na justificação onde os pontos se conectam e tudo faz sentido: o porto seguro, o visível e palpável.
Mas talvez o sentido não se encontre. Talvez se sinta. Como se estivesse a descobrir peças de um puzzle que nem sequer sabia que existia. 
E eu, que sempre preferi o concreto, dou por mim a desejar o intangível.
Talvez esteja apenas a tentar compreender como se pode ter saudades de algo que, no fundo, talvez tenha sempre existido em mim.
Contigo, apenas ganhou forma.

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Entre tapas e beijos

I
Teus olhos batem nos meus
Imagino tê-la em meus braços
Caminhar até o paraíso
Me prender em teus laços
Unir com amor e carinhos
Os segredos e elos.
II
Tenho medo do futuro
Pode ser que não vivamos bem
Mas entre os momentos felizes
Pode ocorrer brigas também
Eu a tratando com desaforos
E ela me tratando com desdém.
III
Para o presente o futuro é sempre futuro
Para o futuro, o presente é sempre passado
Seu jeito de “criança inocente”
Me deixaram transtornados
O meu desejo é muito forte
Tudo, porque estou apaixonado.
IV
O namoro começou
O noivado logo veio
O casamento então chegou
Sem o mínimo de rodeio
Mais o ciúme nos levou
A um grande rodeio.
V
Onde em alguns momentos
Entre beijos e carinhos
Falava docemente
Bem pertinho dos meus ouvidos.
Espero nunca esquecer,
O sabor dos teus beijinhos.
VI
Em outros momentos
Totalmente diferentes
Era áspide de tal modo
Que sentia meu coração furado por alfinetes
E fiquei a perguntar
Por que não é paciente?
VII
Como resposta me veio a igualdade
Não sou, nem fui diferente
Tratei-a com carinhos
Com um amor que igual ninguém sente
Por está bela e magnífica mulher
Que invadiu a minha mente.
VIII
Também fui grosseiro,
Dizendo barbaridades
Chamei-a de cadela smilinguida
Mulher sem qualidades
Pensando apenas em si
E nas suas vaidades
IX
Para nada disso ela deu importância
E me encheu de beijinhos
Abrandou meu coração
E falou com sussurros e cheirinhos
“vamos hoje fazer amor
Com todos os gostos e carinhos”
X
Brigamos mais uma vez
E chegamos a separação
Foi duro e muito difícil
Suportar a solidão
De viver aqui sozinho
Longe daquela que me deu a mão.
XI
Certo tempo se passou
E daquela relação nasceu
O fruto do nosso amor
A coisa mais linda que Deus nos deu
Foi ai que percebi o valor
Do mais simples beijo que ela me deu.


XII
O perdão quem pediu fui eu
Para minha felicidade ela aceitou
Que bom é saber
Que ao normal tudo voltou
Eu, ela e nosso filho
Que do nosso amor ela gerou.

Tchoroco Záfenat
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