Ai que vida apressada,
Corre tanto, nem me espera,
Vai em frente embalada,
Como caça uma fera.
E tanta coisa acontece,
Em dois minutos,
O meu corpo envelhece,
Quanto mais eu me cuido.
E o tempo jorra pelas mãos,
Vai embora pelo ralo,
Não volta nem com orações,
Cobra caro quando paro.
E agora ali na esquina
Uma mulher foi assaltada,
Lá embaixo, no outro bairro,
Uma casa foi arrombada.
E eu aqui quietinho,
Escrevendo meus poemas,
Ouço passos do vizinho,
Sempre cheio de dilemas.
Outro dia deu na televisão,
Que os preços aumentaram,
Foi culpa da inflação
Que os juros não seguraram.
E lá do outro lado
Desse mundo aflito,
Um louco armado,
Matou seis em um conflito.
E eu aqui dentro,
Escrevendo algum texto,
Revirando as palavras,
Me libertando do cabresto.
O mundo gira sem parar,
Dele agora ninguém sai,
Sou obrigado a continuar
Sem saber para onde ele vai.
E agora lá no espaço
O astronauta se perdeu,
Saiu para caminhar
E a chave esqueceu.
Deu no jornal
Que o presidente foi embora,
Cansou de ser normal,
Foi surfar em Bora-Bora.