A.Mater89

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Tânia Pereira 🐈 @tinytreasuresbyme Dollhouse miniature maker 🏠 Clay artist 🎨 Entrepreneur 💼 :: Books, history, music & writing 🤓📚🤘

1989-10-02
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Entre o possível e o desejável

Dou comigo sempre às voltas com o mesmo pensamento: tenho saudades tuas.
Rio do meu próprio paradoxo. Como posso sentir saudades de algo que nunca saiu do plano das ideias?
Talvez porque a ausência nem sempre se mede pelo que existiu, mas pelo que se pressentiu. 
Há encontros que se dão fora do tempo, na antecâmara do real, onde o possível se mistura com o desejado.
Nada sei sobre intuição: silenciei essa voz há muitos anos.
O meu norte é a razão.
Sinto conforto no familiar, no lógico, na confissão que facilmente posso explicar.
Na geometria das certezas, na linguagem do que é seguro.
Disse-te: algo me diz que me vais tirar da zona de conforto.
Um comentário banal, talvez um flirt sem propósito.
Mas no meu íntimo, senti o poder dessas palavras.
Não foram ditas para impressionar, muito menos para seduzir: saíram certeiras, quase impulsivas, como uma verdade que me escapou, sem controlo ou reflexão. 
Quando me pediste uma justificação, como te podia dizer que eram fruto da minha intuição? Não era sobre ti mas sobre mim: como podia justificar um comentário que desafia a minha própria razão? 
Mas quando as coisas são genuínas, carregam outra magia. É o poder categórico do sentir: a emoção que se impõe sem pedir licença, como se fosse um dever da alma para consigo mesma.
A verdade é que não te conheço. Não sei quem és: se és real ou imaginário.
Mas quando falo contigo, o mundo não é tão solitário.
Quase não consigo conter as palavras que estou a escrever, parecem automáticas.
Ganham forma intuitivamente: fluem através da minha mão como se já tivessem sido escritas algures, num tempo ou espaço que desconheço.
Não existe reflexão, é pura emoção.
Expressa sem qualquer intenção.
Nada disto faz sentido.
Desafia o meu intelecto, a minha razão,
o conforto na justificação onde os pontos se conectam e tudo faz sentido: o porto seguro, o visível e palpável.
Mas talvez o sentido não se encontre. Talvez se sinta. Como se estivesse a descobrir peças de um puzzle que nem sequer sabia que existia. 
E eu, que sempre preferi o concreto, dou por mim a desejar o intangível.
Talvez esteja apenas a tentar compreender como se pode ter saudades de algo que, no fundo, talvez tenha sempre existido em mim.
Contigo, apenas ganhou forma.

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