Mel de Carvalho

Mel de Carvalho

Pág. pesssoal
http://noitedemel.blogspot.com/

1961-01-23 V.F.Xira e/ou Peniche
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epístola do acordar

acordo sempre
com as pálpebras cerzidas ainda no bornal das trovoadas
em que se ocultam os morcegos da luz do vida,

acordo
com as pontas dos dedos avermelhadas
e ânsias embrulhadas em pele de cobra ou de molusco
tenro.

      pouco importa.

não sou do mar
nem d’água tão-pouco.
não sou, que saiba, sequer dalgum lugar,
e, se pó for sendo, serei fuligem incendiada de cauda d’astro
esparsa à deriva do vento.
epistolar
retorno ao umbigo de Java, ao eufemismo de ser não sendo, absoluto zero elevado ao expoente do nada,

se

entre o ontem que se foi e o dia d’amanhã,
em calcanhar de tua errática jornada
sou e serei, ermitério, teu afã, o risco mais profundo do teu verbo
e, ouso dizer, vaticinando, que, na pele esfolada ad eternum da linha dum imaginário firmamento
deste pó de estrela minguada antes do tempo, abortada luz-ferrete, a ferros, a êmbolo,
se fará júbilo ou, quiçá, assombro
de renúncia imprevidente;

reafirmo:
- acordo sempre
com harpas eléctricas no olhar e a boca a saber a pautas derrotadas de música
se de mim regurgitas nos socalcos da madrugada, raiz e folha,
nenúfar em lagos de mulher,
se em mim és singelo pente de dentes pontiagudos de platina e de marfim
que me desliza a alma em fio e fogo
e que fuzila soldadesca de chumbo na raiz de primevos medos… na candura d'inocência. de era ida.

   na hora certa,
dou corda ao relógio dos dias de hastes desmembradas,
visto o sorriso de te ser “escrava de Córdoba”
submeto-me ao sarcástico da minha própria derrota
quando, sem público, sem palmas,
subo o pano do palco
exalto a democracia, e te exulto em elixir e júbilo, no panteão profano dos deuses
e confundo o sacro e o dissoluto
se te não sei “Senhor de mim“, in pólis-reino.

… e, em passinhos (de)mente desperta, 
   ora lépidos
   ora dengosos
definho e fio a roca dos dias luminosos
em epitáfios jacobinos de mesuras, vénias, plumas e enigmas. aplaudo-te de pé!

resta-me o nimbo
o resplendor do sol d’ Inverno, e esta rouquidão d'alma enferma que muda se não cala
e, a forma dis_formada de me re_fundir carta epistolar.

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