O Cão
O cão te olha.
Não com curiosidade,
Não com julgamento
Mas com algo que atravessa o tempo,
Como se em seus olhos
Habitasse um silêncio antigo,
Sabedor de dores que nem tu nomeias.
Ele fita teu rosto com calma,
Como se ali houvesse algo sagrado,
Mesmo que tu não vejas.
Como se cada ruga, cada sombra,
Cada ausência de sorriso
Contasse uma história que ele já ouviu
Em noites longas e frias,
Deitado aos teus pés.
Ele não fala,
Mas diz tanto.
Diz que te entende.
Diz que está ali.
Diz que mesmo que o mundo te rasgue,
Ele te guarda inteiro em seu olhar.
Há pena no seu olhar,
Mas não daquelas que diminuem
É pena que acolhe,
Que abraça em silêncio,
Que lambe feridas invisíveis.
E há tristeza, sim.
Mas não por ele.
Por ti.
Por saber que tu andas cansado,
Que teu peito está pesado
De coisas que nem sabe explicar.
O cão vê.
Vê o que você esconde.
Vê o que nem você encara.
E mesmo assim permanece,
Fiel, calado, presente
Como se dissesse:
“Eu sei. E mesmo assim, eu fico.”
Carlos Henrique Rodrigues Roque
14/04/2025